quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Vale a pena ler de novo

São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006




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QUESTÃO DE PRIORIDADE

Armados e uniformizados, policiais de elite foram deslocados para evento esportivo no Ibirapuera

Polícia anti-seqüestro faz segurança de luta

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA

Durante as cinco horas e 33 minutos em que o ginásio do Ibirapuera foi cenário do 4º Showfight, "o maior torneio de artes de combate da América Latina", pelo menos oito investigadores armados e com os uniformes negros da DAS (Delegacia Anti-Seqüestro) deixaram suas tarefas para "fazer a segurança de lutadores e platéia", conforme disse à Folha um dos policiais. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma em seu site que, nos últimos três meses de 2005, ocorreram 22 casos de seqüestro só na capital.
O investigador entrevistado falou diante de seus colegas (que assentiam com a cabeça) que estava no local "por gosto pelas lutas" e porque foi "oficiado" pelo delegado Antonio Assunção de Olim, da DAS. No jargão, "ser oficiado" significa "ser designado oficialmente para uma função".
Segundo o mesmo agente, havia 80 policiais civis "atuando na segurança" do ginásio do Ibirapuera -15 dos quais uniformizados. Além dos investigadores da DAS, a Folha fotografou dois carros oficiais do GER (Grupo Especial de Resgate) e um do GOE (Grupo de Operações Especiais), divisões especializadas da Polícia Civil, assim como a DAS. Ao término do evento, os veículos saíram lotados de policiais do estacionamento em frente ao portão 11.
O empresário Oscar Maroni Filho, 51, idealizador do Showfight, é também proprietário do clube privê Bahamas, um dos maiores prostíbulos de luxo da cidade. "Mulher e artes de combate têm tudo a ver", disse ele no celular com número finalizado em 6969, "uma brincadeirinha".
Em oito oportunidades, nos intervalos entre as lutas, Maroni homenageou o agora ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), "sem o qual esse evento não teria sido possível". Ontem, em entrevista gravada, repetiu ter recebido "todo o apoio do governo". Segundo ele, do então secretário de Esporte e Lazer do Estado de São Paulo, Lars Grael, conseguiu prioridade na reserva do ginásio do Ibirapuera e divulgação. A locação do ginásio saiu-lhe por R$ 22 mil.
Os contatos com a Secretaria da Segurança Pública iniciaram-se há 40 dias, quando o promotor das lutas foi recebido por um assessor do secretário Saulo de Castro Abreu Filho na sede do órgão.
Na ocasião, disse Maroni, conseguiu apoio em troca de abrir "escolinhas de artes de combate" para ensinar garotos pobres a "administrar sua agressividade dentro do respeito às regras e à hierarquia". "Vamos abrir essas escolas em unidades da Febem e onde mais for possível", disse.
O empresário não mencionou quantos policiais foram empregados na segurança do Showfight. Mas enfatizou que o contingente empregado restringiu-se a homens do pelotão de choque da PM, que ficaram na área externa. "Os policiais civis estavam lá apenas se divertindo. Eu mesmo distribuí convites para eles." Além dos agentes públicos, foi contratada uma empresa privada, que enviou 150 "armários" vestidos com ternos negros ao Ibirapuera.
Para entender o realce do quesito "segurança", é só imaginar a cena: cerca de 8.000 pessoas na platéia (a maioria praticantes de lutas como jiu-jítsu, boxe, muay thai, caratê, submission), torcidas organizadas com até 500 fortões desses (representando as academias em que treinam) e, no ringue, superfortões se batendo.
Um exemplo: a terceira luta, de muay thai -o boxe tailandês-, entre Luis Sorriso e Moisés Gibi, acabou quando Gibi soltou um pontapé forte na cabeça de Sorriso, que jazia no chão, já fora de combate. A deslealdade do lutador não ficou por isso mesmo. Aos gritos de "Gi-bi, vai tomar no c., Gi-bi, vai tomar no c.", as arquibancadas começaram a descer. Peitos inflados, como quem marcha para a guerra, os homens invadiram o ringue. Por pouco não virou uma pancadaria.

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