quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Previsões e resultados




KENNETH MAXWELL


A PRIMEIRA primária da campanha presidencial norte-americana em que os eleitores efetivamente usaram o voto secreto produziu resultados inesperados nesta semana em New Hampshire. Do lado democrata, o carismático senador negro Barack Obama, de Illinois, vinha sendo unanimemente apontado como vencedor. Mas, quando os votos foram contados, foi a laboriosa campanha da senadora Hillary Clinton, de Nova York, que saiu vitoriosa entre os eleitores do partido. Já do lado republicano, Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts e um dos candidatos mais bem financiados da campanha, sofreu derrota incontestável diante do senador John McCain, 71, do Arizona, um dos candidatos menos endinheirados. Foi uma noite memorável na política norte-americana.
De muitas maneiras, as primárias de New Hampshire cumpriram a missão que as primárias foram criadas para realizar, quando introduzidas, no começo do século 20, como parte do movimento progressista de reforma política: transferir o poder de selecionar os candidatos de volta ao povo, em um processo transparente, tirando-o das mãos dos chefes políticos e de suas tramóias de bastidores. Os cidadãos de New Hampshire encaram com grande seriedade o papel único que exercem na política dos EUA. Muitos se mantêm independentes dos dois grandes partidos, mas têm o direito de votar em seus candidatos durante a primária estadual. Por isso, New Hampshire continua a ser o local clássico para a política "de varejo", sob a qual os candidatos são forçados a fazer política à moda antiga: saindo às ruas para conversar com os eleitores reais e descobrir o que os preocupa.
Para o senador McCain, a política de varejo funcionou. Suas opiniões sobre a Guerra do Iraque e a imigração não eram populares em New Hampshire, mas ele declarou às audiências que estava lá para lhes dizer a verdade tal qual a via, mesmo que os espectadores discordassem dele. Diante de Romney, um político oportunista, a mensagem se provou poderosa. Os especialistas agora estão atribuindo a notável virada conseguida por Clinton ao "momento de emoção" no qual ela derramou lágrimas em um dos pequenos restaurantes característicos de New Hampshire, demonstrando que ela também é "humana". Na verdade, foi organização política à moda antiga que levou os eleitores democratas às urnas.
As multidões fascinadas pelo carisma que compareceram aos comícios de Obama em largos números eram a antítese da política de varejo ao estilo de New Hampshire. No dia da decisão, foram os velhos e confiáveis sindicalistas democratas, preocupados com a economia, bem como uma maioria das mulheres maduras, que foram de fato às urnas para conceder à senadora Clinton sua famosa vitória.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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