quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Folha é tucana?

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Gente

MÁRIO MAGALHÃES
ombudsman@uol.com.br Folha Online

Depois de ver ontem no alto da primeira página da Folha a excepcional fotografia de um homem, uma mulher descalça e no colo dela uma guriazinha aparentemente de chupeta, eu quis saber quem era aquela gente correndo em meio às bombas lançadas pela polícia. O cenário, terra arrasada, era a favela Real Parque, onde houve reintegração de posse. Li e reli. Não soube o nome e muito menos a história deles.

Assim como não encontrei registro de que o jornal tivesse procurado o governador Serra e o prefeito Kassab para que eles se pronunciassem. Instituições da prefeitura e, especialmente, do Estado estiveram envolvidas na operação de retirada de cerca de 70 famílias que provocou congestionamento recorde na cidade.

Embora o episódio tenha ocorrido de manhã, compreendi que, às vezes, certas pautas jornalísticas passam despercebidas. Ainda que a mesma mulher e a mesma menina aparecessem em outra imagem, na capa de Cotidiano.

Esperançoso, corri hoje ao caderno, já que a primeira página estava carregada de outras notícias --quentes e relevantes.

Não é que eu não tenha achado uma reportagem a respeito daquelas três pessoas. Não identifiquei uma só nota sobre o caso.

No Estado de hoje, entre outras informações: "Os moradores disseram que duas mulheres grávidas perderam os filhos durante a ação da polícia e mais quatro moradores ficaram feridos, entre eles uma menina de 14 anos".

Perder a sensibilidade é uma das maiores desgraças que podem abater jornalismo e jornalistas.


A palavra errada 2

Idem ontem com a descrição das bombas da PM como de "efeito moral".

É um eufemismo que ignora os "efeitos físicos" da arma empregada pela polícia.

É direito das autoridades empregar o nome técnico. E é direito do jornalismo recusá-lo, em nome da clareza e da verdade.


Serra, o investidor

Seguem anotações sobre a reportagem da capa de ontem de Dinheiro, "Serra prevê investir R$ 41,5 bi até 2010", e seu complemento, "Governo Lula poderia ajudar mais, diz SP" (pág. B6 de ontem):

1) O jornal não informa qual seria a origem do montante. Regra elementar na cobertura da administração pública e de campanhas eleitorais é indagar "de onde vem o dinheiro". O secretário da Fazenda se pronuncia apenas sobre a fonte de parcela do investimento prometido.

2) A gestão anterior em São Paulo foi "Alckmin-Lembo", relata a Folha. Por que o jornal não informou a que partidos eles pertencem?

3) Por que o jornal não informou que José Serra é pré-candidato à Presidência? Não se trata de formalismo, mas de fato essencial à compreensão do contexto em que os vultosos e bem-vindos investimentos são alardeados.

4) Por que não informou sobre a liderança de Serra em pesquisa Datafolha publicada no domingo? É dever do jornal contar que o gestor que divulga boa notícia pode se valer dela, o que é legítimo, para ir mais longe na carreira.

5) O governo Alckmin aparece mal. Por que o jornal não informou que Alckmin, com seu "choque de gestão", foi apoiado por Serra à Presidência da República um ano atrás?

6) Por que Alckmin não foi procurado para responder?

7) A fotografia do secretário Mauro Ricardo Machado Costa olhando para cima não poderia ser mais simpática ao entrevistado. Dá a entender que ele pertence a um governo que "mira para o alto". É uma opinião tão legítima como qualquer outra, mas não cabe se associar a ela em espaço noticioso.

8) A frase destacada para o "olho" talvez fosse a mesma opção da assessoria de imprensa do governo: "Este ano foi de ajuste. Quando chegamos aqui, não imaginávamos que deveríamos alavancar tantos recursos para investimentos".

9) Na introdução às declarações, há referência a "temas discutidos" com o secretário. Não parece ter havido discussão, apenas audição. O jornal se limitou a imprimir sem espírito crítico o que o secretário falou.

10) A crítica de Costa ao governo federal, na pág. B6, exigia "outro lado", a considerar a tradição do jornal e as recomendações do Manual da Redação.

11) O jornal não publicou um senão ou porém às afirmações do secretário.

12) Para refletir: Costa dá a entender que o governo Alckmin era no mínimo incompetente; não foi essa a impressão deixada pela cobertura que a Folha fez da antiga administração. Se o jornal não estava errado, por que não contestou o colaborador de Serra?

13) Não cabe a jornalistas bater boca com entrevistados. Mas também não é seu papel reproduzir a parolagem oficial sem questioná-la.

14) Eis o verbete "jornalismo crítico" do Manual: "Princípio editorial da Folha. O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-la de um ponto de vista crítico".

Um comentário:

Sylvia disse...

Que a FOLHA é tucana, ninguém duvida, mas e o ombudsman, o que será? Ele é bom demais pra ser tucano, mas será que o jornal contrataria alguém petista? Escrevi um e-mail pra ele outro dia reclamando da parcialidade de Folha e ele me respondeu dizendo que ninguém é "neutro", nem ele. Estou, portanto, com essa pulga há dias.