quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Paris: Mau humor, mon amour

Correio Braziliense

Campanha da Secretaria de Turismo da França combate a fama de capital mal-humorada, distribuindo cartilhas entre profissionais da rede hoteleira, garçons e taxistas


Do Estado de Minas
Carlos Altman/EM - 28/4/05
Bar na região de Aquitânia: franceses não gostam de dar informação para quem só fala inglês
Na última semana, a chamada “cidade-luz” resolveu enfrentar uma questão pública: o mau-humor de seus habitantes. A Secretaria de Turismo da França organizou a campanha Paris é sua (Paris est à vous), com a divulgação de folhetos para garçons, taxistas e profissionais da rede hoteleira. O material, distribuído por voluntários, dá dicas de educação e gentileza, para melhorar a fama da cidade — ao mesmo tempo em que o número anual de 16 milhões de turistas faz dela a mais visitada do mundo, a glamourosa Paris carrega a pecha de ser pouco acolhedora. A bióloga Catarina Almeida que o diga. Quando esteve na cidade, em janeiro, discutiu feio com um taxista, que reagiu ao macarrônico “Je ne parle pas français; je suis brésilienne” dela: ele fez um muchocho, dando de ombros, à la “o problema é seu, se vire”. “Eu só sabia falar aquelas duas frases em francês. O motorista se recusou a se comunicar em inglês comigo, e na hora eu gritei pra ele: Stop right now!”, desabafa. O condutor, aborrecido, entendeu e atendeu ao apelo.

Em contrapartida, o professor de francês Leonardo Assis não tem do que reclamar. Morou por lá durante três anos e apesar de não ter sido maltratado em nenhum momento acredita que os parisienses tenham um “jeitão” que pode ser interpretado como falta de educação mesmo. “E falar inglês não é bom não. Já vi caso das pessoas virarem as costas”, complementa. Cinara Diniz, professora de inglês “com pronúncia muito americana” concorda. A situação só ficava boa para o lado dela quando a moça explicava ser brasileira: “Daí abriam um sorriso e puxavam um papo sobre Lula ou o Brasil recordista mundial em cirurgias plásticas”. Cinara ficou a maior parte do tempo em Lions e diz que é importante não generalizar: “Foi legal porque deu para perceber as diferenças entre os franceses no geral e os parisienses. Você não é recebido da mesma forma no interior de Minas e em São Paulo, né?”, compara. Para a pedagoga Valéria Lockman, que passou férias em Paris e também viajou pelo interior da França, a diferença no tratamento não é justificada, mas explicada pela correria da metrópole. “Em Paris você vai para conhecer os monumentos, a cidade e não as pessoas, que, de fato, não têm paciência pra parar e conversar com o turista”. Em compensação, nas pequenas cidades, Valéria e o marido Paulo Alberto tiveram experiências mais acolhedoras: “Você conhece gente, tem contato com o dia a dia e a cultura daquelas pessoas sensacionais. Lugares assim valem mais a pena, pra mim. O povo até batia palma quando a gente acertava alguma pronúncia em francês”, relembra.

“De uma forma geral, o povo parisiense é mal-humorado mesmo. Eu sou francês, mas tenho que falar a verdade”. É a opinião de Philippe Laplace, diretor da France Viagens Operadora, de Belo Horizonte. Natural de Champignon, Philippe vive no Brasil há seis anos e acha que o povo que mora em Paris fica um pouco incomodado com a quantidade de turistas. É nesse sentido que a campanha “Paris é sua”, da Secretaria de Turismo, lembra, nas entrelinhas, que os visitantes merecem ser bem tratados, porque, afinal de contas, são esses mesmos turistas que deixam na cidade 14 bilhões de euros por ano. O antídoto para possíveis desentendimentos, de acordo com Lucia Helena Monteiro Machado, autora do livro Paris para brasileiros é simples: “Em Paris, três expressões abrem todas as portas: bonjour, s’il vous plaît e merci. É uma questão de boa educação, que, na verdade, é útil em qualquer lugar do mundo”.

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