Cresce o movimento de passageiros nos aeroportos brasileiros
Os artigos com muitos números são chatos de ler. Mas este aqui afirma, e parece provar, que o Portal G1 da Globo e o jornal O Estado de São Paulo estão errados respeito da diminuição do movimento de passageiros da aviação comercial brasileira e das supostas "perdas" provocadas pela crise aérea. No blog Logística e Transporte, José Augusto Valente contesta com cifras essas informações. O Estado e O Globo responderão a estes dados?
Brasil perdeu R$ 3 bilhões com crise aérea (será?)
Este é o título da matéria do portal G1, que continua a insistir na temática da "crise aérea", aquela que não existiu.
Segundo a matéria, "A estimativa foi feita a pedido do jornal "Estado de São Paulo" pela empresa de consultoria econômica MB Associados - comandada pelo ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda José Roberto Mendonça de Barros - , especializada em análises macroeconômicas e setoriais. O trabalho levou em conta o prejuízo das empresas aéreas, do setor de turismo de lazer e de negócios.
Há uma outra matéria, no site do Estadão, com o título "Para diminuir perdas, TAM e Gol dão desconto de até 90%", que diz: "Apesar das estratégias das companhias, o número de vôos domésticos tem diminuído. No fim de 2006, a queda na venda de pacotes domésticos foi de 30% no ano passado e este ano deve ficar em 15%, ambos em relação ao mesmo período de 2005."
Eu sou aquele cara chato que, toda vez que alguém cita números, vai lá na fonte checá-los. Se não existir fonte confiável, checo as informações por evidências indiretas.
Pois bem, vejamos o que dizem as informações da Infraero, referentes ao movimento de passageiros (doméstico e internacional), no período 2004-2007.
2004 | Aeronaves | Passageiros |
Janeiro | 144.791 | 6.560.050 |
Fevereiro | 134.374 | 6.061.865 |
Março | 155.270 | 6.421.293 |
Abril | 149.209 | 6.390.354 |
Maio | 150.035 | 6.649.166 |
Junho | 149.308 | 6.487.418 |
Julho | 156.417 | 7.860.014 |
Agosto | 156.352 | 7.000.413 |
Setembro | 152.075 | 6.864.704 |
Outubro | 149.571 | 7.452.574 |
Novembro | 141.049 | 7.210.469 |
Dezembro | 151.852 | 7.747.941 |
Médias | 149.192 | 6.892.188 |
2005 | Aeronaves | Passageiros |
Janeiro | 147.283 | 8.126.675 |
Fevereiro | 135.133 | 6.792.538 |
Março | 152.875 | 7.601.623 |
Abril | 147.658 | 7.370.899 |
Maio | 156.701 | 7.689.057 |
Junho | 153.603 | 7.443.446 |
Julho | 159.422 | 9.375.644 |
Agosto | 161.522 | 8.211.139 |
Setembro | 151.741 | 8.147.144 |
Outubro | 156.236 | 8.540.314 |
Novembro | 154.156 | 7.947.943 |
Dezembro | 164.895 | 8.832.410 |
Médias | 153.435 | 8.006.569 |
2006 | Aeronaves | Passageiros |
Janeiro | 162.288 | 9.303.184 |
Fevereiro | 146.096 | 7.588.850 |
Março | 165.286 | 8.444.194 |
Abril | 152.788 | 8.349.760 |
Maio | 160.881 | 8.630.458 |
Junho | 154.015 | 8.400.090 |
Julho | 160.699 | 9.009.146 |
Agosto | 166.493 | 8.470.272 |
Setembro | 164.883 | 8.315.907 |
Outubro | 163.268 | 8.719.586 |
Novembro | 156.525 | 8.049.697 |
Dezembro | 165.316 | 8.904.232 |
Médias | 159.878 | 8.515.448 |
2007 | Aeronaves | Passageiros |
Janeiro | 166.398 | 9.734.669 |
Fevereiro | 152.444 | 8.301.372 |
Março | 173.430 | 9.028.652 |
Abril | 164.082 | 9.555.708 |
Maio | 172.881 | 9.347.215 |
Junho | 166.625 | 9.103.719 |
Julho | 173.106 | 9.276.683 |
Agosto | 176.501 | 8.235.088 |
Média | 168.183 | 9.072.888 |
Desagregando os passageiros transportados em 2007 (doméstico e internacional)
