quarta-feira, 13 de junho de 2007

Lula em travessia direta para 2014


Aos céticos, que não crêem um segundo na autenticidade da candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República; aos desconfiados, que esperam ver para crer o presidente Lula apoiar um candidato de partido aliado em prejuízo do PT; aos realistas, que avaliam com extremo cuidado a existência de algum plano na sucessão para quem, hoje, tem traço nas pesquisas de opinião; aos apressados, que pretendem definir já os múltiplos rumos políticos da ministra Marta Suplicy, do Turismo; a todos, enfim, principalmente aos petistas mais envolvidos nas conspirações preliminares da sucessão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se permitiu dar um único sinal sobre seus planos: voltará a pleitear a Presidência da República em 2014. Isto todos entendem como certo.


Um sinal apenas, mas muito importante, pois é referência para o comportamento do presidente daqui em diante, incluindo as suas opções, seja no PT ou na aliança, de 2008 e 2010. Isto influencia, cabal e completamente, a trajetória de todos os seus aliados interessados nas sucessões municipais, estaduais e da Presidência da República.


Sendo candidato em 2014, e a prevalecer intacta sua impermeabilidade aos intermináveis escândalos de corrupção no governo, o presidente Lula deve evitar compromissos com a vitória em 2010.


Ganha consistência a hipótese de que seu desejo é escolher, se for do PT, um candidato fraco, porém bem construído, a quem dará apoio incondicional. Seria, segundo este raciocínio que se desenvolve entre petistas, um "candidato para perder", mas com dignidade, com uma votação que garantisse a veracidade da candidatura.


É na tese do candidato fraco, porém politicamente bem construído, que entra a ministra Dilma. O presidente estaria apostando que, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), sobre cujas obras a chefe da Casa Civil vem pregando em todas as regiões do país, e a veiculação concomitante de uma propaganda intensa, seria possível erguer uma candidatura básica, do nada, estando neste nada uma ausência total de votos em qualquer tempo.


Restaria, porém, como incógnita desta opção, a aceitação do PT. Quem conhece as idiossincrasias do partido acha difícil que Dilma seja aceita como candidata, mas tudo, absolutamente tudo vê-se como possível para o presidente.


Ninguém se dispõe a enfrentar a conveniência


A ex-prefeita e agora ministra Marta Suplicy tem apoio do PT e é quem aparece melhor situada nas pesquisas e, portanto, com perspectivas concretas de ajudar a candidatura Lula em 2014 se estiver em qualquer um dos principais postos em disputa. Para a Prefeitura de São Paulo, Marta lideraria, junto com o tucano Geraldo Alckmin, com 35% hoje, segundo pesquisas. O governo paulista e a Presidência seriam opções melhores para a ministra, que já foi prefeita e estaria à espera de novas oportunidades, segundo desejo manifestado por seu grupo político.


Mas as conveniências de Marta podem esbarrar nas conveniências de Lula, e é uma incógnita a consideração que o presidente atribuirá a esta candidatura à luz de seu projeto 2014. O fato de não ter dado a Marta ministérios politicamente mais encorpados, como Educação e Cidades, pode ser indício de alguma decisão preliminar. Deve haver também uma razão para tê-la colocado no Ministério do Turismo, onde um orçamento de R$ 360 milhões contrasta com os R$ 15 bilhões que administrou anualmente na Prefeitura de São Paulo.


Outros nomes do PT vêm sendo mencionados, ora como opções de candidatura a prefeito de São Paulo, ora como candidatos a governador e até como novidade para a presidência, como o do ministro Fernando Haddad, o governador Jaques Wagner, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Porém, antes de fazer parte das cogitações, precisam romper o traço nas pesquisas de opinião. Por enquanto, quem ainda entra nas avaliações é o senador Aloisio Mercadante, mas de uma maneira cautelosa: ele teria um recall de 15%, mas teria que ser politicamente revigorado depois que seus mais próximos assessores de campanha fizeram ruir sua credibilidade com os escândalos de 2006.


A candidatura Marta à Presidência, na análise de peritos do PT, não seria a tal "candidatura para perder". Entretanto, todos os candidatos, do PT aos aliados, sabem que, para ganhar, é fundamental o apoio de Lula, e está aí o paradoxo.


O presidente não afasta a possibilidade de apoio a um candidato de partido aliado, PSB, PMDB, ou PDT, mas, à luz do plano 2014, os políticos teriam que aprovar antes o fim da reeleição. Como os candidatos em melhores condições de disputa pela oposição, os governadores José Serra e Aécio Neves (PSDB) já se manifestaram a favor do fim da reeleição, não se vê, por enquanto, obstáculos aos planos presidenciais para daqui a sete anos. Leia a integra da coluna de Rosangela Bittar no Valor (para assinantes)

Nenhum comentário: