Por que votar no Cristo
Zuenir Ventura
Tendo a concordar com os que acham que o Cristo Redentor não tem cacife estético para figurar entre as sete maravilhas do mundo moderno. Falta-lhe status artístico, alegam alguns puristas.
Objeto de estimação, gosta-se dele mais pela sua carga simbólica do que pela importância, digamos, escultural.
Dos 20 candidatos, já que as Pirâmides do Egito, a única maravilha antiga a permanecer de pé, são hors-con cours, só conheço outros quatro monumentos: Torre Eiffel, Estátua da Liberdade, Coliseu de Roma e Alhambra.
Mas pelo que já vi em fotos e vídeos, há concorrentes mais credenciados, se o critério de escolha fosse realmente o valor artístico e a beleza.
Acontece que não é, a começar pelo fato de que não se hierarquiza uma obra de arte pelo sufrágio popular. Nenhuma delas se tornará artisticamente mais maravilhosa porque conseguiu ficar entre as primeiras colocadas. Tem gente tomando ao pé da letra a bem bolada idéia do milionário suíço Bernard Weber de anunciar cabalisticamente em Lisboa as 7 novas maravilhas no dia 7 do 7 de 2007. Outro dia, por ter proposto uma espécie de voto útil em favor do Cristo, Artur Xexéo provocou a irritação de leitores, que o compararam a deputado — aos piores, bem entendido.
Na verdade, não se trata de uma iniciativa cultural, mas de marketing, algo mais para paredão do “Big Brother” do que para uma eleição constitucional (aliás, alguém já sugeriu que Alemão, o ganhador do último BBB, conclamasse os seus 35 milhões de “eleitores” a votarem no Cristo). Todo mundo se encontra em campanha. Os chineses, com pouco acesso à internet, estão sendo levados a usar os seus 460 milhões de celulares para descarregar votos na Grande Muralha, não para reafirmar as qualidades artísticas dessa construção, mas porque a vitória resultaria num bom negócio turístico. Os dirigentes comunistas estão apelando inclusive para a reparação de uma “injustiça” de 2.000 anos, quando os gregos deixaram de fora da lista a obra de engenharia mais famosa da China.
No Brasil, calcula-se que uma boa colocação para o nosso candidato injetará US$ 271 milhões na economia do Rio e criará 250 mil empregos. A votação do Cristo Redentor tem crescido nas últimas semanas, mas ainda não é suficiente para colocá-lo entre os sete primeiros lugares. Os números oficiais só serão anunciados no último momento, mas estima-se que ele precise de uns 15 milhões de votos, e ainda não conseguiu nem a metade. De minha parte já decidi. Vou votar no nosso cartão-postal, mesmo admitindo que, como criação humana, como escultura, ele não é nenhum David de Michelangelo.
Mas, em compensação, dele se tem o que nenhum dos concorrentes pode oferecer: uma vista que — isso ninguém discute — é uma maravilha. Fonte jornal O Globo
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