domingo, 14 de outubro de 2007

Ganhei meu dia

Primeiro, porque voltando do cinema encontrei um post de Sylvia que disse:

Sylvia

A voracidade de seu blog me surpreendeu.
A quantidade, a diversidade e a qualidade das informações deram um nó na minha cabeça, acostumada a olhar o mundo pelo buraco de uma fechadura.

Não sei se conheço a leitora Sylvia, mas que é um baita encorajamento, isso é.

Segundo, porque quebrando uma reticência para com tudo o que é muito badalado na mídia, assisti ao "Tropa de Elite", o filme que não foi escolhido para representar o Brasil no Oscar do estrangeiro em Hollywood.

A Globo gostou do filme, eu não. Os estereótipos, de qualquer espécie, me resultam indigestos e essa estória de bandidos e mocinhos made in favela do Rio -mesmo bem filmada- é primária.

PM corrupta, pacifistas idiotas úteis (logicamente maconheiros) e BOPE puro -na purificação redentora do extermínio do mal- parece série B ou novela da Globo (com mais violência e menos sexo, ponto para a... novela).

A moral da estória (se moral há, tenho dúvidas) é que só a violência é pura quando empregada para fazer o bem (eliminar o tráfico). Os policiais corruptos são eliminados pela violência da escolha da elite. O BOPE é brutal na seleção, brutal nas marchas que acompanham o treinamento, brutal no trato de todas e todos os que não representam a missão purificadora. A tortura é o instrumento redentor, permitindo a progressão da "salvação" no interior da favela. A escória é eliminada. O "herói" se robotiza na função exterminadora, preparando um mundo limpo para seu filho.

Simbolicamente os responsáveis do "sistema", que fazem a força do tráfico, são os consumidores da classe média, que ao mesmo tempo com suas ONGs sociais e suas marchas pacifistas preservam o poder dos marginais.

Ganhei meu dia, porque assistir ao filme me permitiu entender porque a Globo gostou.

E entender, me faz sentir que o dia valeu a pena. Porque gosto da frase do filósofo Spinoza: "Nem rir, nem chorar, mas compreender".

Luis Favre

2 comentários:

Sylvia disse...

Luis, Monteiro Lobato dizia que queria que seus livros fossem uma casa, onde as crianças pudessem morar. Passei minha infância no Síto e agora encontrei em seu blog, uma nova casa, estou aqui sempre, mas completamente perdida. São muitas informações. Horas atrás vi uma série de novas pinturas e novos vídeos de tango, mas não acho mais. E foi por puro acaso que li o que escreveu do meu comentário.

Sylvia disse...

Eu tb gosto dos versos da Cecília Meirelles:
Não sou alegre / nem sou triste / sou poeta.