segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Cresce o movimento de passageiros nos aeroportos brasileiros

Os artigos com muitos números são chatos de ler. Mas este aqui afirma, e parece provar, que o Portal G1 da Globo e o jornal O Estado de São Paulo estão errados respeito da diminuição do movimento de passageiros da aviação comercial brasileira e das supostas "perdas" provocadas pela crise aérea. No blog Logística e Transporte, José Augusto Valente contesta com cifras essas informações. O Estado e O Globo responderão a estes dados?

Brasil perdeu R$ 3 bilhões com crise aérea (será?)



Este é o título da matéria do portal G1, que continua a insistir na temática da "crise aérea", aquela que não existiu.

Segundo a matéria, "A estimativa foi feita a pedido do jornal "Estado de São Paulo" pela empresa de consultoria econômica MB Associados - comandada pelo ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda José Roberto Mendonça de Barros - , especializada em análises macroeconômicas e setoriais. O trabalho levou em conta o prejuízo das empresas aéreas, do setor de turismo de lazer e de negócios.

Há uma outra matéria, no site do Estadão, com o título "Para diminuir perdas, TAM e Gol dão desconto de até 90%", que diz: "Apesar das estratégias das companhias, o número de vôos domésticos tem diminuído. No fim de 2006, a queda na venda de pacotes domésticos foi de 30% no ano passado e este ano deve ficar em 15%, ambos em relação ao mesmo período de 2005."

Eu sou aquele cara chato que, toda vez que alguém cita números, vai lá na fonte checá-los. Se não existir fonte confiável, checo as informações por evidências indiretas.

Pois bem, vejamos o que dizem as informações da Infraero, referentes ao movimento de passageiros (doméstico e internacional), no período 2004-2007.



2004 Aeronaves Passageiros
Janeiro 144.791 6.560.050
Fevereiro 134.374 6.061.865
Março 155.270 6.421.293
Abril 149.209 6.390.354
Maio 150.035 6.649.166
Junho 149.308 6.487.418
Julho 156.417 7.860.014
Agosto 156.352 7.000.413
Setembro 152.075 6.864.704
Outubro 149.571 7.452.574
Novembro 141.049 7.210.469
Dezembro 151.852 7.747.941



Médias 149.192 6.892.188



2005 Aeronaves Passageiros
Janeiro 147.283 8.126.675
Fevereiro 135.133 6.792.538
Março 152.875 7.601.623
Abril 147.658 7.370.899
Maio 156.701 7.689.057
Junho 153.603 7.443.446
Julho 159.422 9.375.644
Agosto 161.522 8.211.139
Setembro 151.741 8.147.144
Outubro 156.236 8.540.314
Novembro 154.156 7.947.943
Dezembro 164.895 8.832.410



Médias 153.435 8.006.569


2006 Aeronaves Passageiros
Janeiro 162.288 9.303.184
Fevereiro 146.096 7.588.850
Março 165.286 8.444.194
Abril 152.788 8.349.760
Maio 160.881 8.630.458
Junho 154.015 8.400.090
Julho 160.699 9.009.146
Agosto 166.493 8.470.272
Setembro 164.883 8.315.907
Outubro 163.268 8.719.586
Novembro 156.525 8.049.697
Dezembro 165.316 8.904.232



Médias 159.878 8.515.448


2007 Aeronaves Passageiros
Janeiro 166.398 9.734.669
Fevereiro 152.444 8.301.372
Março 173.430 9.028.652
Abril 164.082 9.555.708
Maio 172.881 9.347.215
Junho 166.625 9.103.719
Julho 173.106 9.276.683
Agosto 176.501 8.235.088



Média 168.183 9.072.888


Desagregando os passageiros transportados em 2007 (doméstico e internacional)

2007 Doméstico Internacional Total
Janeiro 8.538.951 1.195.718 9.734.669
Fevereiro 7.228.915 1.072.457 8.301.372
Março 7.955.497 1.073.155 9.028.652
Abril 8.575.074 980.634 9.555.708
Maio 8.444.860 902.355 9.347.215
Junho 8.168.137 935.582 9.103.719
Julho 8.111.503 1.165.180 9.276.683
Agosto 7.179.351 1.055.737 8.235.088




Médias 8.025.286 1.047.602 9.072.888

***

Comentários com base nesses números e em outras informações confiáveis:
  • A média de passageiros (doméstico e internacional) transportados em 2004 foi de 6,9 milhões. Em 2005, 8,0 milhões. Em 2006 - ano do acidente da Gol e do início do movimento dos controladores para responsabilizar o governo federal por ter causado o acidente -, a média foi de 8,5 milhões. Em 2007 - ano do acidente da TAM -, a média está em 9,0 milhões, porque fevereiro (antes do acidente da TAM) e agosto (um mês depois do acidente) puxaram para baixo.Os demais meses tiveram desempenhos superiores a todos os meses de 2006, à exceção de janeiro daquele ano, durante a propalada "crise aérea", aquela que não existiu.
  • Logo, pelos números expostos, não houve impacto (ou foi irrelevante) da tal "crise aérea" no movimento de passageiros em 2007, em relação a 2006 (antes da "crise aérea")
  • Pode ter havido perda financeira das empresas aéreas mas não porque reduziu o número de passageiros, mas sim devido à concorrência quase predatória que está ocorrendo entre as duas principais: a TAM e a Gol.
  • A afirmação da matéria do Estadão de que "Apesar das estratégias das companhias, o número de vôos domésticos tem diminuído. No fim de 2006, a queda na venda de pacotes domésticos foi de 30% no ano passado e este ano deve ficar em 15%, ambos em relação ao mesmo período de 2005" não se sustenta em fatos, já que os números mostram o oposto disso - um constante crescimento. As médias de 2006 e de 2007 estão bem acima da média de 2005.
  • A constatação de que houve uma redução de pacotes turísticos no primeiro semestre de 2007 em relação ao de 2006 não verifica a hipótese de que boa parte dos turistas internos, diante da melhor renda e da desvalorização do dólar, tenha optado em 2007 pelo turismo internacional.
  • Dados divulgados pelo Banco Central revelam que:
    • Os gastos de turistas estrangeiros em visita ao Brasil, no 1º semestre de 2007, totalizaram US$ 2,436 bilhões, contra US$ 2,195 bilhões nos seis primeiros meses de 2006 (+10,98%).
    • Por outro lado, a despesa cambial turística aumentou de US$ 2,664 bilhões, em jan.-jun./2006, para US$ 3,496 bilhões em idêntico período de 2007 (+31,23%).
    • Se for mantido o ritmo mensal de entrada de dólares, a receita anual poderá alcançar US$ 4,8 bilhões em 2007, convertendo-se no melhor ano da história do turismo nacional, ultrapassando o recorde de US$ 4,316 bilhões registrado em 2006.
    • Vale ressaltar, também, que o considerável aumento da despesa cambial turística se deve, principalmente, ao fato de maior número de brasileiros aproveitarem a valorização do real para viajar e realizar maiores gastos no exterior.
  • Finalmente, em relação à matéria do Globo, fica a pergunta: como houve uma perda de R$ 3 bilhões, nos últimos 365 dias, se os números mostram crescimento e não redução (a não ser pontual em um ou outro mês, o que é normal nas séries históricas da aviação comercial brasileira) no número de passageiros transportados?

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