2007 | Doméstico | Internacional | Total |
Janeiro | 8.538.951 | 1.195.718 | 9.734.669 |
Fevereiro | 7.228.915 | 1.072.457 | 8.301.372 |
Março | 7.955.497 | 1.073.155 | 9.028.652 |
Abril | 8.575.074 | 980.634 | 9.555.708 |
Maio | 8.444.860 | 902.355 | 9.347.215 |
Junho | 8.168.137 | 935.582 | 9.103.719 |
Julho | 8.111.503 | 1.165.180 | 9.276.683 |
Agosto | 7.179.351 | 1.055.737 | 8.235.088 |
Médias | 8.025.286 | 1.047.602 | 9.072.888 |
***
Comentários com base nesses números e em outras informações confiáveis:
- A média de passageiros (doméstico e internacional) transportados em 2004 foi de 6,9 milhões. Em 2005, 8,0 milhões. Em 2006 - ano do acidente da Gol e do início do movimento dos controladores para responsabilizar o governo federal por ter causado o acidente -, a média foi de 8,5 milhões. Em 2007 - ano do acidente da TAM -, a média está em 9,0 milhões, porque fevereiro (antes do acidente da TAM) e agosto (um mês depois do acidente) puxaram para baixo.Os demais meses tiveram desempenhos superiores a todos os meses de 2006, à exceção de janeiro daquele ano, durante a propalada "crise aérea", aquela que não existiu.
- Logo, pelos números expostos, não houve impacto (ou foi irrelevante) da tal "crise aérea" no movimento de passageiros em 2007, em relação a 2006 (antes da "crise aérea")
- Pode ter havido perda financeira das empresas aéreas mas não porque reduziu o número de passageiros, mas sim devido à concorrência quase predatória que está ocorrendo entre as duas principais: a TAM e a Gol.
- A afirmação da matéria do Estadão de que "Apesar das estratégias das companhias, o número de vôos domésticos tem diminuído. No fim de 2006, a queda na venda de pacotes domésticos foi de 30% no ano passado e este ano deve ficar em 15%, ambos em relação ao mesmo período de 2005" não se sustenta em fatos, já que os números mostram o oposto disso - um constante crescimento. As médias de 2006 e de 2007 estão bem acima da média de 2005.
- A constatação de que houve uma redução de pacotes turísticos no primeiro semestre de 2007 em relação ao de 2006 não verifica a hipótese de que boa parte dos turistas internos, diante da melhor renda e da desvalorização do dólar, tenha optado em 2007 pelo turismo internacional.
- Dados divulgados pelo Banco Central revelam que:
- Os gastos de turistas estrangeiros em visita ao Brasil, no 1º semestre de 2007, totalizaram US$ 2,436 bilhões, contra US$ 2,195 bilhões nos seis primeiros meses de 2006 (+10,98%).
- Por outro lado, a despesa cambial turística aumentou de US$ 2,664 bilhões, em jan.-jun./2006, para US$ 3,496 bilhões em idêntico período de 2007 (+31,23%).
- Se for mantido o ritmo mensal de entrada de dólares, a receita anual poderá alcançar US$ 4,8 bilhões em 2007, convertendo-se no melhor ano da história do turismo nacional, ultrapassando o recorde de US$ 4,316 bilhões registrado em 2006.
- Vale ressaltar, também, que o considerável aumento da despesa cambial turística se deve, principalmente, ao fato de maior número de brasileiros aproveitarem a valorização do real para viajar e realizar maiores gastos no exterior.
- Finalmente, em relação à matéria do Globo, fica a pergunta: como houve uma perda de R$ 3 bilhões, nos últimos 365 dias, se os números mostram crescimento e não redução (a não ser pontual em um ou outro mês, o que é normal nas séries históricas da aviação comercial brasileira) no número de passageiros transportados?
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