quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Cristina Kirchner: 'Um país como a Alemanha'



O GLOBO ENTREVISTA CRISTINA KIRCHNER

BUENOS AIRES.

Cristina Kirchner confessou, em sua primeira entrevista após ser eleita presidente, que sonha em transformar a Argentina num modelo de país exportador como a Alemanha, que gere uma economia mais competitiva, e disse que, nessa próxima etapa, com ela no poder, será fundamental a relação do país com o mundo. Numa entrevista a Joaquín Morales Solá, transmitida anteontem à noite no programa “Desde”, do canal Todo Noticias, a presidente eleita afirmou que o combate à insegurança se faz com um modelo econômico que gere empregos e antecipou que sua primeira medida será “o combate à pobreza”.

Joaquín Morales Solá Para La Nación - O GLOBO: Quais serão as principais medidas de seu governo?

CRISTINA KIRCHNER: Combate à pobreza. Aprofundar o combate ao desemprego, educação, saúde e todas as questões que têm a ver com melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e nos dar maior competitividade.

Os países mais competitivos têm sistemas de saúde e educação, um regime de produção social que pode dar conta da qualidade competitiva.

É isso o que falta à Argentina.

 Com qual país gostaria que a Argentina se parecesse? CRISTINA: Isso é antipático porque podemos ser muito bons se nos parecemos conosco mesmo. Temos um país com altíssimo nível de recursos humanos. Gostaria que fôssemos um país exportador como a Alemanha, com altíssimo grau de tecnologia, que é o que distingue. Creio que devemos fazer grandes coisas, sobretudo em agricultura e informática.

Estamos fazendo.

Qual será a sua política contra a inflação?

CRISTINA: Primeiro seria caracterizar exatamente o problema. Se acreditarmos que estamos diante da hiperinflação, estaremos errados. Houve uma supervalorização do tema, própria de um período eleitoral. Em matéria de inflação, estamos entre os 7% e 11% previstos para este ano no orçamento. O Fundo Monetário Internacional prevê 12,6%. Se há na oposição quem diga que estamos em 25%, isso não é sério. De qualquer forma, o governo enviou uma delegação aos Estados Unidos. Ninguém porá em dúvida a metodologia da primeira economia do mundo.

Já pensou na política de segurança? A capital terá sua polícia?

CRISTINA: O presidente, numa reunião com o governador eleito, Mauricio Macri, acertou que haverá uma lei para que a cidade de Buenos Aires tenha a sua polícia.

Os recursos não dependem do presidente.

Eu não concebo a segurança como um plano sem ter a ver com o modelo econômico vigente.

Planejar um projeto de segurança com um modelo econômico que tenha taxa de desemprego de dois dígitos é impossível.

Que avaliação faz da eleição?

CRISTINA: Esses 45% são muito importantes.

Foram um reconhecimento, mas não a mim. Creio que foram um reconhecimento à gestão do presidente Kirchner. Tampouco me sinto longe. Fui parte do projeto, mas ele foi a nau-capitânea.

A senhora ficou decepcionada com o voto dos centros urbanos?

CRISTINA: Creio que um centro urbano, por excelência, é Mendoza. É uma cidade com classe média muito forte. Ganhamos lá com vantagem.

Há classe média também em Gran Tucumán, onde vencemos, e em toda a área que circunda a capital.

Como será a sua relação com a imprensa?

CRISTINA: Se voltar a ser meio de comunicação e não de oposição, será perfeita.

E quais devem ser os países amigos?

CRISTINA: Todos. Não quero que tenhamos inimigos. Amigos íntimos? Temos que priorizar nosso lugar na América Latina, ampliar o Mercosul e o tema energia. A equação energética da América Latina é fundamental.

Que papel terá o presidente?

CRISTINA: É um animal político, que ama profundamente a política, seu país, e tem um grande compromisso com a Argentina. Sempre quis ser o melhor. O melhor advogado, o melhor governador. Está em sua natureza. Se entra numa corrida, quer ganhar. Eu também. É uma atitude diante da vida.

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