sábado, 8 de setembro de 2007

Uma ponte para dois artigos

Assim é a vida. Nada como um dia depois do outro. Vejam só os dois artigos postados aqui embaixo. Uma lição de jornalismo.

Em 19 de agosto, O Estado de São Paulo publicou um artigo de Daniel Piza sobre a ponte estaiada que avança sua construção sobre o Rio Pinheiros, no bairro de Brooklin.

O cronista ficou entusiasmado, e com razão, pela bela obra e seu impacto no urbanismo de São Paulo.

Na época fiquei surpreso que Daniel Piza não fizesse nenhuma menção ao fato que o projeto desse "novo cartão-postal" era da administração Marta Suplicy, que seu financiamento não provém do orçamento da cidade e sim da venda de títulos do Cepac da "Operação Urbana". Que a Prefeita foi violentamente atacada por seus adversários que pretendiam que o dinheiro da prefeitura estava sendo usada para obra em bairro rico e não na periferia. Que o PSDB disse que a ponte era desnecessária e que as prioridades eram outras.


Emfim, o artigo sonegava o credito da obra e o nome da Marta não aparecia nenhuma vez, mas reconhecia entusiasmado o mérito e a beleza da escolha.

Hoje, o Estado de São Paulo publica novo artigo mostrando o debate que a obra provoca entre arquitetos, urbanistas e engenheiros.

O artigo comporta numerosas criticas à ponte e entre elas...

Sim, é ela, você acertou !

Surge luminosa a menção a quem?

Ora bolas, à Marta Suplicy, quem mais?

Como era aquela frase, "o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde". A filosofia é a mesma, só que invertida. Parece ser: o que é bom para Marta a gente esconde e o que for ruim a gente mostra.

Não que a controvérsia sobre a ponte não exista, nem que algumas das críticas não possam ser justas. É normal a polêmica em projetos arrojados. Foi assim com a piramide de vidrio na frente do Louvre ou com a propria Tour Eiffel.

Mais perto de nós, basta lembrar a ferrenha oposição aos CEU's e como hoje eles ganharam reconhecimento de boa parte de seus detratores. Com a ponte provavelmente será igual.


Luis Favre


Domingo, 19 de Agosto de 2007

Panorama visto de uma nova ponte

Obra sobre o Rio Pinheiros terá mastro com 138 metros de altura

Daniel Piza


No começo parecia que seria mais uma ponte em São Paulo, com o habitual aspecto de um minhocão de concreto suspenso sobre nossas cabeças. Mas agora já se vê que não é bem assim. Depois de desembocar na Marginal do Pinheiros ao contornar a curva sob a Ponte Ary Torres e acompanhar o "skyline" do outro lado, o que o cidadão encontra é uma obra atraente e enorme, que rapidamente avança para sua fase final: a Ponte Estaiada Jornalista Roberto Marinho.


linksrc="http://www.estadao.com.br/ext/selos/icone-bullet.gif"Veja galeria de fotos

O mastro dela é como um prendedor ou pinça gigante em pé, da qual desce como cordas de uma harpa uma série de cabos amarelos - os "estais" - que suspendem duas pontes em curva, as quais se cruzam como num laço sobre o Rio Pinheiros. A altura dessa obra inédita no Brasil, que deve ser inaugurada em março de 2008, chegará a 138 metros, equivalente à de um arranha-céu - e fará dela um marco urbano que perde em dimensão apenas para alguns edifícios de São Paulo, como o Mirante do Vale, o Itália e o Banespa (veja arte).


No momento, a obra já está a 120 metros de altura. Daqui do alto, São Paulo parece moderna, bonita e até organizada. Dá para esquecer por uns momentos o implacável fedor do Rio Pinheiros, coberto por uma lâmina viscosa e escura que parece petróleo, na qual bóiam PETs e outras espécies de lixos. Dá até para não pensar na utilidade ainda parcial dessa ponte, cuja função maior será atenuar o tráfego da Avenida Bandeirantes, levando caminhões e carros para o litoral por meio da Avenida Roberto Marinho, ex-Água Espraiada - o que só acontecerá quando esta for estendida até a Imigrantes (leia nesta página).

Do alto desta ponte, 30 anos de ocupação nos contemplam. Foi 1978 que foi erguido pela construtora Bratke-Collet o primeiro prédio da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, paralela à Marginal (ou Avenida Nações Unidas), dando início a uma explosão imobiliária bem ao estilo da cidade, com rapidez e sem planejamento. Logo subiram dezenas de outros, todos grandes e arrojados, com arquitetura pós-moderna, da Bolsa de Imóveis (o "Robocop") aos hotéis Hyatt e Meliá, da TV Globo a Nestlé e WTC, assinados por famosos como Ruy Ohtake e Júlio Neves; o mais alto é o do logo da Terra, de 110 metros.

