quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Lula faz mea-culpa por ter sido contra a CPMF no governo de FH

Luiz Cláudio de Castro e Rodrigo Vizeu - O Globo Online; Chico de Gois e Luiza Damé - O Globo O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala na cerimônia que dá início à incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina pelo Banco do Brasil

BRASÍLIA - Ao discursar no lançamento do PAC da Saúde, que prevê investimentos de R$ 89 bilhões no setor, em quatro anos, incluindo R$ 24 bihões da CPMF e da Emenda 29, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembrou, diante de 20 governadores, que, quando a proposta da criação da CPMF foi à votação, ele, como dirigente petista, obrigou os deputados de seu partido a votarem contra. Somente Eduardo Jorge, sanitarista que hoje está no PV, foi favorável.

- O partido baixou o centralismo - descreveu Lula, para, em seguida, dizer que agora, no governo, arrepende-se da atitude.

O presidente chegou a citar um trecho da música "Metamorfose Ambulante", imortalizada na voz de Raul Seixas, para justificar sua mudança de posição. O presidente disse não se incomodar com a mudança e afirmou que ela é reflexo de sua nova condição, a de presidente da República.

" Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, mudar de acordo como as coisas mudam. "

- Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, mudar de acordo como as coisas mudam. Eu não tenho a dureza do manifesto de um partido comunista ortodoxo, que diz que tudo já está escrito. Não, tem muita que não está escrita ainda - disse.

Lula disse que precisou chegar à Presidência para perceber que é muito mais fácil fazer oposição e convocou os governadores a tentarem convencer os senadores a aprovarem a prorrogação da CPMF. Vinte governadores estiveram presentes no lançamento do PAC.

- Seria extremamente importante que cada governador converssasse com os senadores de seus estados para fazer uma reflexão do que representa a não-aprovação da CPMF - disse.

Para o presidente, a prorrogação do tributo não pode ser tratada como uma disputa entre situação e oposição ou como a possibilidade de impor uma derrota a ele próprio.

- Alguém, de modo simplista, pode pensar: vou prejudicar o governo Lula. Se fosse assim, diria para votar contra.

O presidente chegou a brincar com a imprensa, dizendo que a mídia esperava que ele fizesse um duro discurso contra a oposição e a favor da CPMF.

- Mas aos 62 anos não tenho mais tempo de ser violento.

Lula comparou a relação de pais e filhos para explicar as posições do governo e da oposição favorável e contrária à prorrogação do imposto. Segundo ele, assim como é mais confortável ser filho, também é mais fácil estar na oposição e cobrar mais recursos do que o governo pode oferecer. Na leitura do presidente, ao cobrar o fim do imposto, a oposição estaria agindo como um filho que não tem noção das dificuldades dos pais para sustentar a família. Ainda segundo Lula, a CPMF hoje é essencial para garantir os investimentos em saúde e programas sociais.

- Eu aprendi com minha mãe: Vocês só vão aprender a ser pai quando virarem pai. Enquanto vocês são filhos, vão ser oposição. Querem mais dinheiro do que a gente quer dar, quer sair mais, quer navegar mais na internet. Na primeira dor de barriga, o filho começa a se tocar: puxa vida, como meu pai sofreu para me criar. Eu precisei chegar na Presidência da República para perceber que é muito mais fácil ser oposição do que ser governo. Quando você é oposição você acha, você pensa, você acredita. Quando você é governo, você não acha, nem pensa, nem acredita. Você faz ou não faz.

Presidente elogia Câmara por aprovar CPMF

No início de seu discurso, Lula elogiou o comportamento da Câmara por aprovar a prorrogação da CPMF, de onde virá a maior parte dos recursos para garantir os investimentos de R$ 90 bilhões em saúde até 2011. O presidente destacou a importância dos investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), que segundo ele permite hoje que pobres e ricos tenham acesso aos mesmos equipamentos nos hospitais.

" Na mesma máquina que deita um presidente da República, deita um companheiro pobre "

- Na mesma máquina que deita um presidente da República, deita um companheiro pobre para fazer um exame exatamente por causa do SUS - afirmou.

Num recado aos senadores contrários à prorrogação da CPMF, Lula criticou os que são contra os investimentos no Estado. O presidente disse que é preciso ter cuidado com os discursos que cobram desonerações, porque muitas vezes elas representam menos investimentos em saúde e educação, enfim, na melhora das condições de vida da população.

- No Brasil tem um tipo de gente que adora criticar o Estado quando ele vai bem. Quando o Estado tem um pouquinho mais de arrecadação e por isso faz mais, tem gente que pede: desonera. Cada vez que você desonera, aparece o déficit da Previdência Social. Agora temos que ver como vamos financiar a roupa do Noel Rosa - discursou o presidente, referindo-se à música "Com que roupa", do compositor carioca.

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), negou que tenha sofrido pressões do partido para que não comparecesse ao lançamento do PAC da Saúde. Tanto Serra quanto o governador Aécio Neves, de Minas Gerais, teriam sido impedidos de participar do evento pelo PSDB. Ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso, Serra disse que não foi a Brasília por problemas de agenda.

Lula adia viagem à Bolívia para negociar CPMF

A indefinição sobre a aprovação ou não da CPMF fez o presidente Lula adiar sua viagem à Bolívia, atendendo em parte a um apelo do ministro das Relações Institucionais, José Múcio, que pediu para que ele ficasse no Brasil. Lula havia agendado com o presidente Evo Morales uma visita de trabalho para o próximo dia 12, onde discutiriam aumento de investimentos da Petrobras na área de gás. Agora, Lula deverá ir à Bolívia dia 17. Mas está mantida a viagem de Lula à Venezuela, marcada para o dia 13.

Governo e o oposição querem votar na quinta

Governo e oposição indicaram que a emenda que prorroga a CPMF até 2011 será votada na quinta-feira pelo plenário do Senado.

- A intenção da oposição é votar. A posição da base de apoio do governo é votar - disse o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), admitindo que o placar ainda está indefinido.

O senador José Agripino Maia (RN), líder do DEM disse que a votação está "madura".

-Estamos desejosos de ver esse assunto ser discutido amanhã. Está madura a votação e os votos estão definidos - afirmou.

A bancada do PMDB no Senado antecipou para as 16h desta quarta-feira a reunião, inicialmente marcada para as 10h de quinta-feira, que discutirá a sucessão de Renan Calheiros (AL), que renunciou ao cargo na terça-feira e foi absolvido em seu segundo julgamento em seguida. Na reunião, o partido vai tentar chegar a um candidato de consenso para a presidência do Senado, para tentar evitar um racha na legenda que possa prejudicar a votação da prorrogação da CPMF.

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