segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

PT: Disputa em Porto Alegre deve levar a prévias

Maria do Rosário
Sérgio Bueno, de Porto Alegre

Valor


Passada a escolha do novo diretório municipal, já pautada em grande medida pelos debates em torno da eleição de 2008, o PT de Porto Alegre concentra as energias na definição do nome que disputará a prefeitura da cidade no ano que vem. A tendência, até agora, é pela realização de prévias, já que nenhum dos dois pré-candidatos, a deputada federal Maria do Rosário e o ex-vice-governador e ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, admite abrir mão da candidatura em favor do adversário.

O próprio resultado da eleição interna realizada dia 2 deste mês serviu de combustível para animar os dois concorrentes. As correntes Democracia Socialista (DS), Esquerda Democrática e PT Amplo, reunidas no grupo Mensagem ao Partido e que apóiam Rossetto, ficaram com a presidência e 24 (55,8%) das 43 cadeiras do diretório local. Apesar da maioria, que encoraja o ex-ministro, a participação recuou 9,3% em relação à composição atual (a posse dos novos membros será dia 20) e agradou também a deputada federal.

A eleição em Porto Alegre é considerada questão de honra pelo partido, que foi derrotado em 2004 por José Fogaça, então no PPS e hoje no PMDB, após quatro administrações seguidas na capital gaúcha. O desafio aumenta a responsabilidade dos pré-candidatos e aliados dos dois lados admitem que o melhor seria definir um nome por acordo para evitar fissuras internas. Mas, com a atual correlação de forças partidárias, isto só seria possível, na prática, com a desistência de Maria do Rosário, que ela afirma estar fora de cogitação.

A deputada já desistiu da candidatura em 2004 em favor do atual deputado estadual Raul Pont, que, assim como Rossetto, é da DS, porque entendeu que na época ele tinha um potencial eleitoral maior. Agora, com o apoio das correntes Movimento PT, Articulação de Esquerda, Unidade na Luta, Ação Democrática e do coletivo Solidariedade, do senador Paulo Paim, e com os resultados das últimas pesquisas de intenção de voto, ela acredita que a situação mudou.

Miguel Rossetto

Levantamento do Datafolha divulgado ontem mostra Maria do Rosário em empate técnico com as deputadas federais Luciana Genro (P-SOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB) e com o também deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM), todos com 12%, atrás apenas de Fogaça, com 19%. No cenário que inclui Rossetto, o PT fica em quinto lugar, com 4%. Em setembro, o Ibope já havia registrado um desempenho de Maria do Rosário mais de duas vezes superior ao do ex-ministro (14% contra 6%).

Apoiado pela maioria do diretório, porém, Rossetto considera que as pesquisas são "secundárias" nesta altura do campeonato. Para Maria do Rosário, contudo, elas servem como argumento para atrair militantes ligados ao ex-ministro. O deputado estadual Adão Villaverde, apoiador da pré-candidata, também propõe que o partido contrate uma pesquisa de opinião "para aferir quem tem o melhor potencial eleitoral". A deputada espera ainda angariar votos graças ao fator feminino presente na disputa à prefeitura, já que outras duas mulheres são pré-candidatas à sucessão de Fogaça (Luciana Genro e Manuela D' Ávila).

Com pouco espaço para um acordo, começa a se desenhar uma disputa em relação à data das prévias. Embalado pelo resultado no diretório, o ex-ministro quer a consulta o mais cedo possível, de preferência ainda em janeiro, para liberar o partido para a estruturação da campanha e da política de alianças. Maria do Rosário, porém, propõe mais tempo para o debate interno e avalia que a consulta no mês que vem corre o risco de esvaziamento devido às férias de verão.

Rossetto conta com o apoio de figurões do partido como o ministro da Justiça, Tarso Genro, tido como potencial postulante à vaga do PT na eleição estadual de 2010, o ex-governador Olívio Dutra, reeleito para comandar o diretório estadual, e o deputado Pont. Determinado a concorrer em 2008, ele recusou neste ano os convites para reassumir o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a direção da Refinaria Alberto Pasqualini, da Petrobras.

"Estou totalmente dedicado à construção da candidatura", afirma o ex-ministro, que hoje presta serviços de consultoria para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Sem a exposição pública conferida a Maria do Rosário pelo segundo mandato consecutivo na Câmara, ele tem promovido debates com categorias profissionais, empresários, universidades e freqüentado reuniões do Orçamento Participativo e dos conselhos municipais.

Na sexta-feira à noite, quando participava de debate na Secretaria da Agricultura do Paraná, Rossetto sofreu uma crise de angina em Curitiba e chegou a ser internado na UTI do Hospital São Lucas. Mais tarde, foi transferido para o hospital Constantini, especializado em cardiologia, onde será submetido hoje a uma angioplastia.

Em comum, Rossetto e Maria do Rosário têm como plataforma a defesa do governo federal que, segundo ambos, contribui decisivamente com recursos e financiamentos para as "grandes obras" da cidade, como o projeto de despoluição do lago Guaíba e a construção de casas populares. Os dois também apostam no desgaste da atual administração, marcada pelo "vazio de projetos" e pela percepção de que os serviços públicos pioraram, conforme a deputada.

Os dois pré-candidatos concordam ainda que o PT deve montar uma política de alianças de "centro-esquerda" para 2008 em Porto Alegre, buscando o apoio do PSB, do PDT e do PCdoB, para evitar a pulverização de votos dentro do mesmo espectro político. Neste último caso, a intenção depende da desistência da deputada Manuela D'Ávila, aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em concorrer no ano que vem. Maria do Rosário vai um pouco mais longe e afirma ter "disposição para o diálogo" até com o P-SOL, formado por militantes expulsos do PT em dezembro de 2003.

Nenhum comentário: