sábado, 15 de dezembro de 2007

Entrevistas do Kassab: A mídia de São Paulo é do bem!

Os dois principais jornais de São Paulo, a Folha e o Estadão, trazem hoje, coincidentemente, uma entrevista com o Prefeito Gilberto Kassab. Vale a pena ler as duas entrevistas, pois elas são uma aula que vale mais que cem discursos.

Uma aula sobre a atuação dos jornais, não sobre a fala do prefeito. Nada ilustra melhor a relação da mídia com os adversários do PT, no caso a aliança DEM-PSDB na cidade, que a maneira e o conteúdo das perguntas ou questionamentos (ou sua ausência) nas entrevistas em questão.

Você pode pensar que entrevistar o prefeito hoje permitiria entender o porque da ação de despejo na favela Real Parque, qual o destino das familias brutalmente expulsas e quais os planos e o balanço da atual administração em matéria de habitação? Isto para falar em coisa recente, incluso abordada pelo próprio Ombudsman da Folha (ver aqui no blog A Folha é tucana?; Refrescando a memória do Estadão).

Ou saber porque foi adiada a inspeção veicular para 2009, sendo que o aumento dos engarrafamentos esta asfixiando e a circulação e as pessoas na cidade.

Oportunidade também para abordar em toda sua dimensão a questão do transporte público na cidade, onde um deterioro é visível, ao ponto das pessoas não conseguirem mais usar o Bilhete único pois suas viagens aumentaram para além das duas horas, em particular na zona sul. (ver aqui no Blog Administração DEM-PSDB anula efeito do Bilhete Único em São Paulo).

Saber porque persiste a falta de médicos na periferia, porque faltam médicos nas equipes do Programa Saúde da Familia, equipes que foram reduzidas (ver aqui no blog Casos de dengue aumentam mais de 400% na cidade de SP; Jornal da Tarde denuncia saúde da administração Kassab). Ou descobrir da boca do prefeito o que aconteceu com a licitação e o preço do leite da distribuição gratuita. (ver aqui no blog Vale a pena ler de novo)

A Folha poderia ter abordado a questão do lixo, que esta sendo debatida na pagina 3 do próprio jornal, depois que a prefeitura acabou reconhecendo de fato a correção dos contratos feitos pela administração precedente, questionando o prefeito pelo abandono dos investimentos nos aterros, no recolhimento do lixo nas favelas, no descaso com a coleta seletiva. (Ver aqui no blog Um bom debate para no jogar o lixo embaixo do tapete).

Na entrevista a Folha, Kassab dize que o pior em São Paulo é saúde e educação. Não caberia alguma pergunta sobre o fato que os tucanos governam o Estado faz mais de 12 anos, tendo responsabilidade pela metade das escolas da capital? É muito pedir saber o que esta sendo feito, além de continuar o que a Marta criou e fez? Pode um jornalista se contentar com o fato do prefeito declarar, como se estivesse opinando sobre algo que não o interpela: "É evidente que elas (a maioria das pessoas da cidade) não estão tendo o ensino público que a cidade poderia oferecer. É muito provavelmente são essas pessoas que precisam de saúde pública." (Folha). (ver aqui no Blog Demos e tucanos no mundo do faz de conta; Demos e tucanos em ação: crianças na rua e dinheiro no banco; JT denuncia: ‘Ano da educação’ já repetiu no 1º semestre).

Por exemplo, na entrevista no Estadão, Gilberto Kassab disse que a prefeitura arrecada hoje o dobro que na administração da Marta. Não caberia perguntar porque não aproveitar para reduzir os impostos, o IPTU e outros impostos. Não é que a carga tributária é excessiva, como pregam quando atacam o governo Lula?. Ou não dá para inquerir sobre as prioridades de investimento, onde ou como investir mais e melhor (a prefeitura tem 5 bilhões de reais aplicados no mercado financeiro), ou contratar mais policiais municipais para assegurar pelo menos todas as escolas? Ou pelo menos questionar a origem desta multiplicação dos pães? Será a indústria das multas? será o crescimento econômico promovido pelo governo federal? Ou alguém pode engolir calado, como os jornalistas que o entrevistaram fizeram, que o milagre foi obtido pela rigor na arrecadação dos tributos? Volto a repetir, o governo municipal tem um orçamento que equivale ao dobro do orçamento de quatro anos atrás.