Do topo do mastro é possível contar pelo menos seis prédios em construção deste lado do rio até a altura da Usina de Traição, 2,5 quilômetros adiante. Do outro, destaca-se mais uma obra ambiciosa, a do Cidade Jardim, um conjunto que reúne um shopping center, três torres residenciais e três comerciais. Tudo se espraiou por esta região da zona sul sem contar com infra-estrutura adequada de vias locais - muito estreitas e sinuosas -, serviços e urbanização. Aos poucos, porém, a necessidade foi gerando alguma ordem. Hoje é como se São Paulo tivesse ganhado um novo centro, uma versão "pontocom" do que a Avenida Paulista representou entre os anos 50 e 80 do século 20.

A construção da ponte, iniciada em 2003, tem esse sentido. Quando estiver pronta, vai somar muito a este novo cartão-postal da cidade - principalmente à noite, quando estiver iluminada por um fileira de holofotes que lançarão uma luz amarelada para cima, segundo o projetista da ponte, João Valente. Não por acaso, a TV Globo já construiu ali, no topo de um prédio recentemente erguido com dez andares e uma antena, um "glass studio", um estúdio de vidro que usará a ponte estaiada e o "skyline" da Nações Unidas como cenário.

Um dos 407 funcionários que a OAS emprega na obra, João Liberato de Araújo, de 34 anos, não vê a hora de ver a obra na TV. Enquanto monta a armação da ferragem, ele conta que já fez viaduto de 50 metros de altura e trabalhou na barragem de Paulo Afonso, na Bahia, mas nada comparável com esta ponte. "Quando fui chamado, não sabia que ia subir tão alto." Agora faz o turno das 8 às 17 horas a 120 metros de altura e diz não sentir cansaço nem medo.

Estamos numa das extremidades do mastro, constituído de duas estruturas que se erguem lado a lado, unidas por duas vigas na região inferior e por apenas mais uma laje na superior (veja ilustração). Aqui na ponta em "V", aonde se chega por um elevador que sobe em diagonal e mais três lances de escada, trabalham nada menos que 36 homens. Tarcísio Monte, de 45 anos, e Gildo Carneiro, de 28 anos, são os responsáveis pela segurança do trabalho. Mostram todas as precauções tomadas, como a corda à cintura de Araújo, capaz de sustentar 7 toneladas caso a "mesa" - a plataforma de madeira presa a uma forma de ferro trepante - se desprenda. "Não tivemos nenhum acidente", diz Tarcísio.

Quando terminarem o topo do mastro, esses trabalhadores vão descer para ajudar na continuação das pistas. O sistema de construção é chamado de "balanços sucessivos": a ponte é feita em etapas, como se fossem gomos de concreto - as "aduelas" - acoplados por uma treliça metálica deslizante. Esta é avançada por macacos de pressão que a fazem correr por cima e por baixo. Na base dela os funcionários ficam em pé para puxar as ferragens e concretar o espaço todo. Em seguida, mais um par dos 144 cabos estais - um cilindro com um feixe de 15 a 25 cordoalhas e revestido com a bainha de polietileno amarela - é fixado nas bordas, para que haja sustentação para a aduela seguinte.

Cada pista tem 19 aduelas de cada lado a partir do mastro, num total de 76; até agora já foram concretadas 24. O engenheiro responsável pela obra, Edward Zeppo Boretto, e o gerente, Norberto Duran, ambos da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), afirmam que o cronograma está sendo cumprido. A única possibilidade de atraso está na licitação de uns cabos de tensão importados, mas até meados de 2008 a ponte estará concluída. A obra tem envolvido turnos de trabalho até as 3 horas da madrugada.

Outra curiosidade é que o design dela, que já é motivo de palestras e artigos, inclusive em ambiente acadêmico, nasceu do número grande de problemas a resolver. Era preciso escoar trânsito de um lado para outro da avenida e nos dois sentidos, mas sem avançar demais no ambiente urbano. João Valente teve então a idéia de fazer a ponte estaiada com duas pistas inclinadas em curva, um tipo de ponte ainda não executado na América Latina. É um desafio de engenharia porque a pista em curva exige cálculos diferentes para cada um dos cabos estais; e o fato de serem duas pistas exigiu o mastro alto e dividido longitudinalmente.

Assim a obra fugiu do padrão tradicional das pontes paulistanas, fixadas com pilastras no leito do rio e completadas por alças para ambas as direções em cada extremidade. Valente diz ter se inspirado numa passarela do grande arquiteto catalão Santiago Calatrava, entre outros, para deixar o desenho do mastro mais elegante e contemporâneo, como o entorno pedia. E a decisão de usar o amarelo decorreu também do entrelaçamento visual dos estais, em virtude do cruzamento entre as pistas: se fosse uma cor escura, a impressão que se teria ficaria meio "suja"; com o amarelo, cria-se uma espécie de névoa alegre.

