segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Desafios

O GLOBO • OPINIÃO

*Jorge Mattoso

Várias de cisões tomadas desde 2003 pelo governo federal - em sintonia com entidades do setor da construção civil e com os movimentos sociais - foram indispensáveis à expansão do setor imobiliário.

Depois de anos de estagnação a construção civil deslanchou (crescendo mais que o PIB em 2004 e 2006), foram gerados centenas de milhares de empregos no setor e foram disponibilizados recursos ao crédito habitacional em valores inusitados e crescentes.

Após a expansão iniciada em 2004, em 2006 foram aplicados 20 bilhões de reais, e nos primeiros sete meses de 2007 os recursos destinados ao crédito habitacional alcançaram cerca de 14 bilhões, gerando uma expectativa de aplicação de mais de 30 bilhões neste ano e de um crescimento do setor novamente superior ao PIB. Isto sem incluir os recursos novos do *PAC* destinados à habitação...

No entanto, esse bem-vindo crescimento traz novos desafios que necessitam ser visualizados estrategicamente e enfrentados desde agora.

Primeiramente, precisamos assegurar a continuidade das condições macroeconômicas e sociais favoráveis, a expansão do crédito e do investimento e, não menos importante, à melhoria da distribuição da renda.

Em segundo lugar, precisamos desenvolver com segurança a securitização dos créditos habitacionais, inclusive evitando os erros do Japão e dos EUA. A securitização de recebíveis imobiliários apenas engatinha no Brasil, e em 2006 a emissão primária foi de pouco mais de 1 bilhão de reais. Com a continuidade da redução dos juros e a expansão do crédito, esse mecanismo deverá ser mais demandado e sua solidez precisa ser consolidada.
Em terceiro lugar, é preciso ampliar a eficiência da Política Nacional de Habitação, iniciada em 2003 após a criação do Ministério das Cidades.

Com um Sistema Nacional de Habitação, maior articulação com estados e municípios, com o PAC e com as Conferências Municipais e Estaduais das Cidades, será possível avançar no esforço realizado em favor das camadas de menor renda, ampliando os valores destinados a subsídios ex ante, sejam recursos do Orçamento Geral da União, dos estados, dos municípios ou dos fundos destinados à habitação de interesse social.

Em quarto lugar, o setor precisa elevar sua produtividade, capacidade produtiva e investimento tecnológico. Isso em toda a cadeia da construção civil: dos fornecedores de equipamentos e de materiais, passando pela construção até a comercialização de imóveis. É indispensável se assegurar a disponibilidade de equipamentos e material de construção e que os métodos construtivos se desenvolvam.

A comercialização de imóveis precisa assumir os desafios do crescimento.

Por isso, em quinto lugar, precisamos melhorar a qualidade das informações e assegurar sua democratização, tanto para vendedores como para compradores. O papel da internet e dos mecanismos de busca verticais são indispensáveis, considerando que a comercialização imobiliária ainda é um dos segmentos em que a assimetria de informações é mais intensa.

Em sexto lugar, mas não menos importante, precisamos ampliar a formação da mão-de-obra, articulando empresas construtoras,* Caixa, *bancos privados, Senai e as distintas iniciativas existentes. Com a expansão do setor, poderemos enfrentar falta de mão-de-obra proximamente. Após a estagnação ocorrida por duas décadas, essa potencial falta de pessoal - que já ocorreu no passado - pode ser mais intensa, pois estreitou-se o estoque de mão-de-obra disponível e debilitaram-se os mecanismos de formação de pessoal.

Outros desafios surgirão ao longo do processo de crescimento do setor imobiliário e precisam ser enfrentados para que o dinamismo da construção habitacional ocorra sem sobressaltos.

*JORGE MATTOSO é professor do Instituto de Economia da Unicamp e foi presidente da Caixa Econômica Federal.

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