Agora, pode-se argüir que o foco da entrevista era outro, não a administração da cidade e sim a política é as eleições do ano próximo. Mesmo nesse caso, como explicar que os entrevistadores do Estadão, por exemplo, nada perguntem em relação a Alckmin. O nome Alckmin, aliás, não aparece nenhuma única vez em toda a pagina consagrada a entrevista, nem na Folha, nem no Estadão.

Alckmin, o grande ausente
das entrevistas

Por isso aparece mais grosseira a tentativa persistente dos entrevistadores da Folha para arrancar de Gilberto Kassab ataques a Marta Suplicy. Soá ridículo perguntar ao Kassab quem será o candidato do PT, (porque não perguntar se Alckmin vai ser, se Serra vai demovê-lo da idéia etc.) e quando ele disse que acha que o PT ainda não definiu, os jornalistas de apresentar e insistir na Marta, para tentar depois arrancar uma crítica, que percebe-se Kassab procura evitar.

Se o jornalismo consiste em servir de escadinha para deixar os entrevistados fazerem publicidade de se mesmos e nada questionar, qual é o significado mais profundo do valor da liberdade de imprensa?

Luis Favre





'Tenho vontade de ser candidato'

Carlos Marchi - O Estado de São Paulo

Apesar do cuidado em não avançar sinais, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmou ao Estado que tem vontade de ser o candidato à Prefeitura de São Paulo em 2008 pela aliança PSDB-DEM. “ Tenho vontade de continuar o trabalho, mas jamais vou fazer uma postulação de nível pessoal”, ressalvou. “Uma eventual candidatura minha vai estar atrelada a um projeto coletivo”, disse. Mas Kassab adverte que a definição do candidato aliado em São Paulo não é uma questão local: “É uma questão nacional.” Confiante, ele diz que até o final da sua gestão vai entregar “uma cidade bem melhor”. Eis a entrevista:

O sr. está se sentindo à vontade na prefeitura?

Estou bastante satisfeito, entrando no último ano, três anos de gestão e os resultados aparecendo. O que eu percebo é que a política traçada deu resultados previstos. Os resultados das políticas públicas, em especial no campo social - saúde e educação -, começam a aparecer e isso dá muita esperança e traz muita confiança. Até o final da gestão, vamos entregar uma cidade bem melhor.

O sr. tem sentido isso nas ruas?

Sinto. A população começa a notar a ação da prefeitura. Porque, nas últimas décadas, o que foi feito foram grandes obras. Todos percebem que nós paramos com as grandes obras para fazer um trabalho centrado na saúde e educação. Eu sinto isso, que a população reconhece as coisas que estão acontecendo numa dimensão que não existia antes.

O sr. sempre se disse um continuador do ex-prefeito José Serra, mas agora já executa políticas suas. O sr. está imprimindo toques pessoais às políticas da prefeitura?

À medida que o tempo passa, vão surgindo novos desafios e aí fica a marca da atual gestão, sempre com a mesma equipe, com a mesma linha de metas. Mas esses novos desafios que surgem têm mais a nossa marca, é natural. Veja o exemplo do Cidade Limpa, um projeto que se iniciou com Serra. Quando eu assumi, percebi um momento favorável para aprovar o projeto na Câmara, um projeto muito mais radical do que a gente havia desenhado. Se ele estivesse aqui, também teria enxergado essa oportunidade. E não deixa de ser mérito dele, que trouxe o tema à discussão. As AMAs (unidades de Assistência Médica Ambulatorial) foram uma criação dele. Depois, quando os resultados foram aparecendo, nós percebemos que era o caminho correto e pisamos fundo no acelerador. Agora, estamos próximos de, até o mês de março, chegar a 110 AMAs.

No que facilita vocês serem tão próximos?

