Verissimo: "Hoje, as redações parecem bancos"
Claudio Leal - Terra Magazine
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Quando comentava seu método de trabalho e o uso do computador para escrever romances, expôs sua teoria da máquina de escrever.
- Antigamente, as redações tinham máquinas de escrever. Era um barulho infernal. Tenho até uma teoria para explicar essa mudança da esquerda para a direita nas redações. Nos últimos anos, os jornais e as revistas brasileiras deram uma guinada à direita. Mas, quando comecei no jornalismo, todos nós éramos de esquerda. A gente aceitava o fato de ser direita quando era do editor pra cima. Hoje, é o contrário. Do editor pra baixo, os jornalistas preferem ser de direita.
O autor de O analista de Bagé e Comédias da vida privada complementa a teoria:
- Isso tem muito a ver com a mudança das máquinas de escrever para os computadores. Como as redações eram barulhentas e agitadas, os jornalistas se identificavam mais com os trabalhadores das fábricas. Hoje, com os computadores, as redações parecem bancos. Limpas, aquele silêncio... Sei que é uma teoria meio forçada...
Depois de sorrir, Luis Fernando Verissimo recebeu uma pergunta da platéia. Pedia que ele se definisse entre a esquerda e a direita.
- Gosto de pensar que sou um homem de esquerda. Tenho idéias de esquerda - respondeu Veríssimo.
Adiante, minimizou a importância da crônica na formação da opinião do leitor. "Eu detesto esse termo: 'formador de opinião'. A gente não faz a cabeça de ninguém. Quando a pessoa concorda com a crônica, é porque, na realidade, a crônica concordou com ela". De passagem, avaliou o governo Lula:
- Tenho muitas razões para criticar, mas a verdade é que o governo de Lula desagradou a todo o mundo, à esquerda e à direita. Ninguém imaginava que, em cinco anos, os bancos estivessem tão felizes. Mas decepcionou a direita porque não foi um desastre completo. Se formos ver, há avanços nessa área de distribuição de renda. Não é o ideal, mas continuo apoiando o governo Lula.
Na palestra, Verissimo falou ainda sobre o início de sua vida profissional, no Rio Grande do Sul, e a influência de seu pai, o romancista Érico Verissimo, em sua formação. Confessou seu descompasso com as tradições gaúchas:
- Em muitos aspectos, sou um gaúcho desnaturado. Não tomo chimarrão. E a última vez que montei num cavalo, não gosto de me lembrar. O cavalo também não.
Organizado pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa), o I Salão do Jornalista Escritor segue até domingo, 18 de novembro. Entre outros participantes, reunirá os jornalistas Carlos Heitor Cony, Zuenir Ventura, José Hamilton Ribeiro, Moacir Scliar, Ziraldo, Ignácio de Loyola Brandão e Juca Kfouri.
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