terça-feira, 18 de setembro de 2007

Pensata de Valdo Cruz da Folha online

O vendaval petista

A guerra pelo comando do PT ganhou uma nova apimentada. De autoria do ministro Tarso Genro (Justiça), um texto intitulado "Depois do Vendaval" e distribuído internamente no partido foi visto tanto como uma crítica aberta por alguns petistas como um chamamento ao entendimento por outros. Depende do gosto do cliente. Ou melhor, de que lado ele está.

Elaborado como análise do último congresso do partido, realizado no final de agosto em São Paulo, o documento não cita nominalmente nenhum petista. Mas na leitura feita por membros do Campo Majoritário, tendência que controla o partido, Tarso Genro disparou vários torpedos contra os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci Filho, além de mirar no ex-presidente do partido José Genoino.

O grupo do ministro da Justiça discorda. Diz que, se de um lado Tarso Genro não fez questão de "passar a mão na cabeça de ninguém", por outro teve a preocupação de não personalizar sua análise, no desejo de não provocar rupturas dentro do partido e buscar uma conciliação.

Os dois lados têm lá sua razão. No texto, Tarso diz coisas do tipo: "A direção provisória, que assumiu o partido em julho de 2005, constituiu um novo ambiente político interno, que rompeu com uma defasada lógica de maioria e deu ao partido as condições para sair da letargia e da defensiva política, que se encontrava em razão da crise do mensalão". Não citou Dirceu, Delúbio Soares nem Genoino, mas estava falando deles.

Não ficou nisso. Avaliou que foi essa mudança no comando do partido que deu início a uma "transição em direção a um novo modelo de desenvolvimento, com maiores taxas de crescimento, emprego e distribuição de renda, superando o modelo neoliberal herdado de FHC, de baixas taxas de crescimento e de sucateamento das funções públicas do Estado". Uma referência a algo que já havia dito pós-reeleição do presidente Lula, de que a era-Palocci havia chegado ao fim.

O texto de Tarso Genro não pára por aí. Fala em "superação de erros e das limitações do partido" e daquilo que classifica de incapacidade da antiga direção partidária, aquela que ruiu com o mensalão, de realizar um "profundo debate sobre o modelo de desenvolvimento".

Não deixa, contudo, de realmente acenar com o entendimento. O ministro diz que seu novo grupo --Mensagem-- conseguiu apresentar propostas ao partido "sem a utilização de um discurso de condenação moral ou de acusação de indivíduos --como a grande mídia torcia". E, já no final do artigo, afirma que o "Mensagem" não quer "rivalizar" com essa ou aquela corrente do partido, mas "dialogar com os militantes de todas as correntes". Ou seja, se faz uma crítica contundente, como de costume, Tarso também busca uma conciliação. Dificilmente José Dirceu vai acreditar em suas intenções. Tem lá suas razões. Mas dentro do Palácio do Planalto o movimento do ministro da Justiça é bem visto. Inclusive pelo presidente.

Presidente

O Campo Majoritário, tendência interna do PT que adotou um novo nome --Construindo um Novo Brasil--, domina hoje quase 50% do partido. Tem em suas fileiras gente como José Dirceu, Ricardo Berzoini, Luiz Marinho, Marta Suplicy, Luiz Dulci, Patrus Ananias e Paulo Bernardo. Dentro desse grupo, boa parte quer evitar a estratégia do seu oponente Mensagem --cerca de 13% do partido-- de eleger Marco Aurélio Garcia o novo presidente do PT. O atual comandante do partido, Ricardo Berzoini, tem dito que não deseja mais permanecer no posto, apesar de seus amigos ainda o pressionarem nesse sentido. No Mensagem, estão, além de Tarso, petistas como o governador Marcelo Déda, o ex-governador Olívio Dutra e o ministro Fernando Haddad (Educação). A eleição direta dos novos dirigentes acontece no final do ano. Até lá, mais artigos virão. Não só de Tarso Genro. Em jogo o comando do partido no período em que será escolhido o candidato petista à sucessão de Lula.

Mensalão mineiro

Depois de o STF acatar a denúncia da Procuradoria Geral da República contra os 40 homens do mensalão petista, a expectativa agora é sobre o destino que o procurador-geral Antonio Fernando de Souza dará ao que ele considera o "embrião do mensalão" surgido em Minas Gerais durante a campanha de reeleição do ex-governador tucano Eduardo Azeredo. Muito possivelmente vai propor denúncia contra Azeredo. A dúvida é se vai incluir o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais), o articulador político do presidente Lula.

Contra Mares Guia há a denúncia de que ele teria sido o coordenador da campanha de Azeredo e, nessa condição, operado um esquema de caixa dois envolvendo mais de R$ 24 bilhões. Só que o próprio Eduardo Azeredo já disse e repetiu que Mares Guia não foi seu coordenador de campanha. Gente que trabalhou na campanha diz que o ministro se restringiu a dar conselhos antes do início da eleição e a conseguir alguns apoios no segundo turno, mas não operou nem mexeu com o dinheiro arrecadado pelos tesoureiros do tucano. O próprio Mares Guia questiona como pode ser acusado de ter operado o dinheiro da campanha de Eduardo Azeredo, seu amigo, sem ter trabalhado nela.

Dentro do Palácio do Planalto, a avaliação é que não há provas contra o ministro. Assessores de Lula acreditam que ele não tenha nenhuma relação com o esquema montado à época, quando Marcos Valério começou a operar em campanhas políticas. Os próprios tucanos sabem disso. Só que, para eles, o melhor dos mundos seria Mares Guia também ser incluído na denúncia pelo procurador. Dividiria com o PSDB o desgaste político.

Valdo Cruz Valdo Cruz, 46, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia. Escreve às terças.

E-mail: valdo@folhasp.com.br

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