Acho que nunca um Estado teve uma relação com a capital no País tão próxima e tão convergente como temos hoje. É lógico que as ações acontecem com mais velocidade. Não preciso perder muito tempo para explicar a ele. Vamos pegar um exemplo - córregos. São Paulo tem 11 milhões de habitantes e trezentos córregos para onde são direcionados esgotos. Quando ele assumiu o governo estadual, criamos um convênio, com 80% de verbas do Estado e 20% do município. Não acabou o primeiro ano do governo Serra e estamos concluindo o processo de execução de 40 daqueles córregos.

Todo administrador reclama da falta de recursos. Por que o sr. não se queixa?

O principal problema dos recursos não é ampliar as fontes, mas ter austeridade no gasto e rigor na fiscalização. Nós aumentamos a nossa arrecadação: em 2004, tivemos uma receita total de R$ 12 bilhões; no orçamento de 2008, que mandamos para a Câmara, já teremos R$ 25 bilhões. Mais que o dobro, em quatro anos. Pergunto: qual foi o aumento da carga tributária, nesses quatro anos? Zero. Ao contrário, abrimos mão da taxa do lixo, que significava R$ 400 milhões por ano, em 2005, e abrimos mão da taxa de iluminação pública nas ruas que não têm lâmpadas. Nós aumentamos a arrecadação com rigor na fiscalização. Rigor mesmo. Não quero fazer acusação de que antes havia corrupção. O que não havia é rigor.

Como será o seu último ano? Uma enxurrada de obras?

Não vai ter nada de especial, não vai mudar a rotina da administração. Vamos dar seqüência no que estamos fazendo. É evidente que, por ser o último ano, há uma conclusão maior de projetos iniciados. Você não conclui nada no primeiro ano. Pode anotar: nada, nada que tenha vinculação com um ano eleitoral. Não existe essa preocupação.

Qual será, a seu juízo, a sua grande marca na Prefeitura de São Paulo?

A cidade percebeu que existe hoje uma prefeitura preocupada com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, com a manutenção da cidade. Hoje o paulistano identifica a prefeitura dessa maneira. E não identificava antes. Hoje ele sente a cidade mais bem cuidada, sente uma preocupação com o ensino e a saúde públicas.

Como vai a aliança PSDB-DEM?


A minha avaliação é que a aliança nunca esteve tão sólida. Juntos, a gente governa São Paulo, elegemos o Serra e eu; juntos elegemos o Serra, Goldman e quase elegemos Afif. E juntos fazemos oposição ao governo federal, mas uma oposição com espírito público, com proposta, com bastante determinação.

Essa aliança vai perdurar para as eleições municipais de 2008 em São Paulo?

Eu acho. É evidente que, se trouxermos o assunto para esse ano, quando as eleições não estão na pauta, qualquer dirigente de um grande partido, seja os Democratas, seja o PSDB, seja o PT, seja o PMDB, vai afirmar que a diretriz do partido é ter candidatura própria nas eleições majoritárias no País inteiro. Só faltava ser diferente... Mas na medida em que o assunto for discutido, e a discussão acontece no ano das eleições, é compreensível que os partidos aliados se sentem à mesa de negociação e cheguem à conclusão de que a aliança é mais proveitosa para implantar os programas de cada um. Eu me coloco entre aqueles que defendem a continuidade da aliança.

Essa conversa de sentarem juntos deve acontecer quando?

De março a maio do ano que vem.

Até que ponto as eleições municipais influirão na eleição de 2010?

Quem ganhar as eleições de 2008, se mostrar boa administração, se fortalece para 2010. Os partidos podem se credenciar ou se descredenciar para as eleições de 2010.

Que prognóstico o sr. faz para o desempenho da aliança PSDB-DEM nas eleições de 2008?

Acho que será muito bom, da mesma forma que acredito nela em 2010.

Se PSDB e DEM tiverem dois candidatos um deles poderá ser o vencedor ou a divisão abala os dois?

É difícil admitir duas candidaturas, até porque acredito que o caminho seja a aliança. Ano que vem, quando o assunto for discutido, minha priorização como dirigente partidário será defender a manutenção da aliança.

Que obstáculos hoje devem ser retirados para a aliança persistir?

