sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Febre de pânico

por Alexandre Xavier

Valter Campanato/Agência Brasil

"Brasileiro não só gosta de fila, como também gosta de tomar injeção"

Atravessei a fronteira do Distrito Federal com Goiás no início do ano sem estar vacinado contra a febre amarela. E não estou febril e nem morri. Pensei em compartilhar esse relato com as pessoas que faziam fila em frente a um posto de vacinação do Rio de Janeiro nesta segunda-feira, mas iam me chamar de suicida. E eu ia chamá-los de malucos, já que o risco de se pegar febre amarela no centro do Rio é inexistente e, mesmo sem viajar para as áreas de risco, muita gente esperou HORAS para ser vacinado à toa.

Depois de ver a reportagem da Globonews com a posterior cara de preocupada da apresentadora, cheguei à seguinte conclusão: brasileiro não só gosta de fila, como também gosta de tomar injeção. Qual a outra explicação? Medo? De fato a febre amarela é o principal assunto da mídia brasileira em 2008. É papel dela alimentar o pânico na audiência para vender mais jornal (só lembrar que quando o PCC "sitiou" São Paulo, os sites de notícia ficaram entupidos, quando o avião da TAM explodiu, as revistas venderam mais e quando o Corinthians caiu, o diário Lance evaporou).

Mas a mídia não é a vilã dessa história sozinha; toda reportagem sobre a febre amarela traz o adendo com certo destaque de que "não há risco de epidemia". Nos últimos dois meses, mais gente morreu devido a complicações respiratórias por causa da poluição endêmica de São Paulo do que devido à febre amarela. A febre amarela hoje é dos problemas menos graves do Brasil, por incrível que pareça. E mesmo assim anda causando tumulto.

O que falta mesmo é aparecer um mosquito que dissemine a febre do bom-senso. Uma epidemia de bom-senso faria deste um país muito menos doente (é claro que muito jornal e tevê por aí ia exigir vacina contra o bom-senso pra não perder leitor e audiência). Mas já que o vírus do bom-senso anda extinto, vacine-se contra a mídia de massa. A febre amarela é inócua perto dela.


Alexandre Xavier é editor da revista JungleDrums (www.jungledrums.org) e escreve quinzenalmente direto da terra da Rainha e dos Sex Pistols

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Um comentário:

Marco Antonio disse...

A “epidemia” de febre amarela já matou 5 pessoas no Brasil de Lula em 2008. A “epidemia” de chacinas na São Paulo de Serra/Kassab, matou 7 pessoas em um só dia.