Os ventos de Iowa
Que o editorial do jornal francês Le Monde denomine uma "ruptura americana", os resultados das primárias no Estado de Iowa, pode até ser um exagero. Mas, indiscutivelmente, o recado é altamente significativo.
Os eleitores de Iowa elegem poucos delegados para as convenções dos Democratas e dos Republicanos, que serão as que decidem em definitivo qual será o nome ungido candidato oficial dos respectivos partidos. A verdadeira tendência começará a aparecer após a "super terça", no mês de fevereiro, em que vários Estados elegem simultaneamente seus delegados, depois portanto da escolha do Estado de New Hampshire a semana próxima.
Também é verdade que Bill Clinton, por exemplo, perdeu em Iowa, nas primárias que acabaram escolhendo-o candidato pelo partido Democrata à Casa-Branca. O mesmo pode se repetir com Hillary Clinton agora.
Nada disso porém, apaga as lições do inicio deste complexo processo de escolha. Os eleitores de ambos partidos privilegiaram candidatos pouco representativos do establishment político, defensores de posições de maior mudança, de posturas por vezes polêmicas e até com menor experiência que as principais figuras de ambos os lados.
Paradoxalmente, Hillary Clinton acabou penalizada pela sua postura mais de centro, moderada e consensual, sendo que elas eram aparentemente necessárias para reduzir a rejeição ao fato de ser mulher, progressista e com vida familiar digamos, conturbada.
Pode ser que os eleitores de Iowa estejam expressando um sentimento nacional de mudanças após o desastrado governo Bush, sua política belicista e guerreira no Iraque e os impasses econômicos, conseqüência da crise das hipotecas e também do aprofundamento da desigualdade social visível na questão da saúde, da renda e do emprego, por exemplo.
Ainda é cedo para saber se o fenômeno é local ou passageiro, ou se traduz uma tendência mais profunda. O fato do beneficiado no campo Democrata ser um jovem senador negro, de origem imigrante e isto em um Estado de maioria branca e perfil conservador parece expressar algo mais que um humor passageiro.
Barack Obama tem dinheiro para sustentar a campanha e recebeu um apoio ao seu discurso de mudança. Resta saber se Hillary saberá captar os novos ventos de Iowa para recuperar o espaço perdido.
New Hampshire nós dará mais uma dica de para onde vão os Estados-Unidos. Para o resto do mundo isto tem, seguramente, uma certa importância.
Luis Favre
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