quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Juiz do caso Richarlyson deveria estar aposentado,


Felipe Corazza Barreto
Reprodução

Cartaz da Copa do Mundo promovida pela IGLFA



A sentença proferida pelo juiz Manoel Maximiano Junqueira que, entre outras afirmações, diz que um jogador homossexual deve "abandonar os gramados" é preconceituosa e errada, na avaliação do presidente da Associação Internacional de Futebol de Gays e Lésbicas (IGLFA, na sigla em inglês), Thomas Gómez.


Em entrevista a Terra Magazine, Gómez comentou trechos da sentença na qual o juiz rejeitou uma queixa-crime de Richarlyson, atleta do São Paulo, contra o dirigente José Cyrillo Jr., do Palmeiras. O cartola alviverde teria insinuado, em um programa de televisão, que o atleta são-paulino é homossexual.

Veja também:
» Íntegra da sentença do juiz Junqueira
» Opine aqui sobre a decisão do juiz

A decisão do magistrado tem trechos que Gómez chama de inacreditáveis. Maximiano escreveu, por exemplo, que seria melhor que um atleta homossexual abandonasse os gramados. Diz também a sentença que o futebol é um jogo "viril, varonil, não homossexual".

Maximiano já foi afastado do caso e deve prestar explicações sobre a sentença ao Conselho Nacional de Justiça. Grupos contra o preconceito, como o GGB (Grupo Gay da Bahia), já pensam em processar o juiz por discriminação.

Leia a entrevista com Thomas Gómez:

Terra Magazine - Um juiz brasileiro publicou uma sentença dizendo que o futebol "é um jogo viril, varonil, não homossexual". Qual a sua avaliação disso?
Thomas Gómez - Em primeiro lugar, sinto muito por esse juiz. Ele não sabe nada sobre esportes ou sobre identidade sexual. Ele precisa urgentemente de um treinamento sobre diversidade sexual. A identidade sexual não tem absolutamente nada a ver com a prática esportiva.

O magistrado afirma também que se um jogador é homossexual, é melhor que deixe o futebol...
Não sei se o Brasil tem alguma lei contra o preconceito por sexualidade, mas essa declaração é altamente preconceituosa. Futebol não tem a ver com homem ou mulher, ser um homossexual não significa ser incapaz.

Em mais um trecho da sentença, o juiz afirma que se um homossexual quer jogar futebol, deve montar seu próprio time e fundar a própria liga. Se um homossexual não quiser jogar em uma liga como a IGLFA, o sr. vê isso como problema?
Bem, nesse caso, o juiz deve se aposentar, pois não está apto para o trabalho. Na IGLFA nós temos jogadores homossexuais e heterossexuais. Não discriminamos. Por ser homossexual, um jogador não precisa jogar em um time ou uma liga de homossexuais. É uma declaração errada.

Ainda no caso da sentença, o magistrado diz que um jogador homossexual poderia prejudicar "a uniformidade de pensamento do time, o entrosamento, o equilíbrio". Qual a sua avaliação?
Talvez essa declaração demonstre um desequilíbrio do próprio juiz. É a única hipótese que vejo para interpretar essa afirmação. É inacreditável que no século XXI, um juiz, que representa o Poder Judiciário do Brasil, diga algo desse tipo e continue a trabalhar.

Grupos pelos direitos dos homossexuais do Brasil querem processá-lo...
É óbvio. Eles têm que impedir a ignorância antes que ela se espalhe por todo o país.

Em geral, o sr. acha que jogadores homossexuais devem deixar tornar público que o são?
A sexualidade é algo pessoal. Ninguém é obrigado a sair por aí pregando. Deve-se, sim, promover o esporte, a habilidade, os valores e princípios. A vida sexual é privada, ninguém tem o direito de falar sobre ela. Mas, se um jogador decide tornar pública sua vida privada, tem que ser escolha própria, não uma imposição de terceiros.

Terra Magazine

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