Computador vai para escola 'rica'
Unidades localizadas em bairros que recebem alunos com maior renda têm mais acesso à internet, diz estudo
Confira dados do estudo
Lisandra Paraguassú, BRASÍLIA
É nas escolas públicas localizadas em áreas centrais e que recebem alunos com maior renda que hoje está a maioria dos poucos computadores oferecidos aos estudantes. Um estudo preparado pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz para a Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) mostra que o acesso a computadores e internet ainda é, no País, reservado à parcela mais rica da população - mesmo nas escolas públicas.
Um cruzamento feito com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2003 mostra que, no grupo de alunos da 8ª série do ensino fundamental com renda familiar mais baixa, apenas 28% têm acesso a computadores. Entre os estudantes de escolas públicas com maior renda, esse porcentual sobe para 67,2%. O mesmo ocorre no 3º ano do ensino médio: 37% daqueles com renda menor estudam em escolas com computador. Na faixa de renda superior, são 73,3%.
“As políticas privilegiam as escolas centrais. Todo o sistema de acesso gratuito foi pensado para democratizar, mas não está fazendo isso. Continua beneficiando os mais privilegiados”, diz Waiselfisz.
Não é apenas nas escolas que a diferença ocorre. Apenas 2,9% dos estudantes de ensino médio e 1% dos de ensino fundamental de renda mais baixa usam a internet em locais de acesso gratuito (como os Telecentros). Já entre aqueles com renda mais alta, são 10,2% do ensino médio e 8,6% do fundamental.
DESIGUALDADE PERPETUADA
A explicação, mostra o estudo, é que áreas mais pobres e periféricas não são atendidas pelo poder público por preconceito. “Há três fantasmas: o primeiro deles é o do roubo e da depredação, que leva à escolha de escolas mais centrais; o segundo é a pressão política das escolas de prestígio, que atendem a classe média”, avalia Waiselfisz. “O terceiro é o fato de que os professores dessas escolas tendem a ter mais domínio de informática, o que facilita a escolha.” O resultado é uma perpetuação dos padrões de desigualdade.
Segundo o pesquisador, estudos mostram que o uso de internet nas escolas públicas da União Européia e do Chile é praticamente igual nos diferentes perfis de renda. No Chile é até maior entre os mais pobres. No Brasil, considerada toda a população, quase 60% dos mais ricos acessam a internet. Entre os mais pobres, apenas 3,2%. Com 17,2% da população com acesso à rede, o País é o 76º entre 192 países. O Estado de São Paulo
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