Beleza!
Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br
Apesar da valorização do real diante do dólar, as exportações continuam exuberantes, batendo recordes. O saldo comercial foi o terceiro melhor do ano e ultrapassou os US$ 3,8 bilhões. Em 12 meses, medidas por média diária, as importações avançaram 27,3%, mas as exportações não ficaram tão atrás, vêm crescendo a 20,2%.
Os analistas, sempre tão conservadores quando tratam do comportamento do comércio exterior, estão levando o drible da vaca das estatísticas, o que leva a acreditar que ou não estão fazendo direito as contas, ou não estão entendendo o que está acontecendo.
Ontem, por exemplo, o Banco Central divulgou o Relatório de Mercado para os principais itens da economia, levantado semanalmente entre cem instituições brasileiras. E as estimativas para o saldo comercial deste ano são de US$ 42,2 bilhões, muito aquém do que deverá de fato acontecer.
Em 12 meses, o saldo comercial já é de US$ 47,6 bilhões e é recorde. Tende a crescer, pois o segundo semestre é, em geral, melhor do que o primeiro. A partir do crescimento do primeiro semestre, dá para avaliar que o superávit comercial (exportações menos importações) deste ano ficará entre US$ 48 bilhões e US$ 50 bilhões, bem acima até mesmo das projeções revistas do mercado.
Outro equívoco consiste em apostar que as importações logo estarão ultrapassando as exportações. Se os atuais padrões de crescimento se mantiverem, as importações só encostarão nas exportações em sete anos. É claro, não se pode projetar linearmente esses números, mas, a menos que haja uma reviravolta no mercado internacional, que ninguém enxerga, é melhor usar essas projeções do que quaisquer outras.
Como explicar esse desempenho da balança comercial num ambiente cambial supostamente hostil às exportações e tão benéfico às importações? Não há apenas uma explicação. É preciso levar em conta pelo menos três: (1) a demanda por commodities continua crescendo, aumentando os preços e, assim, as receitas; (2) ao menos 60% das exportações se dirigem a mercados que também estão sofrendo valorização cambial em relação ao dólar; e (3) os exportadores de produtos industrializados estão conseguindo reduzir preços, seja pela incorporação de mais tecnologia seja pela importação de mais componentes, insumos e maquinário de última geração.
O fato é que o setor de manufaturados, o mais sensível à valorização cambial, continua crescendo (14,5% no primeiro semestre) e sua perda de participação no universo exportável (de 56,0% em 2006 para 53,5% em 2007) é quase irrelevante.
Desse quadro é preciso tirar ao menos duas conclusões. A primeira é a de que, se apenas a balança comercial pode despejar US$ 50 bilhões por ano no mercado interno de câmbio, a tendência é o real continuar a se valorizar. Segunda conclusão, paradoxal: o exportador é o mais prejudicado pela valorização do real mas é, também, seu principal causador.
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