quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Mercado interno deve "proteger" o Brasil

Fabiano Cerchiari/Valor
Mendonça de Barros: crescimento da demanda interna e contas externas sólidas deixam o país mais blindado


Sergio Lamucci - Valor


O impacto da desaceleração americana sobre a economia brasileira tende a ser modesto. Como uma recessão nos Estados unidos não está no cenário dos analistas econômicos, eles não esperam efeitos negativos relevantes sobre a atividade, o saldo comercial ou o fluxo de investimentos estrangeiros diretos. Uma grande vantagem é que hoje a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) está baseada fortemente na demanda interna, como lembra o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros. Ele afirma ainda que as contas externas estão muito sólidas, com o país devendo terminar o ano com reservas na casa de US$ 180 bilhões. "Essa combinação deixa o país mais blindado aos efeitos da desaceleração americana", diz ele.

Mendonça de Barros acredita que os EUA não deverão entrar em recessão. Para ele, o mais provável é que o país cresça algo como 1,5% a 2% em 2008, um ritmo que deixa a desejar, mas longe de ser uma tragédia. Segundo ele, enquanto a crise do setor imobiliário rouba dinamismo do PIB, a desvalorização do dólar estimula as exportações americanas, que têm crescido a taxas robustas. "Se não houver um cenário de derrocada nos EUA, o ajuste da balança comercial americana é uma boa notícia, fundamental para o equilíbrio de longo prazo." Mendonça de Barros avalia que o Brasil deve crescer cerca de 5% neste ano. Em 2008, uma taxa de até 4,5% lhe parece bastante factível, mesmo com a desaceleração americana.


De Nova York, o economista-sênior para a América Latina do Dresdner Kleinwort, Nuno Camara, também não acredita que a menor expansão dos EUA vá provocar estragos no crescimento brasileiro. "O setor externo tem contribuído negativamente para a alta do PIB há seis trimestres", diz ele, referindo-se ao fato de que as importações aumentam a um ritmo bem superior ao das exportações. "Quem tem puxado a economia é a demanda doméstica, com destaque para o investimento", afirma Camara, que espera um avanço do PIB de 4,7% em 2007 e de 4,4% no ano que vem. A aposta numa expansão levemente mais fraca em 2008 se deve à expectativa de que o consumo cresça a um ritmo um pouco menor e não à desaceleração americana, explica ele.


Camara tampouco teme um recuo do fluxo de investimentos estrangeiros para atividades produtivas em função dos problemas nos EUA. "Pelo contrário, o Brasil pode ficar numa posição ainda mais favorável para receber esses recursos. Com a economia americana perdendo fôlego, o país pode ficar relativamente ainda mais atraente, porque tem uma perspectiva de crescer acima de 4% por três a quatro anos seguidos." Ele prevê investimentos estrangeiros diretos de US$ 32 bilhões neste ano e de US$ 35 bilhões em 2008.


Mendonça de Barros também aposta que a desaceleração americana não vai encolher o fluxo dos investimentos externos. "Isso é uma questão ligada à questão interna da atividade, às oportunidades de investimento."


O impacto do menor crescimento americano sobre as exportações brasileiras também não deve ser dos mais significativos. A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, lembra que os EUA têm hoje bem menos importância como destino das exportações brasileiras. De janeiro a setembro, a maior economia do planeta recebeu 15,8% das vendas externas do país, um percentual bem menor que os 25,7% registrados em 2002. Nesse período, países como a Argentina e a China ganharam espaço. Para ela, a economia global deve crescer 4,8% em 2008, menos que os 5,2% esperados para este ano, mas ainda assim um ritmo forte. A China, por exemplo, deve continuar a avançar a uma velocidade expressiva, mantendo elevados os preços de commodities exportados pelo Brasil.


Alessandra prevê um saldo comercial de US$ 35 bilhões em 2008, abaixo dos US$ 41 bilhões projetados para este ano. Mesmo com um superávit menor na balança, Alessandra aposta que o câmbio vai continuar a se valorizar em 2008, fechando o ano que vem em R$ 1,65, abaixo do R$ 1,70 previsto para 2007. Segundo ela, o saldo comercial um pouco mais modesto deve ser compensado pelas entradas expressivas de recursos pela conta de capitais, como o fluxo de investimentos estrangeiros diretos e para aplicações em bolsa e em renda fixa.


Esse cenário relativamente róseo pressupõe que os EUA não vão passar por uma recessão severa. Se houve uma retração mais forte da principal economia do planeta, que reduza significativamente o ritmo de expansão de países como a China, é certo que o Brasil acabaria por sofrer mais, pagando o preço em termos de crescimento mais fraco e exportações menores, como avalia Alessandra.

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