segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Discutir sucessão agora é agir contra governo, diz Dilma

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse nesta segunda-feira em Washington que discutir a sucessão presidencial neste momento é ir contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

''Eu não concordo com essa discussão. Acho que uma discussão que coloca a questão da candidatura em 2010 é uma discussão contra o governo. Nós temos oito meses de governo no segundo mandato'', afirmou a ministra, após ter discursado em um evento promovido pela Câmara do Comércio Brasil-Estados Unidos.

''Por que nos interessa e a quem interessa colocar em debate a sucessão? Colocar em debate a questão da sucessão é tentar reduzir o nosso mandato. O mandato constitucional é de quatro anos.''

De acordo com a ministra, o debate sucessório ''só interessa a quem quer que o governo, em vez de quatro anos, tenha oito meses''. Ela acrescentou: ''Temos ainda três anos para realizar e vamos fazer muita coisa pelo Brasil''.

Dilma voltou a colocar de lado a especulação em torno de seu nome como potencial candidata petista à sucessão do presidente Lula. ''Eu não sou candidata. Se eu não sou, é porque eu não quero ser candidata.''

Discurso e prática

Mas apesar de negar suas intenções de disputar a Presidência, Dilma em diversos momentos soou não apenas como candidata, como também adotou um discurso de união nacional.

''Hoje, o Brasil caminha para uma grande estabilidade, porque a antiga oposição é governo. E o antigo governo é oposição. Isso é que pode levar daqui para a frente a essa ciclo virtuoso. Todos são responsáveis por uma condução de Estado, apesar de diferentes governos.''

A ministra defendeu que o Brasil deve chegar a uma ''nova etapa'', um consenso nacional similar aos quais passaram países como o Chile e a Espanha, nos quais governo e oposição se uniram em torno de temas prioritários. No caso brasileiro, esses temas seriam crescimento econômico, distribuição de renda, gasto social e infra-estrutura.

CPMF

É essa postura de ir além das divergências político-partidárias, defendeu a ministra, que deve nortear a oposição a votar pela aprovação da prorrogação da CPMF.

''A questão da CPMF é uma questão estratégica para o país. É um imposto que você cobra de 18 milhões e que beneficia 200 milhões. A oposição, principalmente a oposição responsável que existe no Brasil, sabe perfeitamente que não pode fazer isso (votar contra a prorrogação).''

Dilma disse acreditar que o governo deverá fazer concessões para obter a aprovação, mas que só deve ceder até certo ponto. ''O governo está em processo de discussão sobre a CPMF. O processo vai implicar em conversas, mas quanto a qual será o nível de negociação, acredito que ele não pode comprometer o orçamento público.''

A ministra foi diplomática quando lembrada que, no passado, ela já fez críticas a supostas negociações fisiológicas entre Executivo e Legislativo. ''Não acho correto o Executivo opinar a respeito do Legislativo nesses termos. O governo sempre procurou e tem conseguido uma relação bastante qualificada com o Congresso, seja o Senado, seja a Câmara.''

Reforma política

Mas ela sinalizou que, a fim de pôr fim a práticas equivocadas, é preciso implantar a reforma política no país. ''Nós temos um desafio, que é a reforma política para o Brasil. É crucial. É impossível com a estrutura de financiamento de campanha e a forma como a eleição se dá, ter práticas mais modernas no Brasil.''

De acordo com a ministra, parte da iniciativa de promover a reforma cabe ao Congresso. ''Mas isso não significa que seja no Congresso que está o problema. O problema está em todos os lugares. Então, você não pode pegar uma instituição de demonizá-la.''

Dilma aproveitou para fazer ainda alusões a seu passado político, quando combateu o regime militar, na clandestinidade, como militante de diferentes organizações guerrilheiras de esquerda, como a Política Operária, o Comando de Libertação Nacional e a Vanguarda Armada Revolucionária.

''A gente vem de um processo de ditadura no Brasil, eu venho. E acho o Congresso uma das melhores coisas do Brasil, mesmo um congresso com deficiências. É melhor do que tê-lo fechado. Eu tenho grande apreço pelo Congresso.''

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