quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Feira do Livro de Frankfurt: Política de identidade cultural é faca de dois gumes

O convidado de honra «Catalan culture» para a cerimónia de abertura
da Feira do Livro de Frankfurt, preparou uma instalação com vários
livros suspensos e iluminados. ©Reuters



Marcio Damasceno
O Estado de São Paulo

A escolha da cultura catalã como tema deste ano do maior encontro da indústria literária mundial é motivo de discórdia. Mais de uma centena de escritores da região se apresenta na Feira do Livro de Frankfurt. Mas alguns autores da Catalunha que publicam em espanhol se recusam a vir à Alemanha, como admitiu Jürgen Boos, diretor da Feira, numa entrevista coletiva à imprensa estrangeira. Os que preferem ficar de fora da festa alegam temer serem 'instrumentalizados pelo nacionalismo catalão'. Outros se irritaram com a política do Instituto Ramón Llull. A entidade, responsável pela coordenação da participação catalã, recusou até o último instante chamar os que publicam em castelhano, o que desagradou escritores catalães que produzem em espanhol. Quando o Instituto voltou atrás, esses autores recusaram o convite.

Assim, alguns nomes de peso da região, como Juan Marsé, Eduardo Mendoza e Carlos Ruiz Zafón optaram por marcar posição se ausentando da feira. Já Javier Cercas e Sergi Pamies disseram preferir ficar em casa a alimentar um debate nacionalista. 'Eu lamento, mas acho que a ausência deles vai surtir exatamente o efeito contrário do esperado, a politização vai ser ainda maior', observou Boos. 'Claro que a cultura catalã se define pela língua e esse foi um aspecto que se procurou destacar. Mas no ano em que a Índia foi tema, demos prioridade a autores que não escreviam em inglês e na época não houve essa polêmica.'

A escolha da Catalunha provocou crítica também de intelectuais na Alemanha, entre eles, o presidente da seção alemã da associação de escritores PEN-Club, Johano Strasser. 'Assim como é importante levar as culturas distintas a um diálogo, também é grande o perigo de se cair num certo provincianismo', avisou. 'Política de identidade cultural é sempre uma faca de dois gumes', observou ele, referindo-se ao plano original dos organizadores da Feira do Livro de somente incluir na lista oficial os escritores que publicam em catalão.

Todo ano a Feira de Frankfurt é dedicada a um país. Em 2004, houve a inovação, quando, com o 'mundo árabe', uma região inteira foi homenageada. Região espanhola mais potente economicamente, tendo como capital Barcelona e língua própria, a Catalunha se intitula como 'nação' conforme um estatuto de autonomia promulgado ano passado. No espaço lingüístico catalão habitam 13 milhões de pessoas, o que faz do idioma a quarta maior língua da União Européia.

Ao investir 16 milhões de euros, a Catalunha é responsável pela mais cara participação de um país convidado na Feira do Livro. A exibição catalã será acompanhada por concertos e exposições, nas quais serão mostrados trabalhos de mais de 650 artistas, entre eles expoentes de fama internacional como os pintores Joan Miró e Salvador Dalí. As mostras não acontecem só em Frankfurt, como já estão percorrendo outras dezenas de cidades alemãs.

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