terça-feira, 4 de setembro de 2007

Analistas nos Estados Unidos recomendam investir no Brasil

WILLIAM J. HOLSTEIN

DO "NEW YORK TIMES"


Quando se fala em investimentos, muitos americanos associam a palavra "estrangeiro" a alto risco. Consultores geralmente aconselham a não ter mais de 10% a 20% de papéis estrangeiros em sua carteira de ações. Do contrário, os investidores podem ter grandes perdas na eventualidade de uma crise externa, como a asiática, nos anos 1990.

Mas a última rodada de problemas financeiros globais começou em casa, nos EUA, como resultado da crise nas hipotecas de alto risco ("subprime"). Desta vez, os EUA exportaram volatilidade ao resto do mundo. Ao menos é esse o argumento de especialistas financeiros, para quem os investidores não devem olhar para os EUA como um refúgio seguro. Ao contrário, dizem que deveriam ter parte importante de suas carteiras em fundos de ações de empresas não-americanas.

É o que defende, por exemplo, Uri Landesman, do banco ING Americas. Ele defende que investidores individuais devem ter de 40% a 50% de sua carteira em investimentos fora dos Estados Unidos. "Compre um fundo que não tenha ações dos EUA", diz Landesman.

Ellen Rinaldi, executiva da administradora de fundos Vanguard, diz que os investidores não devem tomar decisões apressadas por causa da volatilidade no mercado interno, mas acrescenta que faz sentido para o investidor médio ter 20% de seus investimentos em fundos de ações estrangeiros. "Buscar os 20% seria uma boa diversificação", diz Rinaldi, para quem passar de 30% já seria mais arriscado.

Mercados emergentes tradicionalmente eram vistos como os de maior risco no mundo, mas ao longo de muitos anos eles vêm atraindo uma enxurrada de dinheiro e tendo forte desempenho. "Não são mais os mercados emergentes do tempo do seu pai", diz Arthur P. Steinmetz, que administra US$ 20 bilhões em ativos no Oppenheimer Funds, dos quais US$ 5 bilhões em emergentes.

Steinmetz, baseado em Nova York, diz que a maioria dos mercados emergentes está muito mais sofisticada e estável do que há dez anos, na crise asiática. Ele ressalta que o Brasil, por exemplo, tem US$ 160 bilhões em reservas internacionais e que sua dívida externa, antes motivo de preocupação, encolheu dramaticamente, e o país está muito mais preparado para enfrentar a volatilidade. "A proteção que o Brasil tem contra um contágio da crise externa é muito maior do que costumava ser", diz ele.

Embora Steinmetz diga que é uma boa hora para comprar fundos de países emergentes, Antoine van Agtmael, chefe da Emerging Markets Management, recomenda que o investidor espere mais um pouco por causa das altas recentes nos preços das ações. "Os mercados emergentes estão com preços altos", diz Van Agtmael, cuja empresa administra US$ 20 bilhões em investimentos em mercados emergentes.

Ele diz que os emergentes são uma boa aposta nos próximos cinco anos, mas não nos próximos meses.

Embora Steinmetz e Van Agtmael discordem sobre o momento de investir, eles compartilham a visão de que uma maior desvalorização do dólar e outros rearranjos macroeconômicos necessários para reduzir as dívidas dos Estados Unidos com o resto do mundo tornam o investimento em papéis no exterior cada vez mais importante. "Diria que estar exposto a papéis internacionais denominados em outras moedas que não o dólar é uma proteção útil", diz Steinmetz.

A Van Agtmael, o autor de "The Emerging Markets Century" ("O Século dos Mercados Emergentes"), é atribuída a criação do termo "mercados emergentes" no início dos anos 1980. Ele argumenta que mudanças estruturais nos mercados emergentes significam que eles estão estáveis o suficiente para o investidor norte-americano médio.

The New York Times
, reproduzido pela Folha de São Paulo.

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