segunda-feira, 3 de setembro de 2007

PT fragilizado cai no colo de Lula

Blog dos Blogs

Helena Chagas

Quem te viu, quem te vê... O PT saiu manso como um cordeirinho de seu congresso nacional. Não criticou a política econômica, não pediu a cabeça do presidente do Banco Central e fez, sobretudo, o que Lula queria: desistiu da resolução em que diria que não abre mão da candidatura própria em 2010 em troca de um texto bastante mais ameno, na linha da composição com os partidos da coalizão governista. Está, pois, explicado o discurso de Lula deste sábado e, sobretudo, seus efeitos no partido: fragilizado após o julgamento da denúncia do mensalão no STF, o PT descobre que, fora dos braços protetores de Lula, não há solução.

O presidente da República percebeu muito bem isso e falou para o público interno, defendendo os seus como aquele pai que até admite surrar o filho que errou, mas não permite que ninguém mais bata nele. Lula falou ao coração peista, tocou o lado emocional da militância e acabou conseguindo o que queria: manter o partido bem quietinho lá no seu canto, sem melindrar os aliados - sobretudo o bloquinho de esquerda que apóia Ciro Gomes - e, portanto, sem prejudicar seu governo.

Ao falar ao público interno, porém, Lula passou um pouco do tom aos olhos do público externo. Foi além do que diz sempre - que não há ainda culpados nem inocentes, que os acusados ainda serão julgados e que quem errou vai pagar pelos erros - para pedir aos petistas que não tenham vergonha de defender seus acusados. Ora, e se forem culpados??? Mais uma vez também o presidente optou pela estratégia de dividir o mundo entre os que estão com ele e os que estão contra ele. Pode até funcionar num congresso do PT que ele precisa unir, domar e controlar - e para isso nada melhor do que um inimigo, ou um tsunami, para enfrentarmos todos juntos. Mas a estratégia da radicalização permanente pode também afastar e excluir forças que estão no meio do caminho e ainda poderiam ser conquistadas.

Ao fim e ao cabo, porém, o que se tem depois do STF e do Congresso do PT é um Lula mais forte em seu partido. As forças que até pouco tempo atrás pareciam preparadas para botar a faca no pescoço presidencial - por exemplo, deixando claro desde já que o partido não abre mão da candidatura própria em 2010 -, que coincidem com o grupo do ex-ministro José Dirceu e outros acusados, saem visivelmente enfraquecidas do episódio. E o PT, mais do que nunca, precisa do colo de Lula. O próximo passo será o presidente eleger uma direção do partido à sua imagem e semelhança nas eleições diretas antecipadas para dezembro.

enviada por Helena Chagas

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