domingo, 7 de outubro de 2007

Aumento de renda dos idosos atrai empresas

População acima de 60 anos já responde por quase 15% do mercado de consumo brasileiro

Martha Beck

O Globo

BRASÍLIA. De olho num público responsável por quase 15% do mercado de consumo no país, as empresas brasileiras estão se especializando em serviços para idosos. As ofertas são as mais variadas, de pacotes de viagem com desconto em folha do INSS, passando por serviços de intercâmbio e exercícios, a aparelhos acionados de casa para receber atendimento médico em caso de emergência. Tudo para atrair uma população de 19 milhões de brasileiros, que deve chegar a 30 milhões em 2020.
O poder de compra aumentou, graças ao ganho real do salário mínimo. As pessoas acima de 60 anos tiveram elevação da renda familiar per capita de R$ 243 nos últimos 14 anos.

Segundo o chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri, os idosos brasileiros são responsáveis por 14,53% do mercado de consumo no país, algo em torno de R$ 13 bilhões.

O percentual vem subindo ano a ano: era de 10,8% em 1992 e de 14,03% em 2003, segundo cálculos feitos com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

— O poder de mercado dos idosos brasileiros cresce tanto pelo efeito da renda quanto pelo crescimento demográfico da população — destaca Neri.

De acordo com dados do IBGE, as famílias com idosos ficaram mais longe da pobreza.

Enquanto em 1995 as que recebiam até um quarto do salário mínimo representavam 3,9% do total, em 2006 elas caíram para 1,7%. Já as famílias com renda acima de cinco salários mínimos aumentaram de 7,5% para 8%, na mesma comparação.

— O aumento do salário mínimo é importante para a renda dessa população: 76% dos idosos recebem benefícios vinculados a ele — diz a pesquisadora Lúcia Cunha, do IBGE.

É o caso das cunhadas viúvas Vitória Carvalho, de 76 anos, e Liu-Siu de Carvalho, de 77. As duas viajaram para diversos países por meio de programas de intercâmbio — do qual participam, principalmente, idosos — e fazem ginástica especializada para sua faixa etária.

— O dia teria que ter 48 horas para eu conseguir fazer tudo o que quero — afirma Liu-Siu.

— Antigamente, o idoso era relegado e não tinha opções de lazer. Hoje, as coisas são diferentes — diz Vitória.

Segundo o presidente do programa de intercâmbio Friendship Force no Brasil, Antônio Carlos Azevedo, 90% dos clientes têm mais de 60 anos: — Os aposentados têm mais tempo para viajar. Por isso, viraram alvos.Há, também, descontos especiais.
Na academia Companhia Athletica, em Brasília, pessoas acima de 60 anos não pagam matrícula e têm mensalidade reduzida.

As agências de viagens tentam, igualmente, atrair esse público, oferecendo pacotes de viagem nos quais os aposentados podem fazer financiamentos por meio do crédito consignado. Esse tipo de produto, lançado pelo Ministério do Turismo por meio de convênio com operadoras, agora é oferecido pelas empresas.
A demanda é tão grande que faltam lugares nos pacotes.

aposentada Célia Passos, 63 anos, por exemplo, tentou comprar uma viagem para o Nordeste em janeiro de 2008, mas não conseguiu vaga: — As pessoas idosas estão viajando mais.

Célia conta que já fez cursos de informática e agora não sai mais da frente do computador: — Em 2000, meu neto de cinco anos gozava de mim porque eu não sabia mexer no computador.
Tive que dar um basta no garoto. Fui fazer cursos.

Segundo a operadora de turismo CVC, os idosos correspondem a 20% do total de turistas atendidos ao ano, cerca de 1,5 milhão. O interesse em viajar se reflete nos dados de inflação da FGV: enquanto viagens representam 0,88% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da população em geral, no caso dos idosos chega a 1,06%.

Rio concentra o maior número de idosos O diretor e sócio da empresa Telehelp Felipe Wright, especializada em atendimento de emergência a idosos, confirma que o mercado está crescendo.
A empresa começou a atuar há um ano e meio, e hoje tem mil clientes em vários estados, como São Paulo e Rio: — O Brasil é um país novo se comparado com os europeus ou os Estados Unidos. Trata-se de um mercado em expansão.

Ainda assim, não atende a todos. Jarila de Paula, 61 anos, reclama da falta de atividades culturais voltadas para esse público na capital federal: — A população idosa quer serviços mais completos.

Para as empresas que querem ganhar mercado entre os idosos, o Rio é o lugar mais atraente, segundo Neri. É que a população carioca idosa representa 13,5% do total, bem acima da média nacional, de 9,9%. As pessoas acima de 60 anos estão concentradas no bairro de Copacabana: 25,91% da população local são da terceira idade.

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