O boi vai atrás - Carlos Brickmann para o Observatório da Imprensa
Unanimidade: a imprensa toda festeja a aceitação, pelo Supremo Tribunal, da denúncia do Ministério Público contra quarenta acusados no Caso do Mensalão. Tamanha é a alegria que sobram duas certezas para o consumidor de notícias:
1 – Os réus já estão condenados;
2 – A partir de agora, com a perspectiva de punição de graúdos acusados de corrupção, começa uma nova vida para o país.
Um terceiro grupo, mais radical e mais reduzido, diz que, com a aceitação da denúncia contra os 40, só fica faltando alcançar seu chefe, o barbudo Ali Babá.
Tamanha é a alegria, a alegria é tamanha, que faltou ressaltar no noticiário que os acusados se tornaram réus, mas não foram julgados. E só depois do julgamento poderão ser considerados culpados e receber a punição legal devida.
Mesmo se forem todos condenados, a vida não vai mudar tanto assim. Já tivemos presidente deposto, após nomear o irmão para a chefia de Polícia do Rio, na época o cargo mais importante da repressão; já tivemos presidente que, para não ser deposto, suicidou-se. Já tivemos presidente afastado por impeachment, acusado de corrupção, com punições também a seus auxiliares mais próximos. Tivemos a CPI da Corrupção, que emparedou o Governo Sarney. Hoje, os integrantes do Governo Sarney, incluindo o próprio, e os mais ferozes inquisidores da CPI da Corrupção estão juntos, lado a lado, no apoio ao presidente Lula.
Tanta unanimidade, pois, só se explica por um motivo: a Síndrome de Manada, que assola boa parte do jornalismo brasileiro. O importante não é descobrir novos assuntos, novos ângulos, novos temas: é seguir a pauta da concorrência. E, é claro, assim fica mais fácil para as reportagens trabalharem em pool.
Como dizia Nelson Rodrigues, nunca suficientemente citado, toda unanimidade é burra. Tão burra que nem percebe que Ali Babá não era o chefe da quadrilha dos 40 ladrões. Ali Babá foi quem localizou seu esconderijo e os prendeu.
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