O obstáculo natural em qualquer processo de composição de aliança, quando os partidos querem, legitimamente, ocupar o cargo titular. Na medida em que o tempo passa, as coisas vão ficando mais claras, mais nítidas e aí, naturalmente, surge a opção da formalização da aliança e a ocupação dos cargos conforme o processo de negociação.

O sr. tem vontade de ser candidato à reeleição?

Tenho. Tenho vontade de continuar o trabalho, mas jamais vou fazer uma postulação em nível pessoal. Uma eventual candidatura minha vai estar atrelada a um projeto coletivo, de unir os partidos numa aliança, de mostrar à cidade que existe responsabilidade na postulação. Jamais faria uma candidatura centrada num projeto pessoal. Para que ela tenha naturalidade numa cidade das dimensões de São Paulo, é fundamental que ela tenha lastro nos partidos, num projeto. Se não, eu não teria nenhum problema em não ser candidato, ficaria contente pelos resultados da boa gestão.

Esse lastro existe. O seu partido tem manifestado, de forma muito expressiva, a idéia de que o sr. é candidato.

Sim, o partido apresenta a minha candidatura e é muito natural que o faça, assim como cada partido tem a sua. O que eu tenho dito é que, como existe uma aliança em São Paulo, é muito correto e natural que a gente procure manter essa aliança para preservar a dimensão do lastro. Essa é a prioridade, para que a gente não enfraqueça o projeto político que governa a cidade.

O sr. tem crescido a cada pesquisa. O nível de conhecimento popular do seu nome é satisfatório?

É. Aliás, eu tenho uma situação peculiar. Assumi o cargo de prefeito sem nunca ter disputado uma eleição majoritária. À medida que eu fui tendo visibilidade e as ações da prefeitura também, e a gestão é muito boa, é muito gratificante ver as pessoas reconhecendo a boa gestão.

O que seria fundamental para definir a sua candidatura? A opinião do governador Serra, por exemplo?

Ela é fundamental. A aliança em São Paulo é como se fosse um único partido. E a aliança em São Paulo tem um líder. E o líder, evidente, é o Serra. Assim como o presidente Fernando Henrique, que tem um papel preponderante. Assim como o presidente Jorge Bornhausen, o presidente Rodrigo Maia. São todos figuras importantes nesse processo.

O sr. está dizendo que...

São Paulo é uma questão nacional.

E naturalmente o candidato será decidido nesse fórum?

Em processo de discussão com a direção nacional. E não será diferente este ano. É sempre uma diretriz nossa, em São Paulo, associarmos nossas decisões à direção nacional.

Para onde PSDB e Democratas podem crescer?


Se ganharmos as eleições em São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, chegaremos às eleições de 2010 governando dois dos principais Estados e suas respectivas capitais. Quando Serra foi candidato, em 2002, não tinha o governo de Minas e nem as prefeituras de São Paulo e Belo Horizonte. É uma situação bem diferenciada.

Se o sr. for candidato, dê uma boa razão para o eleitor votar no sr.

Se eu for candidato é porque haverá continuidade de um projeto para a cidade, fruto de uma vontade coletiva, e não pessoal. Hoje a cidade tem projeto e será a continuidade desse projeto.


ENTREVISTA - GILBERTO KASSAB - Folha de São Paulo

Saúde e educação são os piores problemas de SP

Prefeito criticou a gestão Marta Suplicy (PT), possível adversária na eleição, e disse que fará mais CEUs do que ela

ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DE COTIDIANO

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PREFEITO GILBERTO KASSAB (DEM) considera a educação e a saúde como os piores problemas de São Paulo. Na resposta ao questionamento da Folha, deu maior ênfase à educação que, segundo ele, atinge metade da população da cidade -incluindo os pais.
Kassab recebeu ontem a Folha pouco antes de se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de uma unidade do INSS, a quem elogiou. Na entrevista, evitou falar sobre candidatura à reeleição, mas disse que começará a discutir o assunto no início de 2008. Questionado, criticou a gestão de Marta Suplicy, possível adversária na eleição, e disse que fará mais CEUs do que ela.

