domingo, 9 de dezembro de 2007

Copa 2014: A oportunidade é nossa!



MARTA SUPLICY


Essa é a estratégia que estamos seguindo para uma Copa vitoriosa, ao menos para quem deve cuidar da organização desse evento

FORAM INÚMERAS as manifestações de alegria em todo o país para saudar o fato de que a Copa 2014 é nossa. Certamente há muito que comemorar com a escolha do Brasil, mas temos que ter claro que ganhamos o direito de organizá-la e, portanto, devemos arregaçar as mangas e planejar como o país pode se beneficiar com a janela de oportunidades que se abriu para nós.
Trata-se de um dos maiores eventos esportivos mundiais, que reúne bilhões de espectadores em torno das TVs. Assim, o Brasil poderá povoar as telas e as mentes dos mais diferentes povos em todo o mundo. Teremos, portanto, acesso a algo que hoje nos falta: exposição midiática. Não só os brasileiros vão se ver na TV, mas países que pouco nos conhecem apreciarão nossas paisagens e nossa cultura.
Muitos países tiveram essa oportunidade, principalmente após a década de 70, quando as transmissões televisivas se difundiram. Porém, nenhum deles tem tamanha identificação com o futebol como o Brasil. Nos 57 anos que separam o anúncio da Fifa de 1950, quando sediamos a Copa pela primeira vez, nos tornamos o principal exportador de talentos e o país cuja seleção conquistou mais títulos em Copas do Mundo. Isso nos distingue e faz do fato de estarmos à frente da organização do evento um forte atrativo para a indústria esportiva.
Mas não é só isso. As grandes competições do calendário mundial -entre elas, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos- carregam a capacidade de reestruturar a paisagem urbana dos países-sede. Podemos, com isso, projetar nossos sonhos de cidade e torná-los concretos.
Para receber as Olimpíadas, a China está investindo US$ 34 bilhões em infra-estrutura, além de construir 37 novas arenas esportivas e um plano de promoção da imagem do país. Pequim, a cidade-sede dos Jogos Olímpicos, terá mais seis linhas de metrô e a reformulação de seus principais aeroportos. Portanto, esse tipo de evento concentra, em curto espaço de tempo, enorme quantidade de investimentos públicos e privados que, caso atendam um plano bem delineado, deixarão um legado para a qualidade de vida de todos os brasileiros.
O Ministério do Turismo já começou seu planejamento. Havíamos encomendado à FGV (Fundação Getúlio Vargas) um estudo sobre a infra-estrutura necessária para o desenvolvimento turístico do país, com o objetivo de alcançar um nível internacional em 65 destinos prioritários até 2010. Dentre esses destinos, estão incluídas as 18 cidades que pleiteiam ser sede da Copa. Esse estudo detalhado avaliará a estrutura urbana, a rede hoteleira disponível, a necessidade de qualificação dos futuros trabalhadores e, principalmente, a sustentabilidade ambiental e social desse projeto.
De posse dos resultados, reformularemos o Plano Nacional do Turismo de forma a concentrar nossas ações e investimentos para que, no período 2008-2014, todas as lacunas identificadas sejam preenchidas. O objetivo desses passos que estamos planejando é o de transformar o turismo em um dos maiores setores empregadores e geradores de renda, tornando-o compatível com as potencialidades que o país apresenta.
Hoje, o turismo possui uma participação no PIB brasileiro de 2,6%. Apesar dos avanços alcançados pelo setor no governo Lula, ainda existe um vasto espaço a ser ocupado e, sobretudo, temos a nossa disposição a oportunidade de darmos um salto gigantesco.
Os benefícios econômicos de abrigar grandes eventos como a Copa são inegáveis. Para ter uma idéia, basta lembrar da explosão de desenvolvimento vivenciada pela Espanha após sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, em Barcelona.
Portanto, mesmo com boa parte da infra-estrutura urbana necessária para a Copa já estar prevista no PAC, devemos nos debruçar sobre o planejamento e produzir um cronograma meticuloso, que envolva o esforço de vários ministérios e seja transparente para que a imprensa e a população possam acompanhar cada passo da execução sem sobressaltos.
Devemos ter claro que demonstrar nossa competência nos colocará em boa situação para disputar e oxalá realizar as Olimpíadas de 2016, cuja sede será escolhida em 2009.
Enfim, essa é a estratégia que estamos seguindo para uma Copa vitoriosa, ao menos para quem deve cuidar da organização e do legado desse evento para o país, porque, no futebol, vencer será uma missão para os técnicos e os jogadores que devem suar a camisa. De resto, mãos à obra!


MARTA SUPLICY, 62, é ministra do Turismo. Foi prefeita da cidade de São Paulo pelo PT (2001-2004).

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