quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Turno e returno

MELCHIADES FILHO
Folha de São Paulo

BRASÍLIA - Poucas discussões são tão ociosas como a que versa sobre supostas divergências entre Lula e seu partido em torno da sucessão. Nenhum dos atores que se assanham para 2010 acha que o PT abrirá mão de encabeçar chapa.
Primeiro porque política, como diriam Jean-Claude Van Damme e Renan Calheiros, é "retroceder nunca, render-se jamais". Não se entrega espaço de mão beijada.
Segundo, o petismo não sofreu revés nas urnas que justifique um recuo tático. Pelo contrário, 2006 confirmou um eleitorado fiel.
Terceiro, o PT não haveria de prescindir da candidatura que funciona como propulsora para outras (Estados e Congresso). Quarto, é conveniente ao Planalto incluir um concorrente integralmente comprometido com os trunfos (e trastes) dos dois mandatos.
Por fim, quanto mais palanques, melhor para Lula. Por que ele dispensaria o benefício de receber, catalogar e agradecer elogios? A disputa entre aliados no primeiro turno já está "contratada". Houve até um ensaio, no ano passado em Pernambuco, e o governo saiu inteiro dele. O PT lançou o ex-ministro Humberto Costa contra Eduardo Campos, do lulista PSB. Perdeu e fez as pazes, bonitinho, no segundo turno.
Para Lula e o PT, mais inquietantes são as dificuldades de composição em um tira-teima contra a oposição em 2010. Sabem que a militância petista não engole Ciro Gomes, do PSB, o primeiro a colocar o bloquinho na rua. As opções no PMDB são tão ou mais indigestas.
O debate cascateiro sobre um candidato único procura aparar essas arestas. Mira o único cenário em que Lula de fato seria derrotado. Até porque o inimigo já percebeu esse dilema. O apoio decisivo dos tucanos na vitória de Arlindo Chinaglia na Câmara, a trégua na Assembléia paulista em que até petista vota para engavetar CPIs, a revoada de ministros sobre São Paulo -aos poucos tudo ganha sentido.


mfilho@folhasp.com.br

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