FOLHA - O que falta para o senhor decidir se será candidato ou não?
GILBERTO KASSAB -
Ninguém me cobra essa questão de posicionamento nas eleições. Até porque não está na pauta. O melhor indicativo de que a decisão é correta, de começar a refletir sobre o tema [só] ano que vem, é a população, que não me cobra.

FOLHA - Qual é o prazo?
KASSAB -
No início do ano você começa a fazer umas análises.

FOLHA - O senhor tem mais medo da Marta ou de Alckmin?
KASSAB -
Não me preocupo, porque não está na pauta. Para se preocupar, você precisa de uma análise maior. Eu não tenho feito nenhuma análise.

FOLHA - É possível que PSDB e DEM tenham duas candidaturas?
KASSAB -
Nunca os Democratas e o PSDB tiveram uma aliança tão sólida. Juntos, elegeram Serra e eu à prefeitura; juntos, elegeram Serra e Goldman, e quase elegeram o Afif; juntos, fazem oposição ao governo federal. É muito natural que existam, quando o assunto começar a ser discutido, critérios que procurem direcionar para a manutenção da aliança.

FOLHA - Do lado do PT, quem será candidato? Marta?
KASSAB -
Acho que o PT não tem essa definição. Até porque eles estão vivendo um processo de eleição interna. Eu, pelo menos, não tenho conhecimento de nenhuma discussão.

FOLHA - A Marta não será?
KASSAB -
É eventual candidata.

FOLHA - Marta foi boa prefeita?
KASSAB -
Como qualquer gestão, teve seus altos e baixos. Se achássemos que merecesse a aprovação da cidade, o Serra não teria sido candidato para enfrentá-la. É evidente que temos muitas discordâncias.

FOLHA - Onde ela foi mal?
KASSAB -
No campo social, na saúde, educação.

FOLHA - Ela fez os CEUs.
KASSAB -
Ela fez 21, nós faremos 25. Na área social, foi uma gestão que teve dificuldades para apresentar resultados expressivos.

FOLHA - E onde ela foi bem?
KASSAB -
É difícil identificar avanços. Acho que [o governo Marta] foi positivo para a cidade, mas faltaram muitas ações para aperfeiçoar, talvez no campo... Mesmo no campo dos corredores de ônibus, eu ia falar, mas não... É difícil elogiar uma gestão de que você discorda e, por isso, apresentou uma alternativa: o Serra e eu, como vice. Então você tem dificuldades para elogiar.

FOLHA - Não há continuidade de projetos, como os CEUs?
KASSAB -
Sim. Aliás, não paramos nada.

FOLHA - O Serra tinha parado.
KASSAB -
Imagina. O Serra começou 5 dos 25.

FOLHA - E fez duras críticas, dizendo que era caro, desnecessário.
KASSAB -
Também faço. Nós mudamos o projeto. Hoje eles são mais bem distribuídos, cabem mais alunos, são projetos mais inteligentes, [têm] manutenção mais barata.

FOLHA - Por que São Paulo vai tão mal nas avaliações escolares?
KASSAB -
A complexidade de administrar São Paulo é muito maior do que qualquer outra cidade. Também no campo da educação. Nós temos, na cidade de São Paulo, 2,2 milhões alunos, metade na prefeitura, metade no Estado. Nas administrações anteriores, faltou priorizar o social: saúde, educação e assistência social. É evidente que os resultados, se essa priorização tivesse acontecido, seriam bem melhores.

FOLHA - Quando o senhor acha que os resultados vão aparecer?
KASSAB -
Não é possível que não melhore quando você dá uma atenção, uma prioridade, como nós estamos dando nesta administração. São inúmeras ações muito expressivas. Como as condições serão melhores, os resultados vão ser melhores.

FOLHA - Qual é o maior problema de São Paulo?
KASSAB -
Saúde e educação, quando a gente fala de 2,2 milhões de crianças na rede pública. Uma continha: bota só pais e mães, sobe para 5,3 milhões com nome, endereço, RG. Pai, mãe e aluno. É metade da população da cidade. É evidente que elas não estão tendo o ensino público que a cidade poderia oferecer. E, muito provavelmente, são essas pessoas que precisam de saúde pública.

