Empresários cobram propostas do 'Cansei'
Sergio Lamucci e Caio Junqueira
A ausência de um caráter mais propositivo afasta algumas lideranças empresariais do "Cansei", o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros. Contando com o apoio de entidades como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), o "Cansei" tem sido acusado de elitista e até de golpista por políticos próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva - o próprio Lula mostrou descontentamento com a iniciativa, ainda que sem citá-lo explicitamente.
O empresário Newton de Mello, ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), avalia que o movimento é legítimo. Num país com inúmeros problemas como o Brasil, é natural que haja esse tipo de iniciativa, que ele qualifica como um "desabafo". Mello, no entanto, não pretende juntar-se ao "Cansei", por preferir movimentos que tenham um caráter propositivo. "Eu prefiro aqueles que apresentam propostas e sugestões. Se não, eles tendem a cair no esquecimento." Mello afirma não ver nenhum traço golpista no movimento e tampouco acredita que haja um caráter partidário.
O empresário Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, diz considerar positivo que a sociedade se mobilize, principalmente num país em que há muita corrupção, desigualdade de renda e pobreza como o Brasil. "A democracia se fortalece quando há mobilização da sociedade." Ex-assessor especial de Lula, Grajew diz não ver nenhum elemento golpista no "Cansei".
Para ele, porém, o ideal é que movimentos de protesto sejam acompanhados de propostas. Isso ajudaria inclusive a afastar suspeitas de golpismo. Em vez de apenas dizer "cansei disso", seria importante também deixar claro o que se quer fazer, com propostas claras e detalhadas, traçando ainda uma estratégia para sua implementação. Assim como Mello, Grajew não pretende aderir ao "Cansei". Ele também é um dos participantes mais ativos do movimento "Nossa São Paulo: outra cidade".
A pecha de elitista e golpista parece afastar empresários da iniciativa. Algumas associações empresariais procuradas pelo Valor informaram preferir não se manifestar sobre o "Cansei". Uma história ilustra bem as incertezas quanto à conveniência de participar do movimento. A pedido de um cliente, uma grande assessoria de imprensa de São Paulo procurava, na quarta-feira, alguns jornalistas para tentar medir as repercussões de uma eventual adesão ao "Cansei". Duvidava-se se seria ou não uma boa estratégia atrelar a imagem da empresa à iniciativa. Leia mais no jornal Valor (para assinantes)
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