quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Com filas nos postos de saúde, Rio vive agora "revolta pela vacina"


RAQUEL ABRANTES

DA SUCURSAL DO RIO

O Rio de Janeiro, cidade em que houve a Revolta da Vacina há 103 anos, agora assiste à "revolta pela vacina": parte dos cariocas quer ser imunizada contra a febre amarela (apesar de a última ocorrência da doença na cidade datar de sete anos atrás), enfrenta filas nos postos de saúde e sai revoltada se não consegue.
A média mensal de aplicações da vacina em 2007 era de 3.000 doses, mas, de 19 de dezembro até ontem, já foram distribuídas 80 mil ampolas na cidade, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
A aposentada Francisca Oliveira, 82, foi ao Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, em Copacabana, para tomar a vacina com o marido e a empregada. Ao chegar à unidade, às 16h, as ampolas tinham acabado. "Todo mundo está com medo. Começa com dois, três casos e depois vira epidemia", diz Francisca.
Para o historiador André Luiz Vieira de Campos, da Universidade Federal Fluminense, o pânico hoje é gerado pela memória "desse palavrão" que é a febre amarela. No início do século 20, a falta de saneamento e as péssimas condições de higiene faziam do Rio um foco de epidemias, principalmente de febre amarela, varíola e peste.
O sanitarista Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917) assumiu a Direção Geral da Saúde Pública e determinou a vacinação obrigatória, que se tornou o estopim para que os moradores do Rio se revoltassem. Entre 10 e 16 de novembro de 1904, a população fez barricadas e enfrentou a polícia e o Exército nas ruas, sendo reprimida com violência.
"Em 1904, pouquíssima gente conhecia o princípio da vacina", lembra o historiador.
A Secretaria Municipal de Saúde disse que disponibiliza 4.000 vacinas por mês, repassadas pelo Ministério da Saúde, mas que está adquirindo doses extras.
O Ministério da Saúde confirmou sete mortes por febre amarela no país neste ano -duas mortes a mais do que o registrado ao longo de todo o ano passado. A vacinação é indicada apenas para quem vai viajar para áreas de risco e para a população desses locais: regiões Norte e Centro-Oeste, Maranhão, Minas Gerais, parte dos Estados de Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A imunização contra a doença dura dez anos.
A febre amarela é uma doença infecciosa aguda, transmitida pela picada dos mosquitos transmissores infectados, mas não passa de uma pessoa para outra. É causada pelo vírus RNA e os sintomas são: febre, dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia (a pele e os olhos ficam amarelos) e hemorragias (de gengivas, nariz, estômago, intestino e urina).

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