Edmílson Feitosa de Oliveira, de 40 anos, encarregado da carpintaria no topo da obra - onde se estuda construir um mirante para acesso dos pedestres -, gostou do amarelo. Faltando 18 metros para concluir o mastro, ou menos de dois meses, ele já comemora o novo item do currículo. Para os quatro filhos, conta todo dia como vai a obra, que considera um trabalho de "coragem". De macacão azul, luvas e capacete, explica o orgulho com uma frase que poderia ser de um atleta olímpico: "Minha meta era chegar ao topo."












Sábado, 8 setembro de 2007
Arquitetos já criticam ponte no Brooklin

Engenheiros, porém, dizem que ponte estaiada será cartão-postal

Rodrigo Brancatelli

Numa cidade com poucas referências arquitetônicas e um senso estético dos mais discutíveis, qualquer obra que se propõe a virar um marco urbano acaba virando tema de debates acalorados, das mesas de bares às escolas de engenharia. Com a Ponte Estaiada Jornalista Roberto Marinho, que está crescendo a cada dia no bairro do Brooklin, zona sul, não é muito diferente. De um lado, projetistas e engenheiros consideram a construção belíssima, muito bem planejada e digna de aplausos. Do outro, arquitetos reclamam que a ponte é exagerada, tem concreto demais e tem tudo para virar um novo Minhocão. No meio de tudo isso, os moradores, que já estão preocupados com o aumento do tráfego.

“Sabe o que é pior? Ninguém foi consultado para erguer uma obra dessas. Quando nos demos conta, ela já estava tomando conta da paisagem da Marginal do Pinheiros”, diz a arquiteta Claudia Diamant, presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas. Se a Ponte Estaiada virar um novo cartão-postal de São Paulo, muitos arquitetos prometem não comprá-lo. “Ela polui todo o skyline da região, é exagerada. Tem concreto demais. Pontes estaiadas são muito mais delicadas, delgadas. Só aqui temos esses exageros.”

Para a construção da Ponte Estaiada, incluindo os dois tabuleiros (estruturas das pistas) de 900 metros cada, estão sendo usados 5,5 mil metros cúbicos de concreto e 144 estais (cabos que suspendem a ponte) que utilizam 380 quilômetros de cabos de aço - num investimento de R$ 233 milhões. A altura dessa obra inédita na América Latina, que hoje está beirando os 120 metros, chegará a 138 metros quando for inaugurada em março de 2008.

Muitos profissionais da área, no entanto, perguntam se seriam necessários todos esses números para resolver o problema viário do bairro. “Ela é gigantesca e opressora”, diz o arquiteto Silvio Cappanari. “Gasta-se um bocado de dinheiro para fazer uma obra incompleta, que só vai ter utilidade sabe-se lá quando.” No início de 2005, o então prefeito José Serra (PSDB) afirmou oficialmente que não gostaria de construir o modelo por ser muito mais caro do que uma ponte tradicional - o projeto havia sido encomendado na gestão Marta Suplicy. No entanto, uma mudança no projeto obrigaria a Prefeitura a indenizar a empreiteira que venceu a licitação para a obra.

A Assessoria de Imprensa de Marta Suplicy foi procurada, mas não retornou as ligações da reportagem.

“Na verdade, a ponte é grande mesmo, é para ser vistosa”, diz o projetista João Valente, responsável pela obra. “Comentários sempre vão existir, claro, mas eu queria de fato criar um novo marco para São Paulo. Quando ela ficar pronta, você vai ver que vai ficar linda, além de ajudar a escoar o trânsito.”

A Ponte Estaiada terá, de fato, um resultado significativo para o trânsito de São Paulo apenas lá por 2011. Isso porque a ponte permitirá o acesso dos caminhões que vêm pela Marginal do Pinheiros à Avenida Jornalista Roberto Marinho, mas os veículos não poderão seguir até a Rodovia dos Imigrantes porque o trecho final, de 4,5 quilômetros, ainda não foi aberto. E não há recursos para a desapropriação de terrenos ocupados por 15 mil famílias. “A ponte, num primeiro momento, vai levar até o lugar nenhum. Isso quer dizer que os caminhões vão utilizar as ruazinhas do Campo Belo para voltar à Avenida dos Bandeirantes, o que só vai piorar ainda mais o trânsito”, diz o presidente da Associação de Moradores do Campo Belo, Antônio Pereira. “Esse estilingue gigante ainda vai nos trazer muitos problemas.”




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Um comentário:

Anônimo disse...

o arquiteto que fez este projeto está de parabens, ele fez uma coisa que a cidade de são paulo estava precisando, uma cidade do porte de são paulo precisa deste tipo de projeto olha as cidades de outros paises quantas obras gigantescas.as cidades tem que se modernizar, agora se depender deste tipo de arquitetos que estão criticando esta obra, nós estariamos vivendo em cavernas ainda, estes arquitetos que criticam, não tem capacidade de criar obras deste tipo, para estes arquitetos "volte a escola " e para o arquiteto deste projeto parabens continue fazendo outros projetos assim.