terça-feira, 4 de setembro de 2007

Fazer a roda girar

TENDÊNCIAS/DEBATES FOLHA DE SÃO PAULO


MARTA SUPLICY

O potencial turístico do Brasil é imenso, mas subaproveitado, por falta de políticas permanentes de estímulo à atividade

A FRANÇA e a Espanha recebem milhões de turistas estrangeiros todos os anos. Isso é muito bom para a economia desses países. Mas não é isso que assegura a eles a condição de potências turísticas. O que garante esse status é a estratégia de investir no turismo interno, mantendo o mercado aquecido, preservando os empregos e a musculatura da atividade. E isso é feito por meio de vigorosos investimentos em programas de turismo social, dirigidos a aposentados, trabalhadores e jovens, nos períodos de baixa ocupação.

O "Cheque Vacance", carro-chefe da política social de turismo na França, assegurou, em 2005, um movimento financeiro de aproximadamente 1 bilhão de euros. O "Cheque Vacance" é distribuído para 2,5 milhões de pessoas e beneficia 7 milhões de turistas.

A Espanha investe a cada ano 75 milhões de euros para garantir programas de turismo a mais de um milhão de idosos. Para cada euro investido, retornam aos cofres públicos 1,7 euros por meio de impostos arrecadados. Esse investimento assegura a criação de 10 mil novos empregos nos períodos de baixa ocupação.

Há sete anos, o vizinho Chile lançou o programa Vacaciones Tercera Edad. Pesquisas do Serviço Nacional de Turismo do Chile mostram que a saúde dos idosos melhorou, o grau de satisfação é de 98,66%, houve incremento do turismo na baixa ocupação, aumentou o número de empregos e melhorou a infra-estrutura turística.

Foi baseado em exemplos assim que o Ministério do Turismo decidiu criar o programa Viaja Mais - Melhor Idade. Não se trata de inventar a roda, mas de fazer a roda girar.

O potencial turístico do Brasil é imenso, mas subaproveitado, por falta de políticas permanentes de estímulo à atividade. Os países em que a atividade turística é forte e consolidada possuem estratégias para os períodos de baixa ocupação. E é isso que pretendemos estimular com o programa Viaja Mais, que começa agora com a versão Melhor Idade, mas que será ampliado com pacotes para trabalhadores, estudantes e outros segmentos da sociedade.

O Brasil possui aproximadamente 17 milhões de habitantes com mais de 60 anos de idade. Desses 17 milhões, cerca de 4 milhões vivem no Estado de São Paulo, maior mercado emissor de viagens para o mercado interno.

Segundo estudo realizado pelo Ministério do Turismo em parceria com a Fipe, desses 4 milhões, 1,6 milhão viajam regularmente. Dos 2,4 milhões que não têm o hábito de viajar, 800 mil não o fazem por falta de estímulo e condições de financiamento.

Portanto, somente no Estado de São Paulo, somando aqueles que já viajam com os que podem vir a fazê-lo com estímulo e crédito, o público potencial do Viaja Mais - Melhor Idade é de 2,4 milhões de turistas.

Mas o sucesso de um programa assim depende de um trabalho continuado, permanente e bem estruturado para implantar uma mudança na cultura de consumo do brasileiro. Não se trata de competir com o celular ou com o eletrodoméstico. Mas, sim, de agregar na cesta de consumo, a preços bem acessíveis, um produto tido como nobre.

Os pacotes do Viaja Mais - Melhor Idade variam de três a oito dias, a preços promocionais e contam com a facilidade do crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS, com juros abaixo de 1% ao mês. Isso foi possível porque conseguimos recursos do FAT para financiar os pacotes. Não há nada mais justo que o Fundo de Amparo ao Trabalhador financiar viagens para quem trabalhou a vida inteira e nunca teve a oportunidade de conhecer o Brasil.
Além de financiar viagens, os recursos do FAT vão ajudar a gerar emprego e renda nos destinos que receberão os turistas da Melhor Idade.
O programa Viaja Mais - Melhor Idade veio para ficar. Será progressivamente implantado em todo o país. Neste ano, os mercados emissores serão o Estado de São Paulo e o Distrito Federal. São Paulo, por ser responsável por 35,4% das passagens emitidas no Brasil. Brasília, por sua centralidade, facilitando roteiros para o Centro-Oeste, o Norte e o Nordeste.

A partir do ano que vem, novos mercados emissores serão agregados.
Porém, todas as regiões do país já estão sendo beneficiadas nessa primeira fase como destino das viagens. Em todo o país, o Viaja Mais vai gerar empregos e oportunidades.

Os hotéis de todo o Brasil estão de portas abertas e preparados para receber os turistas da Melhor Idade. Pouco a pouco, tenho certeza, vamos conseguir mostrar ao consumidor que gastar com viagens é tão ou mais importante que trocar o eletrodoméstico ou o celular.

O Ministério do Turismo garante: viajar faz bem à saúde, faz bem à alma, faz bem à economia e faz bem à geração de empregos.


MARTA SUPLICY, 62, é ministra do Turismo. Foi prefeita da cidade de São Paulo pelo PT (2001-2004).

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