Apesar do otimismo, presidente mostra preocupação com alta dos alimentos
BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, durante entrevista a emissoras de rádio, que o Banco Central (BC) vai continuar perseguindo o cumprimento da meta de inflação (4,5% neste e nos próximos dois anos), pois o governo não está disposto a abrir mão do controle sobre a variação dos preços. Neste contexto, Lula avaliou que a redução do corte da taxa básica de juros Selic, de 0,5 ponto percentual para 0,25 ponto, faz parte desse objetivo.
O presidente afirmou que o mercado interno é extremamente importante e é a “mola propulsora” da sustentabilidade do modelo econômico em vigor e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Mas demonstrou preocupação com a alta de preços no setor de alimentos, principal responsável pelo aumento da inflação. A elevação do índice também guarda relação com o aquecimento da atividade econômica e o aumento da renda.
— Não iremos permitir que a inflação volte, porque na hora em que ela voltar, o prejuízo é direto no bolso das pessoas que vivem de salário e das pessoas mais pobres. — Quando atinge dois dígitos, ninguém segura mais. Nós não iremos permitir que a inflação saia da meta — afirmou o presidente, que alertou os especuladores para que “tirem o cavalo da chuva, porque a inflação não vai voltar”.
A escalada dos preços, no entanto, não será contida com medidas de estímulo à compra de produtos no exterior. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, adiantou ontem ao GLOBO que não será reduzida a alíquota para importação de trigo, produto que está em alta, puxando uma série de outros itens, como pães e massas.
Mantega informou que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) já concluiu os estudos e apontou que a medida não reduziria os preços no mercado doméstico.
A solicitação de mudança na taxa, hoje de 10%, foi feita pela associação que representa os produtores brasileiros, a Abitrigo.
Isso porque a Argentina, principal fornecedor brasileiro, limitou as exportações do grão por enfrentar problemas de abastecimento doméstico.
— Já tenho relatório, e ele mostra que não adianta baixar a alíquota pois não vai baixar o preço — afirmou o ministro.
Fazenda monitora preços para evitar alta do índice Mantega explicou que a segunda opção de mercado para o Brasil seriam os Estados Unidos.
Porém, devido ao custo de transporte — 25% do preço de cada tonelada do trigo — não haveria qualquer tipo de compensação. Além disso, pesa o fato de a cotação do grão — uma commodity — ter subido no mundo inteiro.
Para os demais produtos que pressionam a inflação — lácteos e carnes — Mantega afirmou que também não cogita diminuir as tarifas de importação neste momento, pois não existe chance de efeito prático sobre os preços internos. No caso das carnes, porque o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo. No caso dos lácteos, porque também houve aumento no exterior.
— Mas se houver algum setor com uma alta de preço, e a redução da alíquota de importação contribuir para baixar (o preço), não titubearemos em fazer — afirmou, incluindo cimento e aço entre os itens que também estão sendo monitorados pela Secretaria de Acompanhamento Econômico. O Globo (para assinantes)
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