E dois!
O Rio Madeira fica perto de Porto Velho, em Rondônia
Novamente o governo Lula consegue um deságio e uma queda grande no preço (-35%), no leilão de energia.
Após os pedágios das estradas federais e agora na energia, fica provado que o que esta em jogo na ação pública não é um debate ideológico, estatal ou privadas e sim um projeto que permita preservar o interesse público associado ao lucro razoável da empresa privada.
O debate é privataria ou modernização preservando o interesse da população. A marca do atual governo é forte e contrasta nitidamente com o que foi praticado no passado no Brasil. LF
Mônica Tavares e Gustavo Paul
O GLOBO
BRASÍLIA. Contrariando as expectativas de mercado, o preço da energia no país deverá cair no futuro, principalmente a produzida na Região Norte.
Essa foi a projeção feita ontem pelo presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, após o resultado do leilão da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira. Segundo ele, a diferença entre o preço fixado como teto e a tarifa final no leilão de ontem se deve ao fato de o país ter ficado 13 anos sem construir novas grandes usinas — Xingó (SE) ficou pronta em 1994. O parâmetro de tarifas dos últimos anos foi estabelecido com base em usinas médias, cuja energia custava muito mais.
O presidente da EPE destacou que o valor de R$ 78,87 por megawatt/hora ofertado pelo consórcio Madeira Energia já inclui o valor da transmissão da eletricidade, quase R$ 25, o que, na prática, reduz o valor ofertado para R$ 53,78.
— O futuro é muito mais promissor do que eu esperava.
O novo modelo do setor elétrico começa hoje — disse Tolmasquim.
Para o professor Nivalde Castro, da UFRJ, a redução de preço é uma boa surpresa e muda o paradigma: — Se esse preço não fosse factível, eles não o colocariam, o que mostra que o valor da energia da Amazônia pode ser bem inferior ao que todos imaginavam (o temor era devido à distância e a custos ambientais).
Hubner: TCU estava certo ao querer R$ 113 no edital O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, admitiu que o resultado o surpreendeu e jogou por terra sua previsão de que a energia no Norte seria necessariamente mais cara do que a produzida no Centro-Sul. Para o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, o leilão foi um “marco histórico” e mostra que a licitação baseada no menor preço rende frutos à sociedade.
O preço teto da hidrelétrica de Jirau, a outra usina do Rio Madeira, que será leiloada pelo governo em maio do próximo ano, também será menor do que o anteriormente previsto.
Ela terá capacidade de 3.300 megawatts (MW). Hubner disse que os cálculos terão que ser revistos. Ele admitiu ainda que o Tribunal de Contas da União (TCU) estava correto na análise técnica, ao propor um valor mais baixo do que R$ 122 por MW. O TCU queria cerca de R$ 113 como teto.
— Por isso, a decisão final é política mesmo, chega uma hora em que você tem que ter um aspecto discriminatório.
Eu não poderia correr o risco de o preço inicial do leilão assustar demais os investidores, e isso poderia até impedir que outros chegassem no fim do processo, como a CPFL e a Endesa — argumentou o ministro.
CORPO A CORPO
IRINEU MEIRELLES
‘Negociamos, temos estudos bem feitos’
BRASÍLIA. O presidente do Consórcio Madeira Energia, Irineu Meirelles, explica que o deságio de 35% na tarifa oferecida no leilão de ontem foi fruto de uma grande engenharia técnica e financeira. O grupo, sugere o executivo, vai disputar a concessão da hidrelétrica de Jirau e as linhas de transmissão que interligarão o complexo ao resto do país.
Para ele, questões ambientais e sociais não representam mais problema, e o próximo passo é abrir o capital da futura empresa que tocará a obra
Gustavo Paul
O GLOBO: Como vocês conseguiram colocar um preço tão baixo? IRINEU MEIRELLES: Estamos apostando nisso há muito tempo. O grupo que está conosco é experiente, é do ramo, e conseguiu chegar à viabilização desse negócio de tal forma que a gente acha que pode cumprir o cronograma e entregar no preço correto. Negociamos com fornecedores, com parceiros, com o mercado financeiro, temos estudos ambientais bem feitos e bem estr uturados.
Há viabilidade econômica para manter esse projeto com a tarifa tão baixa? MEIRELLES: Os estudos foram bem feitos e para isso está-se investindo há mais de seis anos. Já investimos R$ 150 milhões no risco.
Se não saísse esse leilão, esse dinheiro seria jogado pela janela.
Vocês vão com o mesmo apetite para o leilão de Jirau? MEIRELLES: Não podemos prever isso agora.
Estamos cuidando agora de Santo Antônio, e depois vamos cuidar de Jirau.
Vocês vão entrar na licitação das linhas de transmissão que partem de Santo Antônio? MEIRELLES: Podemos entrar. Estamos inclusive estudando.
A participação da Vale no consórcio seria acionária? MEIRELLES: Isso está sendo conversado.
Não somente com eles. Estamos estudando a entrada dos fundos de pensão. Eles já se apresentaram. Há possibilidade de entrada de novos sócios e não há previsão de saída de ninguém. Há previsão ainda de abertura de capital da SPE (sociedade de propósito específico montada para gerir o empreendimento)
Quando a obra começa a ser feita? MEIRELLES: Ela tem que começar no máximo até outubro do ano que vem, por causa das chuvas na região. Isso significa que precisaremos ter a licença de instalação em tempo hábil para a obra se concretizar.
O senhor teme que haja demora na entrega dessa licença? MEIRELLES: Espero que não, porque a licença prévia não trouxe qualquer novidade insuperável.
É possível garantir à população ribeirinha que ela não será prejudicada? MEIRELLES: Se existe alguém que está bem informado no país no que diz respeito aos impactos socioambientais na região são os ribeirinhos e a sociedade local. Foram feitos estudos exaustivos, exposições e mais de 60 reuniões com todos, explicando caso a caso o que iria acontecer lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário