quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Em ciência, 61% estão no pior nível


27,9% dos alunos não chegam nem ao grau mais baixo de compreensão

Maria Rehder, JORNAL DA TARDE

Resultado do Pisa divulgado ontem mostra que 61% dos alunos brasileiros estão abaixo ou no pior dos 6 níveis de desempenho em ciência determinados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ao dividir por área de conhecimento, a avaliação evidencia que os brasileiros tiveram melhor desempenho em biologia, deixando outras áreas, como astronomia, ainda com piores resultados.

Em uma escala de 800 pontos, 390 foi a nota do Brasil em ciência no Pisa, o que rendeu ao País o nada honroso 52º lugar entre as 57 nações que participaram da avaliação. O Brasil ter ficado no pior nível de desempenho representa que 33,1% dos estudantes que fizeram a prova têm conhecimento científico muito limitado e só conseguem elaborar explicações científicas óbvias ou seguidas de informações já evidenciadas. Entretanto, o Pisa traz outro dado crítico: 27,9% dos alunos nem sequer atingiram tal escala, pois tiveram desempenho abaixo do nível 1.

Segundo Maurício Bacci, coordenador do curso de Ciências Biológicas da Unesp/Câmpus Rio Claro, os resultados do Pisa ilustram a realidade do ensino de ciência no Brasil. “Os alunos chegam às universidades sem formação prática. Com isso, os professores universitários acabam tendo de recuperar conteúdos de ciência que deveriam ser adquiridos na educação básica.”

Entre os principais problemas apontados por Bacci, estão a falta de salários atraentes aos licenciados em Biologia, Física e Química e as condições de trabalho oferecidas nas escolas públicas. “É preciso estruturar as escolas públicas com laboratórios e, principalmente, investir em material humano.”

ÁREAS DO CONHECIMENTO

O Brasil obteve melhor classificação na área dos sistemas vivos (a biologia), com pontuação 403. Em sistemas físicos (ciências químicas e físicas), a nota foi 385. Já em sistema espacial e planeta Terra (cosmologia, geologia e astronomia), fez 375 pontos, melhor apenas que Colômbia, Catar e Quirguistão.

De acordo com Luiz Carlos Menezes, professor do Instituto de Física da USP, a diferença de desempenho entre as áreas é pequena, mas pode ser reflexo da ênfase dada às ciências da vida nos últimos anos do ensino fundamental. “Hoje, ciência é sinônimo de ciências da vida no ensino fundamental. Os professores que atuam nessa etapa de ensino são licenciados em Ciências e não em Física e Química, com isso há uma tendência a valorizar essa área.”

Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais sinalizem para a necessidade de ter astronomia, cosmologia e geologia no ensino fundamental, Menezes diz que essas áreas foram praticamente varridas do currículo. “É preciso dar ênfase a essas áreas na formação de professores e nos livros didáticos.”

O especialista em física explica que faltam professores formados para dar aulas que motivem os alunos a aprender. “Uma coisa é o aluno ser capaz de olhar para o céu e entender as razões que fazem o Sol nascer no leste. Outra é o professor fazê-los decorar os nomes dos planetas, sem relação alguma com a vida prática.”

O Pisa mostra que, em relação às competências adquiridas em ciência, os brasileiros ainda deixam a desejar. Apenas 33% aplicam o conhecimento científico para resolver um problema. Outro dado alarmante: 35% não tiram conclusões por meio de evidências científicas nem refletem sobre as implicações sociais da ciência e desenvolvimento tecnológico.

Marcelo Knobel, professor do Instituto de Física da Unicamp, acredita que o melhor caminho para reverter esse quadro é o investimento no professor. “Um licenciado em ciências, quando ensina a audição do corpo humano tem de apresentar aos alunos conceitos de som. As áreas do conhecimento biológico e físico têm de estar integradas e, para isso, é preciso bons programas de formação.”

NA ESCOLA

Vivian Froes, de 17 anos, no 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Jair Toledo Xavier, na Brasilândia, zona norte da capital achou a prova fácil. “Caiu bastante aquecimento global.”

Mas Vivian, que quer ser professora de História em escola pública, afirma que o péssimo desempenho do Brasil no Pisa mostra que algo está errado. “Minha escola é boa, temos de fazer até Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Nem todas são assim e tenho medo do que encontrarei quando me formar professora. Os baixos salários e a violência desanimam.”

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