Candidatos correm atrás do eleitor em Iowa
Às vésperas das primárias, republicanos e democratas invadem o dia-a-dia da população em busca de votos
José Meirelles Passos
O Globo
DES MOINES, Iowa. É difícil escapar deles. Ou, pelo menos, não sentir a sua presença. Vaise ao supermercado e lá está o republicano Fred Thompson, ex-senador e ator, improvisando um comício para os clientes.
Vira-se uma esquina e o alvoroço que se nota em frente a uma barbearia nada tem a ver com algum incidente: são curiosos ouvindo Mike Huckabee, outro republicano, que dá entrevistas à imprensa e se dirige aos eventuais eleitores, enquanto recebe um corte de cabelo e é barbeado.
Alguém vai devolver um livro na biblioteca pública e lá encontra Hillary Clinton falando a um grupo de senhoras.
Veteranos de guerra jogam cartas e dominó num clube quando, de repente, surge John McCain para pedir votos.
Barack Obama não perde a chance de entrar numa lanchonete na hora do almoço para conversar com os freqüentadores.
Tem sido assim para a população de Iowa desde junho passado. Todos os 15 précandidatos presidenciais se tornaram freqüentadores assíduos do estado, visitando não só a capital, Des Moines — com seus 190 mil moradores — mas também dezenas de vilarejos interioranos como Dike, que tem apenas 944 residentes. Grundy Center, comunidade rural com 2.500 habitantes, detém o título de local que mais eventos eleitorais per capita realizou até aqui: nada menos do que 13 c o m í c i o s .
William McNarney também é dono de um recorde, apesar de sua tenra idade. Aos sete meses, ele se tornou o bebê mais paparicado pelos candidatos de ambos os partidos em suas andanças por Des Moines: seus pais já o fotografaram nos braços de oito deles.
Juntos, candidatos republicanos e democratas já passaram o equivalente a 500 dias fazendo campanha nesse pequeno estado no Meio-Oeste americano onde, amanhã, será realizada a primeira prévia eleitoral da corrida à Casa Branca deste ano. Todos os 99 condados de Iowa foram visitados por eles.
Propaganda eleitoral assume caráter mais agressivo Cada candidato também conta com um exército particular de ajudantes. Os republicanos têm 126 funcionários pagos fazendo propaganda no estado. Os democratas têm muito mais: 573. Isso sem levar em conta os voluntários.
Só Hillary e Barack contam com mais de mil deles. E esse pessoal trabalha em ritmo de mutirão, com a maioria vivendo temporariamente em residências de simpatizantes do partido ou de algum candidato em particular.
Nos últimos dias os moradores de Iowa também vêm sendo bombardeados por uma intensa e persistente avalanche de anúncios. Sem contar as rajadas de telefonemas de alguém pedindo votos para o seu preferido. A estimativa dos especialistas no assunto é de que pouco mais de um milhão de chamadas telefônicas sejam feitas entre hoje e amanhã.
Por trás delas estão pessoas escolhidas a dedo, por terem muitos amigos ou conhecidos em suas respectivas comunidades: — Como todo mundo hoje tem telefone que exibe a identificação de quem está chamando, ninguém nesta época de eleição atende, a menos que conheça a pessoa que está ligando — disse Ned Chiodo, gerente de um campo de golfe em Des Moines.
Liga-se o rádio para ouvir uma música e nos intervalos entre uma e outra entra a voz de um dos candidatos afirmando ser a pessoa indicada para dirigir o país. Filmes e shows de TV também são entremeados por clipes. No início eles procuravam apresentar os postulantes e destacar seus talentos. No entanto, os novos filmes surgidos nos últimos dias têm contido ataques pessoais e diretos a rivais nessa disputa.
O velho método de comprar o voto através de presentes e agrados — como acontece no Brasil, com a farta distribuição de camisetas nas cidades e de botinas no agreste — também é adotado nos EUA. Barack Obama, por exemplo, está pagando babás para os casais que não têm com quem deixar as crianças para irem votar.
Hillary montou uma brigada de removedores de neve no gelado estado de Iowa, onde tem feito uma média de 13 graus negativos. Centenas de pás vêm sendo distribuídas pelo seu comitê eleitoral a correligionários, para que retirem a neve acumulada, em especial na porta das casas de pessoas mais velhas, para que elas também se sintam animadas a irem votar.
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