sábado, 17 de novembro de 2007

'Reivindicação de candidatura própria não é capricho'

ENTREVISTA
Valter Pomar: secretário de Relações Internacionais do PT
Candidato à sucessão de Berzoini defende ainda reaproximação do partido com movimentos sociais e legendas de esquerda

Clarissa Oliveira - O Estado de São Paulo

Representante da corrente Articulação de Esquerda, Valter Pomar disputa a presidência do PT com base na tese de que o partido deve se reaproximar dos movimentos sociais e garantir seu espaço no governo. À frente da Secretaria de Relações Internacionais da sigla, ele aparece entre os apoiadores do governo de Hugo Chávez na Venezuela e é árduo defensor da candidatura própria do PT à Presidência em 2010.

Nesta entrevista ao Estado, ele diz que a cabeça de chapa não é “um capricho”, pelo qual o PT deve se desculpar, mas um direito adquirido. Além disso, ele avalia que a sigla tem uma postura de “freio de mão puxado” na relação com o governo.

Qual a diferença entre a sua candidatura e as outras?

A maior diferença é política. Nossa candidatura pode sustentar com convicção que, no período em que o Campo Majoritário foi hegemônico, nos opusemos não só aos métodos, mas à política desse grupo. No segundo turno, caso eu não esteja, apoiaremos qualquer outro que tente derrotar o Berzoini. Acreditamos que o plano de trabalho da nova direção é vencer a eleição do ano que vem, reaproximar o PT de movimentos sociais e partidos de esquerda, aumentar a influência no governo Lula e implementar resoluções do 3º Congresso.

Na polêmica do terceiro mandato, o sr. defendeu um “terceiro mandato do PT”. Por que a candidatura própria em 2010 é fundamental?

A reivindicação de candidatura própria não é um capricho. Corresponde a uma história que construímos nos 27 anos em que encabeçamos o campo democrático no País. Não vencemos sozinhos, mas protagonizamos esse campo. O PT vai ter candidato em 2010.

Se um partido da base quiser a vaga, deve concorrer por sua conta?

Não há problema se partidos hoje no governo disputarem com candidato próprio no primeiro turno. No segundo, estaremos unidos contra o campo conservador. A base do governo não vai ter um só candidato. Terá dois, talvez mais. A polêmica que se abre contra o direito do PT de ter candidato é autoritária. Por que não podemos ter candidato?

O que se coloca é que não há um nome forte no partido.

Temos algo muito mais importante que um nome. Temos um partido. É gozado que a mesma imprensa que critica o (Hugo) Chávez não percebe que uma das grandes qualidades da esquerda brasileira é que ela tem pelo menos um grande partido.

Chávez é exemplo a ser seguido?

A esquerda mundial e latino-americana deixou para trás a idéia de modelos. Cada país tem seu povo, sua história e suas opções. O que não podemos aceitar é interferência externa nessas opções. O destino da Venezuela o povo da Venezuela decide. Nossa opinião é que, na história da Venezuela, o governo mais comprometido em melhorar a vida do povo é o de Chávez. Nunca houve tantos processos de consulta popular.

Falta isso no Brasil?

Nós defendemos na reforma política a democratização do Estado, a ampliação dos mecanismos de consulta à população. Isso é usual nos Estados Unidos, na Europa. Aqui, é visto com medo, como se consultar a população em plebiscito fosse uma ameaça à sacrossanta ordem.

O Congresso do PT apoiou um plebiscito para reestatizar a Vale do Rio Doce. Qual é a sua opinião?

A Vale tem que voltar a ser pública. O que foi feito com a Vale é um assalto aos cofres públicos. E a propaganda segundo a qual a empresa cresceu nesses últimos anos é a confissão de culpa.

Como o sr. avalia a relação entre o PT e o governo?

Ela envolve dois movimentos. O primeiro é a defesa frente aos adversários externos. O segundo é disputar os rumos do governo contra setores conservadores da coalizão. Se o partido se limita ao primeiro, ele abre mão de fazer o governo avançar para a esquerda. O Lula, em muitas campanhas, afirmou que, se pudesse fazer uma coisa, seria a reforma agrária. O governo adotou muitas medidas em favor dos assentados, mas, na reforma agrária, deixou a desejar. A quem cabe mobilizar a sociedade e pressionar o governo? Só trabalhadores rurais? Cabe também ao PT.

O PT virou a extensão do governo?

Não existe no PT uma política de subalternidade em relação ao governo, mas há um freio de mão puxado. O partido é pouco protagonista. Dou como exemplo o episódio do terceiro mandato. Foi errado o Devanir Ribeiro abrir essa polêmica sem falar com o partido. Este deveria ter imediatamente chamado o deputado à ordem.

Mesmo que o sr. não vá ao segundo turno, a disputa ajuda a firmar essas posições no PT?

Estou convencido de que serei melhor presidente que meus oponentes. Além disso, as posições que o PT tem tomado nos últimos meses significam uma inflexão à esquerda, um reconhecimento de que aquilo que eu e outros defendemos estava correto. Nosso esforço tem sido colocar temas políticos. Por exemplo, como atuar para ganhar a eleição de 2008.


Quem é:
Valter Pomar


Militante de esquerda desde os anos 70, atuou no PC do B e entrou para o PT em 1980.

Economista, formado pela USP, e jornalista especializado em artes gráficas.

Autor de A Armadilha da Dívida, lançado em 2002.

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