sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Estudo revela poluição elevada em seis capitais

AFRA BALAZINA
da Agência Folha

Um estudo feito em seis capitais brasileiras revelou que nenhuma delas atende ao padrão da Organização Mundial de Saúde para poluição do ar. Segundo pesquisa do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP, São Paulo ainda é a capital mais poluída do Brasil, mas Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife não podem se orgulhar por terem ar limpo.

Medições realizadas entre maio e julho deste ano mostram a situação desfavorável em todas elas. O estudo, obtido com exclusividade pela Folha, analisa o poluente material particulado fino (mistura de poeiras e fumaça). A principal fonte de emissão do poluente são os veículos.

A OMS recomenda que a concentração de material particulado fino não ultrapasse os 10 microgramas por metro cúbico. Porém, a média foi demais de 20 microgramas por metro cúbico nessas capitais.

Em São Paulo, chegou a 30. Recife, que foi a cidade que ultrapassou menos vezes o limite durante a pesquisa, teve média 12 --ainda um pouco acima do padrão.

Segundo o patologista Paulo Saldiva, do laboratório de poluição da USP, a exposição de longo prazo a esse tipo de poluição está diretamente relacionada a mortes por doenças cardiovasculares e por bronquites crônicas.

Mesmo em exposições de curta duração, as pessoas podem sentir efeitos da alta concentração do poluente: cansaço, tosse seca, irritação nos olhos, no nariz e na garganta.

Foi o que aconteceu com o professor de química Elson Barros, 38. Sua camionete quebrou ontem no túnel Anhangabaú (centro de SP). Nos 15 minutos que ficou lá, sentiu dificuldades para respirar e ardor nos olhos. "Geralmente, quando passo nos túneis, fico de vidros fechados para não inspirar a fumaça toda."

O professor não sabia que amanhã é o Dia Mundial Sem Carro, uma iniciativa para refletir sobre o excesso de veículos e suas conseqüências. Considera, porém, a idéia positiva.

"Eu perco uma hora e meia em congestionamento todos os dias. A cidade fica infernal a partir das 18h."

Junto com o dia sem carro, haverá também a Virada Esportiva na capital paulista --a população poderá se exercitar, participar de jogos e passeios ciclísticos em vários locais.

Falta de monitoramento

De acordo com André Ferreira, representante da Fundação Hewlett no Brasil, algumas capitais têm rede de monitoramento precárias ou falhas, o que impede o acompanhamento e a cobrança por medidas que amenizem o problema.

"Recife sequer possui rede de monitoramento. Em Porto Alegre, o último dado disponível para o público é de 2002 e a média anual para material particulado mostrava que não atendia ao padrão", afirma.

A pesquisa da USP foi encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente e patrocinada pela Fundação Hewlett.

Ontem, segundo medições da Cetesb (agência ambiental paulista), foi registrada má qualidade do ar na estação Nossa Senhora do Ó (zona norte de SP) --o que a deixou em estado de atenção. Nenhuma das estações automáticas do Estado registrou qualidade boa.

A reportagem percorreu São Paulo ontem com um medidor portátil de material particulado fino. Até mesmo a região considerada menos poluída da cidade, a serra da Cantareira, ultrapassa o padrão da OMS.

O equipamento foi emprestado do laboratório da USP. Segundo o engenheiro Paulo Afonso de André, responsável pelo instrumento, os ventos levam a poluição até para a área da Cantareira, na zona norte --mais alta e afastada do centro. "Nenhuma região de São Paulo está imune."

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