Jacqueline Du Pré, no palco e pelos colegas
photo : © G Macdomnic EMI Classics
Documentário de Christopher Nupen reúne depoimentos inéditos e vídeos raros da empolgante violoncelista inglesa
João Luiz Sampaio
O Estado de São Paulo
A história da música está repleta de momentos que, não vividos, povoam a nossa imaginação como instantes excitantes de genialidade e descoberta. Deve ter sido assim aquela noite em que, no Royal Festival, em Londres, uma jovem de 17 anos apresentava-se pela primeira vez ao público junto a seu violoncelo. Um crítico a definiu como uma mistura da Alice de Lewis Carroll e um anjo da Renascença, 'alta, loira, magra'. E logo todos souberam que Jacqueline Du Pré estava destinada a grandes conquistas.
Dez anos mais tarde, no entanto, em outro daqueles momentos que fazem com que o tempo interrompa brevemente seu fluxo, Jacqueline tocava no Carnegie Hall quando percebeu que não sentia mais as cordas com a mão esquerda. Estava com esclerose múltipla, doença que a afastaria dos palcos e, 14 anos após ser diagnosticada, lhe tiraria todos os movimentos e, finalmente, a própria vida.
Diversas polêmicas surgiram nos anos que se seguiram. Sua relação com o maestro e pianista Daniel Barenboim, sua obsessão pelo sexo, sua vida familiar conturbada, sua relação de amor e ódio com o violoncelo, todos já foram temas de discussões, em especial após o lançamento, no final dos anos 90, de Hillary and Jackie, filme de Anand Tucker sobre a vida da violoncelista e de sua irmã, sucesso de bilheteria que provocou a ira de colegas da musicista. De forma que, quando surge um novo documentário sobre Jacqueline, imediatamente nosso radar se volta para essas questões. Com esse objetivo, no entanto, será decepcionante o DVD Jacqueline Du Pré: A Celebration of her Unique and Enduring Gift, de Christopher Nupen (Allegro Films). Ele afirma que os mitos surgem para explicar o inexplicável. 'Quanto mais se busca entendê-los, justificá-los ou negá-los, mais os perpetuamos', diz o diretor, que preferiu, em suas palavras, 'apresentar Jaqueline por meio dos olhos e ouvidos daqueles que a conheceram e por meio de suas interpretações'. Assim, ouvimos nomes como Pinchas Zukerman, Zubin Mehta, Barenboim, Dietrich Fischer-Dieskau, Vladimir Ashkenazy ou Janet Baker falando de suas experiências com Jackie, depoimentos intercalados por interpretações de obras de Beethoven, Schubert e Brahms. Momentos únicos.
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