domingo, 13 de janeiro de 2008

Ciência hoje, antes que seja tarde



JORGE WERTHEIN


Todas essas fontes afirmam a necessidade de dar passos sistemáticos para incluir a educação de ciências desde o ensino fundamental


SOMOS MUITOS , porém não tantos, os que, há anos, insistimos em outorgar à ciência a prioridade que lhe corresponde e os que consideramos o desenvolvimento científico e tecnológico condição "sine qua non" para impulsionar o desenvolvimento social e econômico do país.
Somos muitos, porém não tantos, os que acreditamos na importância de que nossas crianças e adolescentes realizem atividades científicas como parte de seu cotidiano.
Somos muitos, porém não tantos, educadores, empresários, jornalistas e políticos que estamos mobilizados para que se resolvam os problemas estruturais da educação brasileira, assumindo a importância da educação científica, parte essencial da solução dos problemas históricos da baixa qualidade do nosso ensino.
Somos esses muitos, porém não tantos, os que afirmamos que o ensino de ciência é fundamental para a produção científica e tecnológica atingir um patamar compatível com as necessidades sociais e econômicas do país.
Para isso, precisamos que a escola desperte o interesse do aluno pela ciência desde cedo. No entanto, há uma disparidade entre o desempenho dos estudantes e os rankings mundiais do ensino de ciências.
No Brasil, essa realidade tem raízes nas deficiências do ensino fundamental. De acordo com Marco Antonio Raupp, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), "foi feito um grande esforço [do governo federal], com agências voltadas à pós-graduação, mas nada comparável foi realizado em relação ao ensino fundamental".
A isso se somam a falta de qualificação dos professores de ciências e a falta de infra-estrutura que possibilite espaços adequados para pesquisa científica nas escolas.
Segundo Alaor S. Chaves, membro titular da Academia Brasileira de Ciências, além de empreender um vigoroso programa de educação em ciências, é preciso que o Brasil reveja a forma como a ciência é ensinada.
Para Isaac Roitman, também membro da ABC, "por meio de uma nova educação científica no ensino fundamental, poderemos mudar esse nível de ensino, preparando jovens que não vão aceitar um ensino médio ou superior de baixa qualidade".
O ministro da Educação da Argentina, Juan Carlos Tedesco, também defende a idéia de que o ensino de ciências deve estar no centro das estratégias de melhoria da qualidade da educação, visando o desempenho produtivo dos cidadãos do século 21.
Além disso, de acordo com o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), existe uma correlação evidente entre educação, ciência e tecnologia, por um lado, e redução da pobreza e desigualdades, por outro.
Não somente nós, dos países em desenvolvimento, estamos preocupados com a necessidade do ensino de ciências. Em 2003, a Comissão Européia encomendou a um grupo de alto nível a realização de diagnóstico sobre políticas públicas que deviam ser formuladas para formar mais profissionais da área científica.
O estudo recomenda que, "para estar familiarizado com o desenvolvimento de rápido avanço nessa área, é essencial que a educação científica seja parte do currículo desde cedo; o ensino de ciências devia ser parte-chave do currículo da escola primária". Por que todas essas fontes, de diversas realidades, vêm afirmando a necessidade de dar passos sistemáticos para incluir a educação de ciências desde o ensino fundamental?
Porque, assim como os espanhóis não aceitam que a Espanha esteja colocada no posto 31 do ranking entre os 57 países avaliados no Pisa 2006 (OCDE), a Argentina (em 51º lugar), a Colômbia (53º), o México (49º), o Chile (40º) e o Brasil (52º) não podem aceitar que isso aconteça de novo.
Acreditamos que, para isso, a solução é enfrentar, com firme decisão, uma realidade em que a imensa maioria das escolas públicas de ensino fundamental sofre com a falta de políticas integrais de educação, ensino de ciências e professores capacitados.
Por isso, temos que ser muito mais políticos, economistas, cientistas, empresários, jornalistas, professores, secretários estaduais e municipais da Educação e da Ciência e Tecnologia, para que, juntos, formulemos e implementemos uma política pública de ensino de ciências para os próximos 50 anos no Brasil.
Pois, em definitivo, quem duvida, depois de tantos argumentos, que, antes que seja tarde, a ciência tem que ser hoje?


JORGE WERTHEIN , 66, sociólogo argentino, mestre em comunicação e doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana). Foi representante da Unesco no Brasil (1997 a 2005) e assessor especial do secretário-geral da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura) de 2005 a 2006.

Nenhum comentário: