terça-feira, 16 de outubro de 2007

Imagem do Congresso desgastada

De acordo com o Sensus, 45% dos entrevistados defendem a unificação da Câmara e do Senado. Não querem o fechamento do Legislativo, mas consideram que tem muito parlamentar nas duas casas


Gustavo Krieger
Da equipe do Correio Braziliense

José Varella/CB
``Todas as vezes que o Parlamento foi fechado ou subjugado, nós tivemos ditadura``
Arlindo Chinaglia (PT-SP), presidente da Câmara
O desgaste político do Congresso já leva boa parte dos brasileiros a questionar a importância do Legislativo. Segundo a pesquisa Sensus/CNT, 23% são a favor da extinção do Senado e 19,2% gostariam de ver o fim da Câmara dos Deputados. Mais radicais, outros 12,6% defendem o fechamento das duas casas do Congresso. Apenas 25,8% se manifestaram pela manutenção do atual sistema.

Em outra questão, 45,3% se dizem a favor da unificação da Câmara e do Senado. A princípio, isso demonstra que a maioria dos brasileiros não quer fechar o Congresso, mas acha que há congressistas demais. Somadas, as respostas apontam para um processo de profundo desgaste da imagem do Legislativo na sociedade. O presidente da Câmara reagiu. Arlindo Chinaglia (PT-SP) disse que “não há democracia sem parlamento”. Segundo ele, “todas as vezes que o Parlamento foi fechado ou subjugado, nós tivemos ditadura”.

Em outro sinal de descrédito, aumentou o número de brasileiros para quem o voto deveria ser facultativo. São 58,9%, contra 56,4% que deram a mesma resposta em maio de 2005. De outro lado, 38,4% defendem a manutenção do voto obrigatório. Se o voto deixar de ser uma obrigação, muita gente vai ficar longe das urnas. Os que dizem que continuariam a votar sempre são 58,1%. Para 11,1% dependeria dos candidatos e 27,9% deixariam de votar.

Infiéis
A pesquisa revelou um resultado contraditório ao analisar a fidelidade partidária. Num primeiro momento, 48,7% dos entrevistados disseram que o mandato pertence ao candidato e apenas 38,3% responderam que ele é do partido. Mas na questão seguinte, 54,2% disseram concordar com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu a mudança de partido de parlamentares e ameaçou os infiéis com a cassação do mandato. “Isso significa que o eleitor votou no candidato e não no partido, mas não gosta que o seu deputado troque de legenda”, traduz Ricardo Guedes, diretor da Sensus.

A pesquisa também pediu que os entrevistados avaliassem a atuação dos principais partidos de oposição. O objetivo era julgar se DEM e PSDB são competentes fazendo oposição e se são realmente independentes do governo. Para 24,8%, a oposição é competente, mas ao mesmo tempo é conivente com Lula. Outros 17,8% aprovam a atuação dos dois partidos e não acreditam que eles sejam coniventes com o governo. Para 14,4% a oposição é independente, mas incompetente. Finalmente, há 10,9% que acusam Democratas e tucanos ao mesmo tempo de incompetência e subordinação ao Palácio do Planalto.

O Sensus também sondou a opinião pública sobre a possibilidade de mudar a Constituição para alterar as regras da reeleição. Apenas 12,3% dos entrevistados concordam com a idéia de que o presidente da República possa disputar um terceiro mandato. A maioria também rejeita a possibilidade de ampliar o mandato presidencial para cinco anos. Para 43,6% o mandato ideal é de quatro anos com reeleição. Outros 34,1% defendem o mandato único de quatro anos.


análise da notícia
Culpa dos “personagens”

O maior mal que políticos desonestos podem trazer ao país é fazer a população perder a fé na democracia. São inquietantes os números da pesquisa Sensus. Mais da metade dos entrevistados defende a extinção de uma ou até das duas casas do Congresso. Esse contingente é mais expressivo entre os brasileiros da Região Sudeste e com renda familiar mais alta. Há uma confusão entre os personagens dos escândalos e as instituições que eles representam.

O Senado não é só Renan Calheiros. A Câmara é mais que o conjunto de mensaleiros e sanguessugas. Muitas vezes, é verdade, o foco das notícias se concentra nos escândalos. É necessário, até para que eles sejam investigados até o fim. Mas há muito mais além deles.

O Congresso é fundamental para a democracia, inclusive por seu papel de fiscalização do Executivo. Enfraquecê-lo não interessa ao país. Por piores que pareçam nossos atuais representantes, a alternativa de ficar sem eles é pior. E sempre nos resta a próxima eleição para melhorar as coisas. (GK)

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