terça-feira, 11 de dezembro de 2007

E dois!


O Rio Madeira fica perto de Porto Velho, em Rondônia


Novamente o governo Lula consegue um deságio e uma queda grande no preço (-35%), no leilão de energia.

Após os pedágios das estradas federais e agora na energia, fica provado que o que esta em jogo na ação pública não é um debate ideológico, estatal ou privadas e sim um projeto que permita preservar o interesse público associado ao lucro razoável da empresa privada.

O debate é privataria ou modernização preservando o interesse da população. A marca do atual governo é forte e contrasta nitidamente com o que foi praticado no passado no Brasil. LF


Resultado do leilão faz governo rever para baixo preço futuro da energia

Há 13 anos sem grandes usinas novas, parâmetro eram as médias, diz especialista

Mônica Tavares e Gustavo Paul

O GLOBO

BRASÍLIA. Contrariando as expectativas de mercado, o preço da energia no país deverá cair no futuro, principalmente a produzida na Região Norte.
Essa foi a projeção feita ontem pelo presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, após o resultado do leilão da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira. Segundo ele, a diferença entre o preço fixado como teto e a tarifa final no leilão de ontem se deve ao fato de o país ter ficado 13 anos sem construir novas grandes usinas — Xingó (SE) ficou pronta em 1994. O parâmetro de tarifas dos últimos anos foi estabelecido com base em usinas médias, cuja energia custava muito mais.

O presidente da EPE destacou que o valor de R$ 78,87 por megawatt/hora ofertado pelo consórcio Madeira Energia já inclui o valor da transmissão da eletricidade, quase R$ 25, o que, na prática, reduz o valor ofertado para R$ 53,78.

— O futuro é muito mais promissor do que eu esperava.

O novo modelo do setor elétrico começa hoje — disse Tolmasquim.
Para o professor Nivalde Castro, da UFRJ, a redução de preço é uma boa surpresa e muda o paradigma: — Se esse preço não fosse factível, eles não o colocariam, o que mostra que o valor da energia da Amazônia pode ser bem inferior ao que todos imaginavam (o temor era devido à distância e a custos ambientais).

Hubner: TCU estava certo ao querer R$ 113 no edital O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, admitiu que o resultado o surpreendeu e jogou por terra sua previsão de que a energia no Norte seria necessariamente mais cara do que a produzida no Centro-Sul. Para o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, o leilão foi um “marco histórico” e mostra que a licitação baseada no menor preço rende frutos à sociedade.

O preço teto da hidrelétrica de Jirau, a outra usina do Rio Madeira, que será leiloada pelo governo em maio do próximo ano, também será menor do que o anteriormente previsto.

Ela terá capacidade de 3.300 megawatts (MW). Hubner disse que os cálculos terão que ser revistos. Ele admitiu ainda que o Tribunal de Contas da União (TCU) estava correto na análise técnica, ao propor um valor mais baixo do que R$ 122 por MW. O TCU queria cerca de R$ 113 como teto.

— Por isso, a decisão final é política mesmo, chega uma hora em que você tem que ter um aspecto discriminatório.

Eu não poderia correr o risco de o preço inicial do leilão assustar demais os investidores, e isso poderia até impedir que outros chegassem no fim do processo, como a CPFL e a Endesa — argumentou o ministro.


CORPO A CORPO

IRINEU MEIRELLES

‘Negociamos, temos estudos bem feitos’

BRASÍLIA. O presidente do Consórcio Madeira Energia, Irineu Meirelles, explica que o deságio de 35% na tarifa oferecida no leilão de ontem foi fruto de uma grande engenharia técnica e financeira. O grupo, sugere o executivo, vai disputar a concessão da hidrelétrica de Jirau e as linhas de transmissão que interligarão o complexo ao resto do país.

Para ele, questões ambientais e sociais não representam mais problema, e o próximo passo é abrir o capital da futura empresa que tocará a obra

Gustavo Paul

O GLOBO: Como vocês conseguiram colocar um preço tão baixo? IRINEU MEIRELLES: Estamos apostando nisso há muito tempo. O grupo que está conosco é experiente, é do ramo, e conseguiu chegar à viabilização desse negócio de tal forma que a gente acha que pode cumprir o cronograma e entregar no preço correto. Negociamos com fornecedores, com parceiros, com o mercado financeiro, temos estudos ambientais bem feitos e bem estr uturados.

Há viabilidade econômica para manter esse projeto com a tarifa tão baixa? MEIRELLES: Os estudos foram bem feitos e para isso está-se investindo há mais de seis anos. Já investimos R$ 150 milhões no risco.

Se não saísse esse leilão, esse dinheiro seria jogado pela janela.

Vocês vão com o mesmo apetite para o leilão de Jirau? MEIRELLES: Não podemos prever isso agora.

Estamos cuidando agora de Santo Antônio, e depois vamos cuidar de Jirau.

Vocês vão entrar na licitação das linhas de transmissão que partem de Santo Antônio? MEIRELLES: Podemos entrar. Estamos inclusive estudando.

A participação da Vale no consórcio seria acionária? MEIRELLES: Isso está sendo conversado.

Não somente com eles. Estamos estudando a entrada dos fundos de pensão. Eles já se apresentaram. Há possibilidade de entrada de novos sócios e não há previsão de saída de ninguém. Há previsão ainda de abertura de capital da SPE (sociedade de propósito específico montada para gerir o empreendimento)

Quando a obra começa a ser feita? MEIRELLES: Ela tem que começar no máximo até outubro do ano que vem, por causa das chuvas na região. Isso significa que precisaremos ter a licença de instalação em tempo hábil para a obra se concretizar.

O senhor teme que haja demora na entrega dessa licença? MEIRELLES: Espero que não, porque a licença prévia não trouxe qualquer novidade insuperável.

É possível garantir à população ribeirinha que ela não será prejudicada? MEIRELLES: Se existe alguém que está bem informado no país no que diz respeito aos impactos socioambientais na região são os ribeirinhos e a sociedade local. Foram feitos estudos exaustivos, exposições e mais de 60 reuniões com todos, explicando caso a caso o que iria acontecer lá.

Nenhum comentário: