terça-feira, 30 de outubro de 2007

Prefeito eleito de Bogotá diz que Lula e Cristina são suas referências

Valor

AP
O esquerdista Samuel Moreno, eleito prefeito da capital colombiana, Bogotá

O prefeito eleito de Bogotá, Samuel Moreno, se diz mais à esquerda do que a social-democracia e toma Lula e Cristina Kirchner como exemplos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista dada ao Valor ontem, em que ele fala sobre segurança pública e sobre o quadro político do país após as eleições de domingo. (SL)


Valor: Que reflexo essas vitórias da esquerda trarão para o futuro da esquerda na Colômbia?


Sergio Moreno Há um avanço importante, se não dos candidatos do Pólo, de muito próximos, afins do que pensamos.


Valor: Como o sr. se define politicamente?


Moreno Sou de esquerda democrática. Mais à esquerda que a social-democracia [ri].


Valor: Qual a referência mais forte para a esquerda na América Latina, Lula ou Hugo Chávez?


Moreno Lula e, agora, Kirchner, Cristina, sim.


Valor: Usaram contra sua candidatura manifestações de apoio das Farc. Qual o papel da esquerda democrática na negociação com a guerrilha?


Moreno Nunca me senti mencionado [quando criticavam de candidatos apoiados pela guerrilha], porque as pessoas me conhecem. Sempre tive uma posição de rechaço à luta armada. Rechaçamos em declarações os atos de violência contra a população civil e, ao mesmo tempo, defendemos o diálogo e um acordo humanitário para superar o conflito e obter a liberação das pessoas seqüestradas.


Valor: Como prefeito de Bogotá, o segundo posto político mais importante do país, o senhor pretende ter um papel nessa negociação?


Moreno Claro, meu antecessor, Lucho Garzón, foi promotor importante do acordo humanitário, e nós incluímos essa proposta, essas idéias em nosso programa de governo. Sensibilizar a cidadania e fazer ações para chegar ao acordo. É importante que nós, prefeitos, possamos exercer uma liderança para esse tema.


Valor: Uma das peças mais importantes de sua campanha foi a construção do metrô de Bogotá, algo que interessa a empresas como as brasileiras, que constroem metrôs no continente. O Brasil está entre os países com quem o sr. pretende levar esse projeto à frente?


Moreno Toda colaboração internacional que possamos conseguir, especialmente dos países da América Latina, será bem vinda. Já há sistemas integrados de transporte de massa, há metrô integrado, sabem como operá-los, como se estruturaram, como financiá-los. Vamos precisar de ajuda, e a experiência internacional é chave.


Valor: Já há experiência brasileira no metrô de Caracas.


Moreno E em São Paulo. Vamos tomar todas as ações para conseguir recursos, estrutura, financiamento e experiência para tornar realidade nosso programa de governo. Há muitos projetos de metrô na América Latina, o do México, de Santo Domingo, de Brasil, Venezuela, Chile, Argentina. Quero conhecer de perto a experiência que tiveram. O mandato que nos entregaram foi exatamente para tomar todas as medidas para concretizar esse metrô.


Valor: Bogotá terá recursos para isso?


Moreno Sim, Bogotá é numa cidade imensa, tem recursos importantes, que geram a quarta parte do PIB da nação. Para cá vêm mais de 40% dos investimentos diretos estrangeiros na Colômbia. E boa parte das exportações saem daqui. A cidade é hoje o principal centro de negócios da área andina.


Valor: Por que a questão da violência não foi tão importante nessa campanha como na passada?


Moreno As pessoas ainda se preocupam com a segurança. Eu diria que há avanços significativos na redução de homicídios e furto de veículos, mas, ao mesmo tempo, há uma percepção de insegurança nas ruas, roubos, furtos, e aí temos de adotar ações importantes para melhorar a percepção de segurança na cidade. Aqui há uma política de desarme, cerca de 60% dos delitos em Bogotá são com arma de fogo, e estamos interessados em liderar uma proposta de desarme, levantada pelo atual prefeito Garzón. Que as armas sejam exclusivas das forças públicas.

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