Consenso ou enxaqueca
Foi necessária uma firme declaração da Ministra Dilma Rousseff, em Washington, proclamando que o debate sobre 2010 visava acabar com o governo, para que o próprio presidente e seus ministros - incluída a própria - caíssem na real.
Incentivar o debate sucessório, encorajar a pre-candidatura de Ciro e pesquisas sobre Dilma, plantar notinhas permanentemente sobre esse tema e ao mesmo tempo ignorar a construção de uma pauta política de governo e inclusive as eleições municipais de 2008, foi a manifestação de um clima de palanque, inimigo da agenda de governo.
A impasse sobre a votação da CPMF e o terrorismo verbal acabariam desaguando para uma derrota séria do governo amputado de um imposto absolutamente indispensável.
O bom senso aparentemente prevaleceu e o bom sinal veio também da própria Dilma, sobre os novos paradigmas a serem construidos entre governistas e oposição. Mereceu elogios até do editorial do Estadão.
Do lado do PSDB, a predisposição ao confronto antecipado sobre 2010 beneficiava o lado falcão dos tucanos, em detrimento dos governadores interessados numa pauta de governo. Este interesse de Serra e Aécio não está motivado exclusivamente pelo favoritismo deles para 2010. Intervém também um cálculo sobre o impacto de um clima de confronto acirrado com uma figura popular como a de Lula e fundamentalmente, com o céu de brigadeiro da economia brasileira nos próximos anos. O desgaste na opinião pública seria conseqüente e maior ainda entre os empresários e banqueiros. E como se sabe, não é por acaso que tucano tem bico d'oro e ele é pesado. Opinião das elites valem o dobro!
Um bom acordo sobre a CPMF é tão importante para o governo como para esses presidenciáveis tucanos, ajudando a isolar os partidários da radicalização. Se FHC e Alckmin seriam postos no escanteio, o mesmo acontecera com os "xiitas tucanófagos" no próprio PT.
A construção de consensos, além de benéfica para o pais, será um elemento de decantação nos partidos políticos com impacto em todas as forças, da situação e da oposição. Abriria espaço para um debate sério sobre a agenda de reformas que o Brasil aguarda e seguramente influenciaria setores da mídia hoje empenhada na agenda negativa.
Talvez eu esteja confundindo meus desejos com a realidade. É possível. Às vezes as pessoas confundem mão estendida com fraqueza e no lugar de espreitar a mão, cospem nela.
Nesse caso eu acordarei logo desinebriado, já a enxaqueca da ressaca acompanhará o brasileiro durante longos três anos, pelo menos.
Luis Favre
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