FOLHA - Por que o projeto da cracolândia está demorando tanto?
KASSAB -
Nova Luz? Não existe, acabou cracolândia.

FOLHA - Se o senhor passar ali depois das 21h, vai ver que existe cracolândia ainda.
KASSAB -
Você tem um imóvel seu, o poder público chega, desapropria e estipula um valor. Você tem o direito de contestar. É a democracia. A primeira fase é lenta. Agora, já avançamos muito nesta primeira fase.

FOLHA - Dá para levar a sério uma Câmara que, no mesmo dia, aprova o rodízio e acaba com ele?
KASSAB -
Estava tão equivocada essa postura da Câmara, que o vereador [Ricardo Teixeira, PSDB] retirou o projeto.

FOLHA - Isso não elimina a sensação de que a Câmara vota de acordo apenas com compromissos políticos. A maioria dos parlamentares nem leu o que votou.
KASSAB -
Prefiro fazer uma análise diferente. O Legislativo paga o preço dos seus equívocos perante a opinião pública. As eleições são feitas para ratificar os mandatos ou não, renovar, mudar. Mas também tem o lado positivo. Os bons projetos foram aprovados. Eu falo no campo da saúde, por exemplo. As parcerias com as organizações sociais. E foi um projeto aprovado pela Câmara. A criação das AMAs [Assistência Médica Ambulatorial, que tem como função o atendimento não agendado de pacientes portadores de patologias de baixa e média complexidade]. Então, errou a Câmara com a aprovação [dos projetos do rodízio], lógico que errou. Tanto errou, que ela voltou atrás. E, se não voltasse, pagaria pelo erro.

FOLHA - O fim da CPMF atrapalha sua gestão em alguma coisa?
KASSAB -
O governo federal vai ter que redimensionar os seus gastos. Essa resposta é muito difícil de dar porque cabe ao governo, depois, avaliar onde, e o presidente Lula tem tido muito bom senso e uma excelente relação conosco. Se tiver que fazer cortes, ele vai fazer cortes em algo que ele acha que vai ser menos nocivo para o desenvolvimento do seu programa.

FOLHA - O senhor acha que o Congresso agiu certo ou foi um erro?
KASSAB -
O Congresso e o Poder Executivo erram na medida em que eles não fazem a reforma tributária. Toda essa polêmica em relação à CPMF não existiria se tivesse sido feita a reforma tributária.

FOLHA - Não haverá redução de repasse para a prefeitura?
KASSAB -
Confio no bom senso do presidente. O que tem sido importante fazer, em São Paulo, ele tem feito.

FOLHA - Por exemplo, as AMAs, o senhor tem quase 50 a fazer para cumprir a meta.
KASSAB -
Já estou inaugurando algumas neste ano. Até março a meta é inaugurar cem.

FOLHA - É a principal medida de seu governo?
KASSAB -
Acho que tem um conjunto de projetos que sinto que têm uma avaliação muito positiva. As AMAs, a construção de dois novos hospitais -M'Boi Mirim e Cidade Tiradentes-, a informatização da rede. Há três anos, faltava remédio todo dia. Há quanto tempo, na Folha, vocês não dão notícias de que falta remédio? A reforma das UBSs, a construção de 25 CEUs no contexto de acabar com o terceiro turno, de quase 200 escolas, a reforma e manutenção. A Cidade Limpa.

FOLHA - O que o sr. está lendo?
KASSAB -
No momento? Prefeitura, prefeitura, prefeitura.

FOLHA - Não dá para ler?
KASSAB -
Até daria, mas no momento, não.

FOLHA - Vida particular fica completamente comprometida?
KASSAB -
A vida particular é muito integrada com a vida do prefeito. Você vai a uma peça de teatro, mas a peça faz parte do calendário da prefeitura, vai ao cinema, é a Mostra Internacional de Cinema. Confunde um pouco, mas é gratificante.

FOLHA - Os vizinhos batem na porta para pedir as coisas?
KASSAB -
Não. Mas também quase não fico em casa.

FOLHA - Reclamaram da obra do shopping Iguatemi. Está resolvido o problema?
KASSAB -
Não me envolvi nisso. Achei que não seria ético.

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