Políticas reclamam que têm pouco espaço
Senadora aponta bloqueio; Erundina critica machismo
O Estado de São Paulo
A bênção do eleitorado se justifica. As mulheres não apenas acham que talvez possam melhorar o Brasil - elas têm certeza. Quase unânimes, elas fazem coro com o eleitorado: o Brasil será melhor se for comandado por mulheres. “O mundo é comandado pelas gravatas”, protesta a escritora Nélida Piñon. “As mulheres no poder reduziriam a corrupção”, assegura a atriz Beatriz Segall, concordando com a manifestação popular.
Uma lei obriga os partidos brasileiros a dedicarem 30% das vagas a que têm direito em cada eleição a candidatas mulheres. Mas o mundo político tem outra dimensão. No Senado, elas são 10, em 81 vagas (12,3%); na Câmara, são 45, em 513 deputados (8,8%). Uma mulher nunca participou da Mesa Diretora da Câmara nem nunca presidiu as mais importantes comissões técnicas Casa, a de Constituição e Justiça e a de Economia.
DISTANTE DO PODER
O governo Lula aumentou o número de mulheres dirigindo ministérios e secretarias, mas nos dois casos a deputada Luíza Erundina (PSB-SP) atesta que a idéia central é manter a mulher longe do poder real: “Tirando a Dilma (Rousseff, chefe da Casa Civil), vai olhar o orçamento das outras”, exclama.
Ministra Dilma Roussef e a governadora Yeda Crusius.
Foto: Jefferson Bernardes/Divulgação
Tem mais. A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) denuncia que as poucas mulheres que chegam ao Congresso enfrentam uma barreira invisível: são sempre tangidas para áreas dos “assuntos de mulher” - questões femininas, dos jovens e da infância, educação. “Duro é entrar no debate que interessa, a discussão dos temas econômicos”, constata Kátia, que conseguiu furar o bloqueio e foi relatora da medida provisória que prorrogava a CPMF.
A ascensão das mulheres tem dois fortes estímulos, explica a historiadora Mary del Priore, da USP: “De um lado, os Legislativos horrendos que temos; de outro, o exemplo que vem de fora.” Ela entende que, diante do “papelão” dos políticos homens, o povo está olhando para a mulher, que historicamente cumpre o papel de mãe e de controle da casa. “Daí para entregar-lhe em caráter quase messiânico o posto de mãe de todos e de gestora da grande casa, o Estado, é um pulo.”
Deputada Maria do Rosário (PT-RS)
Quando passou a disputar o mercado de trabalho e o espaço político, a mulher não abandonou o seu papel de gestora da casa e da prole, complementa a deputada Maria do Rosário (PT-RS), que luta dentro do seu partido para sair candidata a prefeita de Porto Alegre. Essa missão histórica é que gera a expectativa da sociedade de que, na vida política, ela será mais dedicada. A honestidade vem daí, diz Rosário: “A mulher se doa. Se tem pouco alimento à mesa, ela não será a primeira a comer.”
Mas é sempre mais difícil para a mulher lutar pela ocupação dos espaços políticos: “O homem é educado para ocupar os espaços públicos e a mulher é treinada para ocupar os espaços privados”, diz Erundina. Nélida vai na mesma toada: “A mulher é treinada para manter-se reclusa e exercitar a pequena moral familiar é que a faz íntegra.” Mas Beatriz acredita que aos poucos o preconceito vai se reduzindo e o País se tornará mais maduro.
Erundina se queixa, ainda hoje, de que os caciques do PT lhe deram pouco apoio em 1988: “Lula nem foi à minha posse.” O passado da ex-prefeita atesta uma reclamação atual de Rosário: os partidos de esquerda são tão machistas quanto os de direita. No entanto, a presença da mulher na política é essencial para colorir a democracia, atalha a ex-deputada Denise Frossard (PPS), agora candidata à prefeitura do Rio.
“A mulher tem outra percepção das coisas. E tem uma vantagem: no mundo inteiro, participa da política sem se envolver muito com a corrupção”, diz. Ela reconhece que a mulher, às vezes, não sabe fazer o jogo do poder. “Um homem diz que vai fazer o metrô até a lua. Já a mulher não tem coragem de fazer demagogia.”
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