terça-feira, 30 de outubro de 2007

"Acho engraçado que os mais arrogantes do país reclamem da arrogância de Cristina", diz ministro de Kirchner

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Voto oposicionista de grandes centros irrita ministro


FERNANDO CANZIAN

Folha de São Paulo
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Os estratos mais pobres da população argentina foram os maiores responsáveis pela vitória de Cristina Kirchner e de seus aliados no domingo. Em cidades maiores e ricas, como Buenos Aires, Córdoba e San Luis, Cristina perdeu. Nas Províncias mais pobres do interior, principalmente no Nordeste e no Norte, venceu com ampla margem.
As urnas confirmaram a má vontade que a classe média argentina ainda guarda em relação a Néstor Kirchner. Mas recompensaram amplamente o forte assistencialismo que marcou a sua gestão, com profusão de programas e verbas sociais.
A Argentina de 2007 repetiu o Brasil de 2006. No ano passado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve o apoio maciço de eleitores mais pobres do Nordeste e Norte, mais atendidos pelos benefícios sociais. Mas teve de enfrentar um segundo turno contra Geraldo Alckmin (PSDB) por causa do eleitorado do Sul e Sudeste.
Diante da nova derrota do kirchnerismo em Buenos Aires, o chefe-de-gabinete da Presidência, Alberto Fernández, reconheceu que "a classe média definitivamente não confiou em Cristina". E disse que os portenhos deveriam "deixar de votar e pensar como uma ilha".
Referindo-se aos eleitores da capital argentina, acrescentou: "Acho engraçado que os mais arrogantes do país reclamem da arrogância de Cristina".
Em Buenos Aires, venceu a candidata a presidente da Coalizão Cívica, Elisa Carrió, com quase 38% dos votos. Cristina ficou com 24%. Em Córdoba, liderou Roberto Lavagna, com 35%. Cristina teve 24%.
Já na Província do Chaco, no Nordeste e a mais pobre do país, Cristina atingiu 50% dos votos, mais da metade do que foi dado a Lavagna, que ficou em segundo com 22%. Em Salta, no Norte, Cristina teve 74%, contra 12,5% de Lavagna.
Medidas voltadas às parcelas mais pobres dos argentinos foram decisivas para pavimentar a vitória de Cristina. Em termos absolutos, ela teve quase 8,2 milhões de votos -venceu a eleição com o apoio de pouco mais de 30% dos 27 milhões de eleitores aptos a votar na Argentina. Cerca de 28% desse eleitorado não votou.
Neste ano eleitoral, Néstor Kirchner ampliou em 45% os gastos estatais, cortou impostos dos trabalhadores que ganham menos, aumentou o valor das aposentadorias e subsidiou setores que empregam mais gente com salários menores, como a construção civil.
Em Províncias pobres como o Chaco, os índices de pobreza ainda estão em 50%, mas a maior parte dos pobres é atendida por programas sociais públicos que doam, no mínimo, 150 pesos (R$ 83) por indivíduo ou família.
Todo esse "pacote de bondades" foi financiado por um "calote branco" que Kirchner vem aplicando desde janeiro na dívida pública do país. Seu governo manipula os índices de inflação e utiliza o dado para remunerar os credores -ou seja, paga menos do que deveria. Boa parte desses credores também pertence à classe média.
O crescimento econômico de 51% nos anos Kirchner terminou por beneficiar os estratos mais pobres. Sete entre cada dez novos empregos formais criados na Argentina entre 2003 e 2007 saíram de setores que pagam 20% menos do que a média do setor privado.

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