sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Brasil discute mais restrições a têxteis chineses

Governo brasileiro também quer estimular venda de bens manufaturados à China

O estado de São Paulo (para assinantes)

O vice-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, tem uma agenda politicamente complicada nesta sexta-feira em Pequim. Ele tentará convencer o governo da China - terceiro maior mercado para produtos brasileiros e segundo maior fornecedor do Brasil - a aceitar novas limitações às vendas de tecidos e roupas para o País.

Discutirá os números das exportações chinesas de brinquedos, porque as estatísticas dos dois países não batem. Pedirá a certificação de frigoríficos para destravar as exportações de carnes. Defenderá os interesses de indústrias exportadoras brasileiras, incluída a Embraer, e lembrará aos chineses as promessas de investimentos feitas durante a visita do presidente Hu Jintao ao Brasil, em 2005. Mas o documento, como lembrou depois um executivo do setor privado, referia-se a intenções dos dois lados e não especificava o montante dos investimentos.

Apesar das controvérsias, o comércio entre os dois países continua crescendo bem acima da média mundial e o vice-ministro Ivan Ramalho (secretário-executivo, na denominação oficial) exibe otimismo quanto às possibilidades de maior intercâmbio. Em dois anos, segundo ele, as importações chinesas deverão pular de US$ 800 bilhões para mais de US$ 1 trilhão, e ele espera ver o Brasil participando dessa evolução.

Os chineses também terão uma pauta de cobranças, admitiu Ramalho, ontem, numa entrevista em Dalian, onde participou de uma reunião do Fórum Econômico Mundial. Eles deverão discutir as ações antidumping movidas pelo Brasil, na Organização Mundial do Comércio (OMC), contra os exportadores chineses de glifosato, escovas de cabelo, pentes e componentes de bicicletas. Além disso, poderão perguntar por que o governo brasileiro ainda não regulamentou o reconhecimento da China como economia de mercado - assunto discutido em Brasília na visita do presidente chinês.

O protocolo assinado na viagem do presidente Hu Jintao, lembrou Ramalho, mencionava importações de produtos brasileiros e investimentos no País. Foi assinado em 2006 contrato para a compra de 100 aviões da Embraer, metade montada no Brasil, metade na China. Além disso, houve uns poucos investimentos chineses no Brasil. Mas os processos de venda de aviões montados na fábrica brasileira da Embraer vêm sendo tratados com lentidão, segundo Ramalho. A formalização do reconhecimento da China como economia de mercado, explicou, virá como contrapartida da solução desses problemas.

Em relação aos tecidos e confecções, os brasileiros pretendem a ampliação da lista de produtos sujeitos a “restrições voluntárias” de exportações pelos chineses. A lista já em vigor cobre pouco mais de 60 posições tarifárias da pauta comercial brasileira. A pretensão é incluir mais 10 a 15 itens. Não será uma conversa fácil, especialmente porque o Brasil convenceu os parceiros do Mercosul, recentemente, a elevar a tarifa externa comum cobrada nas importações de tecidos e confecções, ampliando a proteção da indústria nacional.

No caso dos brinquedos, a idéia é propor a harmonização das estatísticas. As exportações para o Brasil registradas pelo governo chinês são maiores que as importações da China contabilizadas no Brasil. Pode tratar-se de subfaturamento. Trabalho semelhante de harmonização já foi iniciado para outros produtos.

A corrente de comércio com a China - exportações mais importações - cresceu 34,5% no ano passado e, de janeiro a julho deste ano, foi 38,9% maior do que um ano antes. Até julho, o Brasil vendeu ao mercado chinês US$ 6,06 bilhões e importou US$ 6,26 bilhões. Com isso, o comércio bilateral foi deficitário para o Brasil pela primeira vez desde 2001.

As exportações brasileiras foram 28,3% superiores às de janeiro a julho de 2006. As importações foram 51% maiores que as de igual período do ano passado. O intercâmbio deverá superar US$ 20 bilhões em 2007 e o superávit ficará com a China.

Um dos objetivos do governo brasileiro, segundo Ramalho, é aumentar a participação de manufaturados nas exportações para o mercado chinês - sem reduzir as vendas de produtos básicos. No ano passado, 74% das vendas brasileiras para a China foram de produtos básicos. Dois produtos, soja e minério de ferro, proporcionaram cerca de 60% da receita total. Em contrapartida, a China obteve com produtos industrializados 97,5% do valor das vendas ao Brasil.

Ramalho participou ontem de uma reunião do Conselho Empresarial Brasil-China, encontro promovido como parte das atividades do Fórum Econômico Mundial em Dalian. Além dele, estiveram na reunião 27 executivos dos dois países, em sua maioria brasileiros.

Os empresários brasileiros têm dado mais atenção aos problemas do que às oportunidades, comentou o presidente do conselho, Ernesto Henzelmann. A empresa por ele dirigida, a Embraco, fabricante de compressores, opera uma filial em Pequim desde 1995. A capacidade de produção, 4,5 milhões de unidades/ano, deverá chegar a cerca de 6,5 milhões até 2008. No Brasil, a empresa pode produzir cerca de 17 milhões. Produtos não fabricados na China são importados do Brasil.

Nenhum comentário: