sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Agora é caixa 2

A mídia anda pisando em ovos. A denuncia do "mensalão tucano", apesar de aguardada, provoca uma sensação evidente de mal estar nos jornais e nos seus comentaristas.

Para o Procurador geral a ação dos tucanos não foi crime eleitoral, nem caixa 2 nenhum; foi "ação criminosa" consistente em “Desvio de recursos públicos do Estado de Minas Gerais, diretamente ou tendo como fonte empresas estatais”; “Repasse de verbas de empresas privadas com interesses econômicos perante o Estado de Minas Gerais, notadamente empreiteiras e bancos, por intermédio da engrenagem ilícita” e “Utilização dos serviços profissionais e remunerados de lavagem de dinheiro”, operados, entre outros, por Valério e seus sócios, “em conjunto com o Banco Rural, para garantir uma aparência de legalidade às operações [...], inviabilizando a identificação da origem e natureza dos recursos”.

O Procurador afirma que o dinheiro desviado dos cofres públicos tinha a seguinte origem: "R$ 1,5 milhão da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais); R$ 1,5 milhão da Comig (Companhia Mineradora de Minas Gerais); e R$ 500 mil do Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais)."

Para o Procurador não há crime eleitoral e o esquema é o mesmo que do outro "mensalão".

Para o jornal Valor isto não é assim. A sua manchete sobre o assunto é: "Caixa 2 do PSDB mineiro chega ao Supremo".

Segundo o artigo "O mensalão mineiro teria o objetivo de arrecadar dinheiro para campanha e o petista em obter apoio em votações no Congresso, mas o procurador evitou comentar essas diferenças entre os "mensalões".

Na mesma linha, Merval Pereira, no Globo, afirma: "O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, não quis deixar clara a diferença na denúncia oficial, pois não indiciou ninguém do valerioduto mineiro por crime eleitoral, o que caracterizaria o chamado caixa dois, que é na verdade do que se trata o caso dos tucanos."

Em eco ou fazendo coro, Eliane Catanhede insiste: "Mares Guia e Azeredo, ex-presidente tucano, são os pais do esquema Marcos Valério de financiamento de campanhas, que na era petista evoluiu para compra de apoio parlamentar ao governo."

Na mesma linha foram as declarações dos principais lideres tucanos. Para eles caixa 2 é uma coisa e "mensalão"é outra. É a linha da defesa do PSDB.

Pois bem, a questão do desvio do dinheiro público é o centro da peça do procurador. Ele deverá evidentemente provar e a justiça determinará. Eduardo Azeredo é inocente até a decisão judicial. Como o são todos os denunciados em ambos esquemas.

Eduardo Azeredo e Delubio Soares, acusados pelo mesmo "crime" não são tratados pela mídia da mesma maneira. Os jornais não berram em favor de uma CPI, nem utilizam os epítetos de ladrão, nem criminoso.

Delubio foi expulso do PT, Azeredo não foi expulso do PSDB e é defendido pelo seu partido. Ambos rejeitam os termos das acusações. PT e PSDB reconhecem, mais ou menos explicitamente, que os esquemas financiavam as campanhas eleitorais, eram caixa 2. No caso do PT sem desvio de dinheiro público; no caso do PSDB, que as empresas estatais eram autônomas. Trata-se da palavra dos partidos, dos acusados e dos seus advogados contra as acusações da procuradoria. Pode se acreditar ou não, a justiça dará a palavra final.


Mas a mídia, ela não tem partido...

Luis Favre

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