sábado, 17 de novembro de 2007

Todos contra Hillary

SÉRGIO DÁVILA


"HILLARY CLINTON" aparece fantasiada de noiva, na festa que ela e "Bill" dão para os outros pré-candidatos democratas à sucessão de George W. Bush. Conforme os convidados vão chegando, todos elogiam sua fantasia de "bruxa" -inclusive o marido. Até que aparece alguém de "Barack Obama". Quando tira a máscara, é o próprio senador, que diz que não gosta de esconder quem ele é de verdade.
Foi o quadro de abertura do programa humorístico "Saturday Night Live" há duas semanas e é um dos clipes políticos mais vistos no YouTube ainda hoje. Resume o espírito da oposição norte-americana atual, refletido nos dois últimos debates democratas: todos contra a ex-primeira-dama.
Esse espírito dominou o debate de anteontem, em Las Vegas, o que levou a pré-candidata a dizer que o tailleur que virou sua marca registrada era feito de amianto e a citar o ex-presidente Harry Truman: "Se você não agüenta o calor, que saia da cozinha". Pois me sinto muito confortável na cozinha".
Não se deve subestimar a capacidade dos democratas de estragar tudo na última hora, vide a última eleição presidencial, aquela em que, sob acusações falsas de que tinha traído o país no conflito do Vietnã, o herói de guerra John Kerry foi batido pelo mesmo Bush que nunca pisou num front na vida.
Hillary ainda é a pré-candidata mais bem colocada nas pesquisas de ambos os partidos, bate o ex-prefeito republicano Rudolph Giuliani quando posta frente a frente e tem uma máquina arrecadadora imbatível, já com US$ 100 milhões. Mas começa a perder força.
A clara vantagem que exibia nos últimos meses está sendo corroída tanto por uma definição maior de quem será seu oponente como pelos ataques mais diretos que passou a sofrer no próprio partido. Esses são liderados pelo "bom moço" Obama, seguido pelo sulista John Edwards. Também há duas semanas, o senador negro deu entrevista em que sutilmente declarava guerra a sua colega.
O time de Hillary tentou usar a carta do gênero a seu favor, convocando até Bill Clinton para dizer que os homens haviam se reunido para atacar uma única mulher. A estratégia foi logo abandonada, pois pegou mal com as eleitoras, que viram uma indesejada demonstração de fragilidade.
Enquanto isso, o outro lado começa a tapar o nariz e a se unir em torno do "neoconservador" Giuliani, que até ontem era a favor da união homossexual e do direito da mulher de decidir sobre o aborto. O bolo na cereja foi o apoio recebido pelo televangelista ultraconservador Pat Robertson.
Não se deve, também, subestimar a capacidade dos republicanos de não largar o poder.


sdavila@folhasp.com.br

SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em Washington.

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