sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Assim não dá

Entre os piores na educação
Brasil é o 52º de 57 países no ensino de ciências, mostra teste mundial com alunos de 15 anos


Demétrio Weber
BRASÍLIA - O GLOBO

O Brasil foi reprovado no maior exame mundial de ciências para estudantes de 15 anos, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2006, divulgado parcialmente ontem. Os jovens brasileiros de escolas públicas e particulares ficaram na 52ª posição entre 57 países e territórios, com nota média de 390 pontos, na escala até 800. Dito de outra forma: o país teve o sexto pior resultado.

A Finlândia lidera o ranking. Dos outros cinco países latino-americanos incluídos — Chile, Uruguai, México, Argentina e Colômbia —, apenas a Colômbia ficou atrás do Brasil.

A prova é feita por amostragem. No Brasil, foram avaliados 9.345 alunos de 390 municípios, em todos os estados. O critério para participar é ter 15 anos e cursar pelo menos a 7asérie do ensino fundamental (8º ano, onde o ensino fundamental dura nove anos). Por causa de diferenças na amostragem, a margem de erro varia em cada país. A brasileira é de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos. Assim, o Pisa classifica o Brasil entre a 50ae a 54aposição.

Mesmo nações com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aparecem à frente do Brasil no Pisa 2006. É o caso da Indonésia, que ocupa a 107aposição no ranking anunciado esta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O IDH mede a qualidade de vida da população e, pelo primeira vez, deu ao Brasil o status de país de alto desenvolvimento humano, na 70ap os ição, entre 177 países e territórios. A Indonésia está no grupo de médio desenvolvimento.

— Não estamos bem, temos que melhorar.

Há muitos alunos atrasados no Brasil, mas isso não é desculpa. Ter alunos atrasados é um problema, e o Pisa capta isso — disse o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação, Reynaldo Fernandes.

Aos 15 anos, um estudante brasileiro deveria cursar a primeira série do ensino médio.

Mas, por causa da repetência e do abandono escolar, 32,7% dos alunos de ensino fundamental apresentavam atraso de duas séries ou mais em 2005, segundo o Inep.

— O problema é a formação de professores.

Temos uma deficiência grande em matemática, química, física e biologia. E a maioria das escolas não tem ou não usa laboratórios. O ensino se torna muito livresco e chato — disse o diretor de Popularização da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia, Ildeu de Castro.

Prova foi aplicada a 400 mil estudantes

De 149 mil escolas públicas de ensino fundamental no Brasil, apenas 6% tinham laboratório de ciências e 14% contavam com salas de informática em 2005.

— Se queremos entrar no mundo desenvolvido, não podemos ignorar a importância do aprendizado de ciências desde o ensino fundamental — diz o diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), Jorge Werthein, ex-representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Mais de 400 mil estudantes dos 57 países fizeram o Pisa no ano passado, com foco em ciências. O teste avalia também a capacidade de leitura e os conhecimentos de matemática — a cada ano, dois terços do tempo são dedicados a uma dessas disciplinas. Os resultados das outras provas serão divulgados na terçafeira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Pisa foi realizado pela primeira vez em 2000, com foco em leitura. A segunda edição, em 2003, teve ênfase em matemática. Apenas 42 países participaram, embora nem todos tenham sido incluídos no ranking. Em 2000, o Brasil ficou em último lugar nas três disciplinas, entre 31 nações. Em 2003, foi o penúltimo em ciências, à frente da Tunísia, entre 40 países.

No Pisa 2006, a Tunísia continuou atrás do Brasil. Os demais países que tiveram desempenho inferior eram estreantes: Colômbia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão. Apenas oito dos 57 participantes tiraram nota abaixo de 400 pontos. Na Finlândia, os estudantes atingiram média de 563 pontos, seguidos pelos de Hong Kong (542) e Canadá (534). As 57 nações participantes respondem por cerca de 90% da riqueza mundial.

O presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Arquimedes Diógenes Ciloni, defende a valorização da carreira de professor do ensino básico. Reitor da Universidade Federal de Uberlândia, ele diz que é preciso tornar o magistério nas escolas públicas mais atraente.

— Para recuperar a escola pública, temos que formar bem os professores. E pagar salários decentes — afirmou Arquimedes.

O Plano de Desenvolvimento da Educação lançado em abril pelo presidente Lula fixou metas até 2021. O objetivo é que os alunos brasileiros atinjam, às vésperas do bicentenário da Independência, o rendimento médio dos alunos da OCDE no Pisa de 2003.

Nenhum comentário: